segunda-feira, 4 de novembro de 2024

"Campanha de Pré-Venda do livro "Coisas Engraçadas de Não se Rir", de Raymundo Netto (promoção por tempo limitado)

Campanha

PRÉ-VENDA DO LIVRO

COISAS ENGRAÇADAS DE NÃO SE RIR 

do escritor RAYMUNDO NETTO


 

Vem aí, Coisas Engraçadas de Não se Rir, terceira coletânea de crônicas de Raymundo Netto.

Participe, garanta o(s) seu(s) exemplares e contribua com esse projeto!

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PROJETO

Coisas Engraçadas de Não se Rir, terceira coletânea de crônicas de Raymundo Netto, apresenta a comédia do cotidiano, por meio de cerca de 40 textos, em sua maioria humorísticos (“de não se rir...”), versando sobre o ridículo da nossa sociedade, aquilo que empurramos para debaixo do tapete ou que fingimos não ver.

Histórias que nunca acontecem comigo ou com você, mas com nossos vizinhos, primos, amigos ou mesmo com aqueles(as) cujo nome nunca de nos lembrarmos... Para quê, né?

Em formato 14x21cm (fechado) e 120 páginas, o livro traz ilustrações do quadrinista e cartunista GUABIRAS.


SELO DE CONTRIBUIÇÃO

Adquirindo esse livro, não apenas ele será SEU, mas também só se concretizará GRAÇAS A VOCÊ!

APENAS aqueles(as) que contribuírem em nossa campanha de PRÉ-VENDA, independentemente da faixa de contribuição escolhida (a seguir), receberão seus exemplares com a dedicatória do autor e o seguinte SELO DE CONTRIBUIÇÃO:

        HORA DO VAMOS VER!

Adquira o(s) seu(s) exemplar(es) através das 4 faixas de PRÉ-VENDA abaixo e pague com o PIX*:


CHAVE-PIX: livrodoray@gmail.com

 

(*) IMPORTANTE: após efetuar o pagamento, envie PARA O E-MAIL livrodoray@gmail.com o comprovante de pagamento e mais os seus dados (nome, endereço completo e CEP) para o envio do(s) seu(s) exemplar(es).

 

AGORA, ESCOLHA UMA DESSAS FAIXAS DE PRÉ-VENDA A SEGUIR E GARANTA JÁ O(S) SEU(S) EXEMPLAR(ES):


FAIXA BRONZE 1 – R$ 60,00 (preço exclusivo para Fortaleza)

·  Aquisição de cada 1 (um) exemplar de Coisas Engraçadas de Não se Rir (autografado e com Selo de Contribuição Personalizado)

 

FAIXA BRONZE 2 – R$ 65,00 (preço exclusivo para outros municípios cearenses que não Fortaleza e outros estados que não o Ceará)

·   Aquisição de cada 1 (um) exemplar de Coisas Engraçadas de Não se Rir (autografado e com Selo de Contribuição Personalizado)

 

FAIXA PRATA – R$ 1.000,00

·  Aquisição de 5 (cinco) exemplares de Coisas Engraçadas de Não se Rir (autografado e com Selo de Contribuição Personalizado) e MAIS 1 (uma) apresentação, palestra ou bate-papo* (1h de duração) com o escritor para grupo de pessoas reunidas pelo contribuinte (escritores(as), funcionários(as) de empresas ou órgãos de qualquer natureza ou fim, bibliotecários(as), mediadores(as) de leitura, alunos(as) de cursos de Letras e/ou escolas públicas/privadas, clubistas literários, entre outros(as) interessados(as).

(*) sem outros custos, exclusivamente para o município de Fortaleza. Para outros municípios cearenses ou demais estados brasileiros, o(a) interessado(a) arcará(ão) com alimentação, transporte e hospedagem. A data do referido evento/ação deverá ser previamente acordada mediante agenda do autor.

 

FAIXA OURO – R$ 2.500,00

Aquisição de 10 (dez) exemplares de Coisas Engraçadas de Não se Rir (autografado e com Selo de Contribuição Personalizado) e MAIS 1 (um) café da manhã ou almoço* exclusivo com o autor (1h de duração), em local escolhido exclusivamente pelo autor e com a sua conta paga**.

(*) faixa restrita ao município de Fortaleza. A data do referido evento deverá ser previamente acordada mediante agenda do autor.

(**) caso o(a) interessado(a) deseje levar acompanhante, responsabilizar-se-á pelo pagamento da conta do(a) seu(ua) convidado(a).

