Ele
nunca fora caseiro; antes passava em casa apenas para trocar de roupa —
resmungava um desaforo à esposa enquanto se encharcava de perfume. Os antigos
olhos tristes, distantes na direção da porta que ele logo atravessaria para
voltar apenas na manhã seguinte. Agora fingia não notar que ela escondia na
sala sua melhor roupa, disfarçava no vestido a colônia de alfazema; cuidando
resignadamente dos mínimos detalhes: — querido, se precisar do penico me chame.
E ela de sono tão profundo bem no quarto ali de lado: — se eu não escutar,
Lucinha acode, que ela tem o sono mais leve. Na manhã seguinte também fingia
não perceber seus olhos inchados, o nervosismo das mãos, a solicitude gratuita,
o amor eterno...
—
Querido, dormiu bem!? — E afirmava ele com a cabeça, o olhar distante; o lençol
escondendo a mancha de urina.
Ultimamente
nem a filha mais acordava, com o mesmo sono pesado da mãe — na hora do almoço
vislumbrava seus belos olhinhos vermelhos, que não mais o miravam de frente,
mas sempre procurando algo para fazer.
Também
fingia não notar o jeito cúmplice das duas; no passado: tão distantes — agora
altivos, mais de irmãs. Não ligava para o estacionar dos carros na frente da
casa, antes bem calma — pois sabia que inevitavelmente elas já estavam dormindo
no quarto ao lado: e quão inútil seria chamá-las.
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