quarta-feira, 17 de julho de 2013

Coisas Engraçadas de Não se Rir XXVII: A Odisseia Masculina, crônica de Raymundo Netto para O POVO (17.7)


A esposa pergunta para o marido se ele prefere uma mulher muito bonita a uma muito inteligente. Ele, na ingênua sinceridade masculina, responde que nem uma nem outra, pois que ama tão somente a companheira. Nesta noite, mesmo sem entender o que mal disse, foi dormir, sem direito à janta, no sofá.
O homem é um abestado, e defende atavicamente o direito de sê-lo. Desde os paradisíacos tempos, quando o Senhor curtia o latifúndio, a caminhar ao vento brando do meio-dia, Eva, fruto de uma, dentre as 24, das costelas masculinas – antevisão bíblica da balança desfavorável feminina em tempos heteroafetivos –, já exigia de um Adão despreparado para causas matrimoniais: ou come ou desce! Ele fez os dois. Comeu a maça da noiva e desceu direto da Quinta da Boa Vista para o Complexo do Alemão.
Não se sabe, dentre tais costelas, qual originou a mulher: se das 14 “verdadeiras”, das 4 “flutuantes” ou das 6 “falsas”. Não há registro dessa classificação na época, nem tampouco se o Grande Engenheiro, e não médico, tinha, assim, qualquer noção anatômica ou experiência para empreender uma costelectomia exitosa – a tecnologia divina, sempre mais parecida, nos primeiros tempos, com bruxaria, deixa em nossos ímpios corações uma centelha de dúvida –, mas de uma coisa acordamos: Deus tem todo o tempo do universo, pressa nenhuma, e paciência de sobra.
A intrigante, a serpente kundalini, continuou a residir no idílio, só que agora tinha que arrastar-se por sobre seu ventre e reencarnar-se como vizinha, cunhada, amiga do peito e/ou colega de trabalho a se vingar dos filhos varões de Adão por toda a eternidade, usando, para tal, dos ouvidos receptivos da companheira insegura de si e de seu par, sempre crendo que merecia coisa melhor, coisa esta que homem nenhum do mundo um dia será.
A impossibilidade masculina de satisfazer as suas mulheres só é disfarçada pela truculência de alguns de seus representantes e, às vezes, das algemas sociais e financeiras, braceletes de luxo de algumas eleitas. Salvo esses casos, resta ao homem sábio apenas servi-las, atendê-las, acarinhá-las, amá-las sempre que puder e até desistir delas – há quem diga maior prova deste amor – quando perceber-lhes a frequência de dores de cabeça, a pele fria, a fala pouca – ou normalmente exaltada – e, principalmente, quando do cerrar das portas do mesmo olhar que, ao fuzilar, apaixona!



4 comentários:

  1. Ray, amigo, os homens são mesmo, todos, uns ABESTADOS! rsrsrsrs. O desconto q damos é p os poucos q possuem a sua inteligência e sensibilidade.
    Belíssimo texto! Ansiosa pela publicação impressa do "Coisas engraçadas de não se rir".
    Abraços costelísticos!

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  2. Izabela, ainda bem que (ainda) tenho amigas... Encoraja-me. rsrsrs Beijos parreirísticos.

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  3. Amei!O engraçado é que eu ri desde o começo do texto ao final. Fabuloso senso de humor!

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  4. Cleody, que bom. Um abraço literário para nós. rsrs

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