 

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AlmanaCULTURA (blog): raymundo-netto.blogspot.com

 

SOBRE O AUTOR

Raymundo Netto, jornalista, editor, quadrinista, produtor cultural e de conteúdo audiovisual, publicou sua primeira obra em 2005, o romance Um Conto no Passado: cadeiras na calçada (ganhador do I Edital de Incentivo às Artes da Secult-CE). Em 2012, publicou seu primeiro livro de contos, Os Acangapebas, ganhador do Edital de Incentivo à Literatura da Secretaria Municipal de Cultura de Fortaleza (SecultFOR) e do Prêmio Osmundo Pontes da Academia Cearense de Letras. Em 2015, lançou, pelas Edições Demócrito Rocha, seu primeiro livro de crônicas, Crônicas Absurdas de Segunda, ganhador do Edital de Incentivo às Artes da Secult-CE e finalista do Prêmio Jabuti de Literatura (2016), e, em 2019, Quando o Amor é de Graça! (Editora Demócrito Dummar), também de crônicas, contemplado pelo Edital de Incentivo às Artes da Secult-CE. No prelo, além de Coisas Engraçadas de Não se Rir (crônicas), temos Todos os Fantásticos!, uma seleção de contos.

Durante esse período, publicou outras obras infantojuvenis, como A Bola da Vez (EDR, 2008, com ilustrações de Giovanni Muratori), A Casa de Todos e de Ninguém (EDR, 2009, com ilustrações de Tarcísio Garcia), Os Tributos e a Cidade (EDR, 2011, com ilustrações de Daniel Dias), Boto Cinza Cor de Chuva (EDR, 2013, com ilustrações de Raisa Cristina), A Galera se Liga em Cidadania (EDR, 2014, com ilustrações de Karlson Gracie), além de ensaios, como Cronologia Comentada de Juvenal Galeno (Secult, 2010), Centro: coração malamado (SecultFOR, 2014), Padre Cícero: o filme (EDR, 2017), Nilto Maciel: perfil biográfico (EDR, 2017), entre outros.

Mantém o blog AlmanaCULTURA desde 2019 e é cronista do caderno “Vida & Arte” do jornal O POVO desde 2007.

Foi coeditor das revistas literárias CAOS Portátil: um almanaque de contos e Para Mamíferos e editor da Maracajá (suplemento literário comemorativo da FDR, 2019).

Desde 2005, editou e/ou organizou cerca de 200 títulos, e criou e coordenou cursos a distância, juntamente com a Universidade Aberta do Nordeste da Fundação Demócrito Rocha (FDR), como Cidadania ParticipAtiva (coordenação de conteúdo de Thaís Holanda), Formação de Mediadores de Leitura (coordenação de conteúdo de Lidia Eugênia Cavalcante), Curso Básico de Histórias em Quadrinhos (coordenação de conteúdo de Daniel Brandão) – projeto ganhador do Troféu HQMIX, maior premiação do segmento na América Latina –, Quadrinhos em Sala de Aula (coordenação de conteúdo Waldomiro Vergueiro), Formação de Mediadores de Patrimônio (coordenação de conteúdo de Cristina Holanda), Literatura Cearense (coordenação de conteúdo de Lílian Martins).

Organizou e participou de obras, como: Antologia HQ: quadrinhos para sala de aula (FDR, 2018), História das Histórias em Quadrinhos no Ceará (FDR, 2018), Álbum Fortaleza Ilustrada (FDR 2020), Almanaque Itapipoca 200 anos (FDR, 2023), entre outras.

Coordenou, argumentou, roteirizou e/ou codirigiu os documentários: História das HQs no Ceará, Padre Cícero: o filme, A Fortaleza da Cultura e Praia de Iracema: uma história de amores.

Desde 2012, atua na Fundação Demócrito Rocha. Hoje, como gerente de criação de projetos.

