domingo, 30 de novembro de 2025

"No Centro do Mundo: A Festa Literária de Ibiapaba", de Raymundo Netto para O POVO


Tive a feliz surpresa de ser um dos convidados para a estreia da primeira Festa Literária de Ibiapaba, a FLIIB, tendo como palco e cenário a antiga Aldeia Ibiapaba, depois Vila Viçosa Real da América, até ser denominada Viçosa do Ceará, uma das mais belas, aprazíveis e poéticas pretensões de moradia humana em nosso estado cearense.

Entre os dias 20 e 22 de novembro, dava-nos a impressão de que a sua população dobrara em número, acompanhando-a durante todo o dia enfileirada ou em grupos, entre artistas, livreiros, leitores, indígenas – principalmente os tremembés de Almofala –, professores e alunos das escolas privadas, públicas municipais e do IFCE-Tianguá tomando, com as bênçãos de Nossa Senhora da Assunção, a praça Clóvis Beviláqua – ele ali também nos assistia a meditar –, os quiosques e o teatro Pedro II nas mais diversas atividades GRATUITAS: rodas de leitura, serenata em calçada, feira de livros, cordéis e quadrinhos, bate-papo com escritores, oficinas, lançamentos de livros, cine-debate, contação de histórias, saraus, declamações, shows musicais, biblioteca móvel, percurso sentimental pela cidade e outras iguarias culturais refletidas nas cores de um casario antigo, não apenas cenográfico, como em Fortaleza, mas real, que além de encantar a festa e deixar tudo mais belo, ainda nos contava histórias, tradições e memórias.

Com o tema “Entre Montanhas e Palavras: a Ibiapaba em Prosa e Verso”, se deu por promoção da Secretaria de Turismo e Cultura do Município, com apoio do Governo Federal, via Política Nacional Aldir Blanc, e com outros importantes apoiadores, como a Câmara Cearense do Livro, BNB, Sesc, Bece, Secult, SEBP, IFCE etc. Tudo devidamente orquestrado pelo competente secretário historiador Gilton Barreto – que me outorgou, há alguns anos e guardada com carinho, a Comenda General Tibúrcio –, com a grata e acertada aprovação do prefeito Eurico Fontenele Arruda. Na curadoria, escritores: Renato Pessoa e Léo Mackellene.

Tive o privilégio de ser convidado para dividir uma mesa com a premiadíssima escritora Marília Lovatel, não podendo eu deixar de aproveitar a oportunidade e lançar luz ao nome do saudoso prof. Juca Fontenele, autor das “Viçosalianas” que me apresentaram a essa “Eldorado cabeça-chata”. Também ali, passei raspando quase como oração nas paredes do casarão de 175 anos do querido farmacêutico Felizardo de Pinho Pessoa, cujo filho, o Césinha, memorialista sentimentalíssimo, ainda tive o prazer de encontrar.

Tomei excelentes cafés em frente à praça General Tibúrcio, jantei no restaurante Silvestre, visitei a Casa de Licores do seu Alfredo Miranda, agora Museu Orgânico do Sesc, e, no local onde antes funcionava a tradicional Sorveteria Bem-Me-Quer, soube mais a respeito da renomada cachaça Viçosa Real, da família de Clóvis Mapurunga, artesanalmente fermentada e destilada em alambiques de cobre e maturadas em barris de madeiras nobres. Para quem aprecia destilados, é uma experiência imperdível.

Saí de Viçosa maravilhado, certo de que essa foi a maior, a mais original e a melhor festa literária que tivemos em 2025. Não há dúvida de que todo o deslumbre ofertado espontaneamente por essa cidade-tesouro-patrimônio contribuiu para nos proporcionar esse efeito mágico mais que necessário para não deixar que nos esqueçamos do nosso propósito como agentes de cultura, guardiões de nossa história e memória, multiplicadores de nossas identidades para as atuais e futuras gerações.

Parabéns, FLIIB e a todos e a todas que a sonharam e presentearam o Ceará com o seu legado. Que venham a segunda, a terceira, a quarta...

 



 

Um comentário:

  1. Viçoso esse Raymundo Netto! Viscoso nem pensar; enxuto. Enxuto, reitero, não seco. Se ele sai, nós ficamos: ele maravilhado, nós maravilhados. E Viçosa se deixa maravilhar por merecimento. Parabéns, Dom Netto! Seja pela destilação dos olhos e outros que sentem, seja pela fermentação do coração que pulsa, Viçosa nos chega em palavras enxutas, destiladas e maturadas pela pena no cumprimento " do (...) propósito como agente(...) de cultura, ... ".

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