Nunca antes na história deste Brasil, quem sabe do
mundo, uma manifestação assim. Parafraseando o Chico, andavam, não como corpos,
mas sentimentos, explodindo aqui e acolá perante a despreparada pátria armada:
salve, salve-se! O movimento tem pé – uma ruma deles –, mas não “cabeça”, e
eles protestam. “Qual o motivo?”, alguém pergunta. “Isso, aquilo, aquilo
outro...” Parece até que não sabem: são TODOS e VÁRIOS os motivos. Dói em qualquer
canto, fica difícil apontar. Eles, os motivos, são velhos, desde trasanteontem,
mas não caducos.
Os partidos – não conheço nenhum que não traga em seus
quadros pelo menos uma reserva randômica de mau-caratismo – tentam adotar a criança,
pois é gorda e vota. Porém, ela os rejeita, rasga as suas bandeiras enjoadas de
TV, tapa os ouvidos às palavras de ordem doutros tempos que não mais têm
significados ou que perderam seu eco no pó de tanta promessa congelada.
Nos ônibus, é como se todos se conhecessem. Qualquer um
é “ser-manifestante”. Discutem, pensam diferente, é fato, entretanto, de uma
forma ou de outra o que dizem é: “não é ISSO que eu quero. Basta (ou algo
parecido), está tudo muito errado!”
Como sempre, em ambos os lados da linha de frente: oportunistas,
bandidos, desmiolados, babacas infiltrados e covardes aproveitam-se do muito de
gente para desrecalcar, pichar, quebrar, saquear, bater, gastar munição – até
com prazo de validade vencido. Acho ridículas as análises diárias sobre o
conceito de vandalismo, como se fora possível tomá-lo apenas para um lado ou
outro de tal linha.
Mas “O gigante acordou!”, é o que gritam as cartolinas.
“Brasil sem corrupção, a catástrofe social!”, “+ Pão – Circo!”, dentre tantas
outras.
Os nossos políticos, é certo, erraram. Confortáveis e
seguros de escaparem de tantas séries de abusos globais, desdenhavam e
criticavam a manifestação, mas agora que tiveram que recebê-la em seus anais,
discursam fervorosos a favor dos protestos, procurando, para não perder o
hábito, uma forma de tomar proveito da situação. Eles temem, estão inseguros, sofrem
junto – mas bem longe – com as gentes nas ruas: “Errei, confesso, mas quem
nunca errou que atire a primeira pedra!” E eles atiram!
Outros, ao contrário, mostram suas garras ainda mais
afiadas e se revelam, repetindo a mesma violência exposta em seus programinhas
sanguinolentos de TV. Destes, queremos guardar bem as palavras... Representantes
de si e de suas panelas partidas, filhos de uma democracia mouca e sanguessuga,
que se diz representativa quando está mais para “espetaculosa”, que nada deve
ao anônimo eleitor, e que aprende rapidinho, juntamente com a chegada das
chaves do novo automóvel e da residência de cobertura, a andar de mãos dadas
com o egoísta e insaciável capital, que rebola esmolas e prova a sua
incompetência na elaboração de cotas e bolsas assistencialistas, sem a menor
intenção de ousar e ir ao fundo do poço, raspar o lodo da deseducação, base do
crescimento tosco de nossa sociedade emergente, que promete mundos e fundos (os
nossos) em apoios e empréstimos a outros países, enquanto em seu quintal as
árvores estão a ponto de cair com um vento ligeiro de um be-erre-o-bró.
Um governo incapaz de garantir a chegada de recursos a
quem precisa, que não consegue calar a voz melodiosa da corrupção, que
desprestigia a existência humana em favor da máquina fa(e)bril dos interesses
mesquinhos do poder e phoder.
Não importa qual a bandeira, todas são justas e precisam
mesmo ter a sua vez: Educação, saúde, transporte público, segurança, justiça,
infraestrutura, mobilidade urbana, direitos humanos, reforma (que não seja
remendo) política, enfim, são tantos e inumeráveis os seus PECados que a dúvida foi plantada, e a ela o parlamentar não é nem
poderia ser imune.
Os políticos se alvoroçam, se coçam, se calam, ou
emergem de repente como “monstros da lagoa” para ludibriar o povo com
esperanças quatorzes de um velho candidato cheirando a leite e com queixo
grande de predador e carnavalesco tucano, forjando um passado glorioso de
mentirinha.
Ah, como eu espero e desejo que tal “gigante” tenha
mesmo acordado – embora não goste da sentença – e que não seja apenas mais uma
vez que ele tenha apenas se levantado para fazer aquele xixizinho...
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