 

EXPEDIENTE

Coisas Engraçadas de Não se Rir, de Raymundo Netto

Formato: 15 x 21cm

Nº de Páginas: 120 pg

Capa: Dhara Sena, Raymundo Netto e Welton Travassos

Ilustrações da Capa e Miolo: Guabiras

Organização e Coordenação Editorial: Raymundo Netto

Projeto Gráfico: Dhara Sena, Raymundo Netto e Welton Travassos

Revisão: Mayara Freitas

Designer: Welton Travassos

Editora: Fundo de Quintal








segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Entrevista COMPLETA de Miguel Araújo com Raymundo Netto sobre a Coleção NOVA Terra Bárbara


ENTREVISTA PARA MIGUEL ARAÚJO PARA

O CADERNO “VIDA& ARTE” DO JORNAL O POVO

EM VIRTUDE DO LANÇAMENTO DA COLEÇÃO NOVA TERRA BÁRBARA

(06.10.2024)

 

1. EM PRIMEIRO LUGAR, GOSTARIA DE SABER O CONTEXTO DO LANÇAMENTO DESSA NOVA TERRA BÁRBARA. COM QUE PROPÓSITO SURGIU ESSE PROJETO?

Em 2025, a Coleção Terra Bárbara completa 25 anos de sua primeira edição, na época, concepção e coordenação de Lira Neto. A Coleção Nova Terra Bárbara surgiu com o propósito de ser uma edição comemorativa desses 25 anos, dando continuidade ao objetivo da coleção, que é reconhecer, valorizar e promover a diversidade cultural, definida por meio de linguagens artísticas, múltiplas identidades e expressões culturais, democratizando o acesso ao conhecimento e reconhecimentos de personalidades cearenses – nascidas no Ceará ou que, mesmo nascidas em outros estados, tiveram no Ceará o seu campo maior de atuação e/ou que aqui deixaram seu maior legado – nos mais diversos âmbitos e/ou linguagens artísticas, como: literatura, dança, teatro, música, artes visuais, política, ciência, arte, cultura, religião, economia etc.

“Terra Bárbara” é uma homenagem do Lira Neto, editor das EDR na época, ao jornalista e escritor Jáder de Carvalho – sendo dele um dos primeiros cinco perfis publicados em 18 de maio de 2000 –, em menção ao seu homônimo poema que em seus versos nos diz: “Na minha terra,/ as estradas são tortuosas e tristes/ como o destino de seu povo errante

 

2. QUAIS SÃO AS DIFERENÇAS OBSERVADAS NESTA NOVA COLEÇÃO EM RELAÇÃO À ANTERIOR?

Em minha apresentação da Coleção, escrevi que a sua grande novidade, ao nos referirmos a um produto editorial brasileiro, talvez seja a sua continuação, mesmo decorridas mais de duas décadas.

A diferença maior aqui se dá na concepção do projeto gráfico, em seu formato, ainda pocket (de bolso), contudo, acreditamos, mais elegante, e na inserção de subtítulos à obra, ampliando o apelo e atrativo ao(à) biografado(a).

Tentamos até orientar algumas mudanças no conceito da própria formulação de texto, mas considerando a liberdade de escrita e de método de cada autor(a), deixamos livres essa produção, logicamente, conduzindo durante o processo de edição e em acordo com os(as) autores(as) algumas dessas mudanças.

 

3. QUAIS SÃO OS DESTAQUES DESTA NOVA COLEÇÃO EM SUA ANÁLISE?

São 10 os novos títulos da Coleção:

·       Narcélio Limaverde (Natercia Rocha)

·       Adísia Sá (Luiza Helena Amorim)

·       Henriqueta Galeno (Natercia Rocha)

·       Juvenal Galeno (Raymundo Netto)

·       Alba Valdez (Keyle Sâmara de Souza)

·       Emília Freitas (Alcilene Cavalcante)

·       José Alcides Pinto (Carlos Vazconcelos)

·       Suzana de Alencar Guimarães (Carmen Débora Lopes Barbosa)

·       Gerardo Mello Mourão (Rodrigo Marques) e

·       Francisco José de Abreu Matos (Mary Anne Medeiros Bandeira)

 

Quando da concepção dos títulos da nova Coleção, fiz questão de assegurar um número equitativo entre homens e mulheres biografados(as), o que fizemos. De acréscimo, desta vez não intencionalmente, o número de biógrafas superou o número de biógrafos: 7 mulheres e 3 homens.

Todos os títulos se referem a novos(as) biografados(as), embora conhecendo a Coleção, acredito que alguns dos mais de 60 perfis biográficos publicados até hoje poderiam e mereciam, sim, um novo olhar, uma revisão da atualidade e até por outros(as) biógrafos(as).

Adísia Sá, a única biografada ainda viva, já teve uma biografia publicada pela própria autora, a jornalista Luiza Helena Amorim, mas desta vez, segundo a autora, traz um novo olhar sobre a história de Adísia, “um novo relacionamento com as fontes históricas, com os fatos, com os modos de contar uma vida”.

Estreia nessa fila, Narcélio Limaverde, o grande homem do rádio, em seu primeiro perfil biográfico, de autoria de Natercia Rocha. Narcélio, em janeiro de 2025, completará 3 anos de sua passagem.

É também de autoria de Natercia o perfil de Henriqueta Galeno, uma das grandes novidades da Coleção, saindo de seu papel de guardiã do pai para o de feminista e grande promotora da literatura e da cultura cearense na criação e na resistência na manutenção da Casa de Juvenal Galeno, equipamento cultural vinculado à Secult-CE, a meu ver, o mais legítimo centro cultural do Ceará.

Emília Freitas, de autoria de Alcilene Cavalcante, com o subtítulo “a rainha sem rosto”, é outra inserção obrigatória nessa coleção. Ela que é autora de A Rainha do Ignoto (1899), primeiro romance fantástico brasileiro, atualmente estudada nacionalmente por diversos(as) pesquisadores(as), mas que até hoje ninguém conseguiu sequer uma imagem da autora.

Gerardo Mello Mourão, cearense pouco conhecido pelos(as) leitores(as) cearenses, mas que chegou a ser indicado ao Prêmio Nobel, vem pelas mãos de Rodrigo Marques, em uma biografia bem ao estilo “romance”.

O “poeta maldito” José Alcides Pinto chega merecidamente na Coleção por meio de Carlos Vazconcelos, que nos apresenta esse que é sem dúvida um dos mais prestigiados e valorosos nomes da nossa literatura contemporânea.

O perfil de Francisco José de Abreu Matos, o criador do projeto “Farmácias Vivas”,  grande cientista e botânico brasileiro, que se vivo fosse estaria em 2024 completando seu Centenário, é escrito por Mary Anne Bandeira.

Susana de Alencar Guimarães teve sua biografia lançada de forma independente por sua sobrinha-neta Carmem Débora Barbosa. Desta vez inclusa na Coleção NOVA Terra Bárbara, merecidamente, por sua história estar vinculada diretamente a Demócrito Rocha e ao jornal O POVO. Ela, a quem Rachel de Queiroz chamava de “madrinha”, embora tivessem praticamente a mesma idade, participou ativamente na revista Ceará Ilustrado, no suplemento Maracajá (única mulher a figurar no retrato do “grupo Maracajá”, que reunia os modernistas cearenses, em 1931) e dos primeiros anos do jornal O POVO, fosse como escritora (cronista, poetisa) ou como crítica literária, de cinema e das artes plásticas.

Alba Valdez é outra personagem feminina que, por meio de Keyle Sâmara Ferreira de Souza, não poderia mais ficar de fora da Coleção. A escritora foi a primeira mulher a ingressar na Academia Cearense de Letras, sendo membro também do Instituto do Ceará e fundadora da Liga Feminista Cearense.

Um personagem que inaugura quase tudo que conhecemos na literatura produzida no Ceará é Juvenal Galeno, o que nos faz estranhar que, em 25 anos, não tenha sido ainda motivo de nenhum perfil biográfico da Coleção. Virá desta vez, escrito por mim.

 

4. VOCÊ ATUA COMO EDITOR E TAMBÉM COMO BIÓGRAFO. QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS DESAFIOS DE LIDAR COM ESSAS FRENTES?

O trabalho do editor é quase sempre ingrato. Editar seja o que for é colocar-se na condição de juiz, é incorporar a tomada de decisão, de escolhas. Isso, editar é escolher. Um bom editor pode, naturalmente em consenso com o(a) autor(a), dar luz ao texto, trabalhar graficamente para realçá-lo na obra, torná-lo uma leitura agradável, sedutora. Para isso é preciso ter sensibilidade, afinidade com esse “bicho-livro”, aproximar-se da intenção do(a) autor e do conceito da Coleção que, por si só, tem a difícil tarefa de cair no gosto de um público heterogêneo, de faixas etárias distintas, de graus de instrução distintos. O livro tem que ser saboroso de ler e deve ter o poder de reter nosso(a) leitor(a), e isso não é missão apenas de quem escreve, mas de quem o edita.

 

5. QUAIS SÃO OS DESAFIOS RELACIONADOS À ESCRITA BIOGRÁFICA E QUAIS OS CUIDADOS NECESSÁRIOS?

Um dos maiores desafios da escrita biográfica é manter a objetividade, o olhar crítico e não se deixar sucumbir à heroicização da personagem biografada (nem a sua vilanização), principalmente quando se conviveu muito de perto ou se tem grau de parentesco ou amizade com ela. E não vou dizer que nessa Coleção não tenha acontecido isso em maior ou menor intensidade: aconteceu também. Aproximar-se do outro(a), revivê-lo, adentrar um universo, a princípio desconhecido, para compreendê-lo pode mexer com a cabeça das pessoas. Claro, não é possível entender a realidade da personagem sem nos aproximarmos do seu contexto social e histórico, pois corremos o risco de nos iludirmos com estereótipos, ideias e imagens distorcidas de seu tempo até pelo(a) próprio(a) autor(a). Risco maior é o de usar da ficção para preencher lacunas, o que também não é incomum no mercado editorial de biografias. Aliás, muitas dessas são as que mais agradam ao gosto popular.

É preciso ter um pouco de empatia com a personagem, mas quando se há um alto grau de identificação, é grande a chance de se tornar parcial demais.

A vigília de um biógrafo passa por duas fases importantes de sua construção: a da apuração (busca por fontes históricas confiáveis) e a da sua escrita. E nessa primeira fase estamos cientes de que é muito real a chance de não encontrar material suficiente para alcançar a personagem em todas as suas nuances, o que pode levar a especulações e suposições. Conforme a sua presença, algumas ainda podem ser bem-vindas para provocar um futuro estudo, uma análise a partir do conjunto documental, mas outras podem simplesmente desvirtuar a verdade pelo simples pretexto de “defendê-la”, “protegê-la”.

Outras vezes, encontramos durante o processo de apuração, histórias e dados fornecidos por conhecidos intelectuais, não necessariamente bons biógrafos, que não têm comprometimento algum com a realidade, porém, sendo há anos replicados erroneamente. O(A) autor(a) tem que ter condições e repertório suficientes para refutar essas informações “daninhas”.

Em alguns títulos da nossa Coleção, estimulamos que os(as) biógrafos(as) apresentassem ao(às) leitores(as) as divergências e contradições encontradas durante a sua escrita para que eles(as) próprios(as) pudessem construir seus questionamentos e interpretações a respeito.

Para escrever biografias faz-se mister saber que elas serão sempre limitadas por fatores vários. No caso da Coleção NOVA Terra Bárbara, não temos a pretensão da plenitude, até por que nos propomos apenas a desenvolver perfis biográficos, ou seja, queremos, sim, atrair nossos(as) leitores(as) para conhecer esses nomes, saber a respeito daquele(a) personagem, sentir desejo de ler suas obras, conhecer seus legados, compreender o seu tempo e espaço.

E, naturalmente, temos ciência de que, conforme novas evidências, como registros e documentos que podem aflorar de algum lugar inesperado, alguns pontos da história dessas personagens poderão ser elucidados e/ou acrescidos, o que nos faz ter a feliz certeza de que nenhuma biografia é definitiva!

 


 

"História de Não se Dar Passo", de Raymundo Netto para POVO


Moral da História: a vida é o exercício do perder!

Essa fábula ao inverso, nada mais é do que a minha tese de pós-torturado da faculdade da vida, na qual nem pedi a inscrição, mas onde tenho cadeiras obrigatórias desde o primeiro tapa, e onde jurei: até a morte hei de viver!

Pois sim, que não acreditem em mim, mas é mesmo a vida tão querida, entre as tantas coisas que desaprendi, um exercício de perdas! Desde a nascença, nada nos é tão certo quanto a perda, cosida, pontilhadamente, até de um dia perder a própria vida. Vai-se infância, saúde, amores, amigos, cabelos e, dolorosamente, os dentes. Tudo se vai e, acreditem pelamordedeus, rapidamente num cadinho.

Nesses meus quase sessenta anos, já perdi tanta coisa, deixei tanto para trás, nem vale a pena o sofrer por isso. Ciente da prática de perdas, tenho desapegado franciscanamente, exercitado ao máximo, a ponto de, às vezes, ficar me rindo da ausência do peso das tantas coisas que não tenho. Sempre disse: Posso perder tudo, menos as pessoas. E as tenho perdido mesmo assim, aqui e ali, sem jeito.

Por que é charmoso e chama a atenção, vez ou outra grito a todo pulmão: “Desisto!”, mas continuo insistindo nas mesmas burradas a perguntar-me por que as coisas não me hão de nunca dar certo.

Chego a ter dó de mim, um dó em si tão grande de fazer choro, não fora eu um nordestino, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e nascido embaixo de fogos de São Pedro. É quando me lembro da passagem literária, essa de Queiroz, d’Os Maias, em seu último capítulo, quando Carlos e o João da Ega, em uma conversa descontraída de meio da rua, conceituam os românticos de “indivíduos inferiores que se governam na vida pelo sentimento e não pela razão...” e resumem: “não vale a pena viver!” Explicam inda mais: “Não valia a pena dar um passo para alcançar coisa alguma na Terra, porque tudo se resolve, como já ensinara o sábio do Eclesiastes, em desilusão e poeira.” Aconselham: “Não saia deste passinho lento, prudente, correto, seguro, que é o único que se deve ter na vida.”

Os dois fanfarrões estavam convictos da descoberta da fórmula do mais seguro viver: “não fazer um esforço, nem correr com ânsia para coisa alguma... Nem para o amor, nem para a glória, nem para o dinheiro, nem para o poder...”

Foi quando avistaram, ao longe, uma carruagem. Atrasados que estavam, entreolharam-se e “os dois amigos romperam a CORRER desesperadamente pela rampa de Santos e pelo Aterro, sob a primeira claridade do luar que subia”.

E é assim, meus amigos, que corremos quando temos que correr, pois a vida não espera, mas das vezes temos que parar um pouco e apenas olhar o movimento das ruas, encantar-nos com as pessoas que nunca víamos chegar, ouvir histórias demorosas com amigos, arriscar novos pratos, novos sons, tomar banho de chuva e de sol, nunca dizer “nunca” nem “sempre”, pensar menos no passado e no futuro, viver mais o presente, ganhar o mundo, não pentear sempre os cabelos, nem fazer sempre a barba — trocar a cueca sempre é bom —, mas acima de tudo isso, fazer as pazes com a gente mesmo, não nos cobrarmos tanto e dar-nos a pequena chance de não nos perdermos, a não ser de amor.



 


 

sábado, 28 de setembro de 2024

"A Maior Casa da Cultura do Ceará", de Raymundo Netto para O POVO


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27 de setembro de 1836: data do aniversário de um dos maiores nomes da Literatura Cearense, o introdutor do Romantismo no Ceará, o poeta e abolicionista Juvenal Galeno. Fosse vivo, teria 188 anos.  Aquecida a cabeça pelo gorro turco, estaria balançando em sua rede branca a cofiar as barbas de nuvem, assistindo ao mundo através de sua mais absoluta escuridão. Talvez versejasse: “E o tristonho bardo cego,/que só pensava em morrer,/Por causa de tanto estímulo/Sentiu-se então renascer./E logo ditou mil versos,/Que não podia escrever.” Ao seu lado, caneta e papel em mãos, estaria uma das filhas, a dra. Henriqueta Galeno – que é como a chamavam –, a que nunca casou nem saiu daquela casa verde em cuja platibanda traz uma branca lira, assinalando para a sociedade cearense, sempre distraída, que ali se encontra, se não em corpo, mas em espírito, desde 1886, não o criador da poesia popular, que afirmar isso é uma asneira, mas aquele que em pleno século XIX foi o pioneiro de tudo o quanto se refere a nossa Literatura. Para mim, não há dúvida: o equipamento cultural mais legítimo do Ceará é a Casa de Juvenal Galeno, edificação de pelo menos 138 anos, constituída como centro de cultura desde 1919 – o poeta ainda vivo –, sendo na primeira metade do século XX parada obrigatória para todos(as) artistas, intelectuais e políticos nacionais e internacionais que por aqui aportavam, sendo eles(as) encantados(as) pelo lume do nome de Galeno e pela recepção daquela balzaquiana moça, sua filha, recém-formada em Direito, uma das primeiras mulheres do estado, dotada de elevada cultura, nascida naquela casa que a acolheria por 77 anos, até que, há 60 anos, em 10 de setembro de 1964, partiria ao encontro de seus familiares queridos, a quem tanto devotou sua vida... mas ela não seria apenas isso!

Henriqueta era inquieta, aguerrida, inconformada com diversos traços da sociedade naqueles anos de festejada Belle Èpoque. Entre eles, o machismo. Seria ela, então, sufragista, lutando pelo direito de voto das mulheres, defensora do divórcio – apesar de nunca ter casado “para não errar” – e umas das vozes que se aliaria ao nome da renomada feminista Bertha Lutz no II Congresso Internacional Feminista, no Rio de Janeiro, em 1931. Nos próximos anos, teria entrevistas suas publicadas em diversos periódicos do país e viajaria para o Sudeste, elevando a sua voz em nome do empoderamento feminino, da igualdade de tratamento e de oportunidades, clamando que as mulheres precisavam ganhar o seu sustento próprio para ter a sua independência e igual poder de decisão nos rumos de seu lar. Ao mesmo tempo, promoveria a Literatura produzida no Ceará, da qual era exímia conhecedora, e, como esperado, testemunharia sobre a vida e a obra do pai, tema constante nas rodas sudestinas, inclusive pela incansável divulgação realizada pela irmã caçula, não menos importante, Julinha Galeno, que após o primeiro matrimônio, passou a residir em outros estados e durante a vida inteira participaria e lideraria entidades litero-culturais na qualidade de poetisa e de colecionadora e promotora da obra do pai poeta.

Também em 27 de setembro de 1936, Henriqueta criaria a Falange Feminina, denominada, a partir de 1942, de Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno, instituição que, hoje, completa 88 anos de existência, criada para acolher e promover a literatura produzida por mulheres que sabiam encontrar apenas naquela Casa o incentivo e a esperança de se verem publicadas e respeitadas como artistas.

Em 2024, a Coleção Nova Terra Bárbara (EDR), organizada e coordenada editorialmente por Raymundo Netto, lança o perfil biográfico de Henriqueta, de autoria da jornalista e escritora Natercia Rocha, fazendo jus a essa mulher tão especial, explorando suas dores e conquistas, ressignificando e ampliando a importância da Casa de Juvenal Galeno, que é também a casa da mulher Henriqueta Galeno. Vivas!



Casa de Juvenal Galeno


Henriqueta, já idosa, cercada por algumas das associadas da 
Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno.
Logo atrás de Henriqueta, a sua maior discípula e futura gerente da Casa, 
a sobrinha Cândida "Nenzinha" Galeno.







 

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

"Vixit*", de Raymundo Netto para O POVO


Texto do livro Quando o Amor é de Graça!,

indicado para o Vestibular da UVA 2025.1

 

Depois do entardecer lunar, ante o mexerico das estrelas e de um sol cris, solavancava, como um galope à beira-mar, o suspiro derradeiro.

O pensamento distante se perdia e roto banhava-me da luz que chegava daquele olhar perdido na apatia do passado presente.

Como se manifesto de miasmas, sentia o corpo a se aquebrantar no aroma incandescente a inchar-se no escuro lembramento, como um corredor frio e senzalavrador de medos.

Senti febre de me roubar o ar. Na garganta, a palavra feria purulenta, amarga e frouxa como sangue, a correr venosa na pele, a se desmanchar em escamas, a me pedir: “Desista!”

Contudo, não sabia a voz que o mar cedo já me batia às paredes do coração, ensurdecendo a cada dia, conforme a indecisão infantil das marés e dos ocorridos, dos conflitos, dos aflitos, da insânia na soleira de minha porta.

Inapto ao mundo e à vida, lancei pedra na Lua, saltei por casas de angústias que não se calam. Devastei pessoas que traziam flores nas palmas das mãos e sorrisos nos dedos, mas que não suportaram viver por trás de paredes brancas que construí na esperança de pouso e de ninho.

Um dia, entre nuvens dos olhos e do céu, recolhi um desejo azul, tingindo de firmamento o rosto por debaixo da máscara de sorriso contraído e arranquei a pele e os espelhos para nunca mais encontrar-me outra vez. E a perdi. Perdi-me só, completamente.

Durante anos, sem sabê-lo, percorri o (meu) mundo à procura daquela imagem que cuidei destruir, mas nos sonhos, muitas vezes recortados e infrequentes, via com assombro aquele rosto que não o meu, e ainda tão mais eu.

Às noites, cansado de esperar a queda de meteoros, promovia deicídios, feria os rituais, deitava no teto, desenhava caricaturas por sobre espelhos, tentava ignorar aquele “ninguém” que estava sempre ao lado a acenar com a cabeça: “Agora!” “Agora, ainda não!”

Tinha que escolher. Havia tempos, escolhi por não escolher. Não podia fechar portas, nem janelas. Não gostava de multidões. Vozes demais entonteciam. Detestava a mentira. Não suportava posses, nem manias, nem soberba, muito menos ciúmes, certezas ou prisões. Queria ser livre de tudo. Ria e me condoía da hipocrisia do mundo.

Não queria crescer, suportar a vida ou a morte. Não queria sonhar e fundei o meu país no reino da ideia, vizinho ao da loucura, onde escrever foi a única forma que encontrei para gritar em silêncio.

 

(*) Vixit era uma expressão usada entre os romanos para anunciar a morte de uma pessoa com mais delicadeza. Corresponderia a “Ele(a) viveu”, no sentido de que “não vive mais” ou mais objetivamente: “Morreu”.

 




 

domingo, 1 de setembro de 2024

"Itapipoca: artes rupestres II", de Raymundo Netto para O POVO


A “Pedra Ferrada” de Itapipoca, em 1924, foi estudada por Carlos Studart Filho, em seu conhecido ensaio “A propósito de uma petrografia encontrada na fazenda do Mucambo em Itapipoca”, publicado pela Revista do Instituto do Ceará, no qual destaca: “Apresentavam-se traçadas com tinta vermelha [segundo Martius, uma mistura de barro vermelho com urucum e dissolvido em azeite] sobre a parede de uma gruta bastante ampla e representavam numerosos grupos de silhuetas em séries paralelas. [...] Além dos desenhos apontados [silhuetas humanas], distinguia mais, perfeitamente nítida e clara, a silhueta de um bovídeo a pastar; via-se também uma ave de longas asas abertas [...] E é para servir aos profissionais que queiram lançar mão das petrografias para seus estudos que deixo aqui assinalada a existência da Pedra Ferrada.”




Estrigas, décadas depois, observava que as pinturas tinham dimensões distintas, assim como seu estado de vivacidade. Algumas permitiam apenas perceber-se os traços de contorno que determinavam a forma. Em outras, porém, tanto o contorno como a forma estavam bem mais nítidas, destacando-se até pelo colorido diferenciado na rocha.

O pesquisador e artista, teórico em arte, em seu texto, impressiona-se com os detalhes ainda perceptíveis, destaca a “composição simples e de pureza transcendente”, assim como “a elegância e a graça que o artista – considerava-o(a) um(a) colega – captou e refletiu dentro do formalismo de atitude e de linhas reais do modelo”.





Cita duas figuras humanas que parecem estar dançando, “com flexão de pernas e braços, e a elegância com que o fazem lembrar as dançarinas de balé”. Outra figura humana, diferente das demais, têm traços que impressionam, podendo ser interpretado como “a representação de um ser misterioso, com caráter mágico ou feiticeiro, num flagrante exercício de suas atividades.”

Uma observação feita ainda no estudo de Studart Filho é que, ao contrário do que se pensava, essas pinturas não eram feitas às pressas e sem intencionalidade, pois deveria ser bastante custoso e difícil o preparo dessas “tinturas”, sendo necessário um tempo maior para essa execução. 

“Todos esses trabalhos – afirma Estrigas –, todos os seres ali pintados, parecem ter tido suas imagens apreendidas pelos sentidos do seu autor ou autores, em um momento vivo das atividades desses modelos, e, nessa atitude, foram aprisionados, em pintura, nas paredes da gruta. [...] Esses trabalhos de arte [...] constituem-se a nossa manifestação artística pré-histórica cujo local escolhido para a sua execução foram as paredes internas de grutas, e não restam dúvidas quanto às formas que representam e ao seu caráter de qualidade estética.” 

Ao final de seu estudo, após uma análise da escultura pré-histórica em alguns cachimbos de barro e de citar alguns outros sítios de pinturas e/ou gravações rupestres cearenses, conclui desejando que o estudo e a investigação sobre essas inscrições continuem e que se preservem os originais por meio de documentos, antes que os próprios efeitos naturais do tempo os eliminem.

Qual o sentido desses sinais e a quem devemos atribuir a sua criação? Seriam indicativos de tesouros enterrados ou submersos por flamengos ou jesuítas? Marcos de cemitérios, terrenos sagrados de antigos povos indígenas? Foram desenhados por grandes pajés para defender seu grupo de demônios, ou foram eles, os próprios demônios, os gnomos ou gênios fabulosos os seus autores, daí o terror que causavam (ou causam) a supersticiosos? Certo mesmo é que eles estão por aí, em muitos lugares no Ceará e fora dele, e merecem, sim, a nossa atenção. 

Para os mais curiosos, assistam: “Vestígios pré-coloniais cearenses”, de Roberto Bomfim e Augusto Bastos: https://www.youtube.com/watch?v=7Uo2tkrp85g&t=6s




Ilustrações: Nice Firmeza