“O povo é
que diz: jornal é O POVO”
(slogan adotado a partir de janeiro de 1976)
5 de janeiro de 1916.
Demócrito e Creusa Rocha recebiam Albaniza, a Izinha, filha primeira do casal.
Demócrito, na época telegrafista, morava com a esposa na casa de Maroca, sua
cunhada, e Virgílio Porto. Desde pequena, Albaniza demonstrava imensa afinidade
com o pai. Envolvia-se em seu braço e ouvia, em silêncio, as longas conversas
com os amigos e correligionários, assistindo aquilo que os demais leriam apenas
em seus artigos publicados, mais tarde, em jornal. Assim, aprendia a “ler” as
pessoas, a conhecer a sua natureza, pelo olhar, muitas vezes nem tão poético,
do pai. Também de Demócrito herdou a paixão musical, acompanhando a família em
audições de óperas ou de música popular, além dos serões litero-musicais da
Casa de Juvenal Galeno. Por outro lado, não interessava as prendas domésticas.
Nem costurar, bordar ou cozinhar. Adolescente vaidosa, gostava de vestidos e
perfumes. Não fosse apegada aos estudos como a irmã Lúcia, adorava ler romances
e sonhar.
Em 1929, Demócrito chegou
a casa e apresentou à família seu novo secretário e redator: um jovem magro de
olhos expressivos escondidos por óculos redondos. Era Paulo Sarasate, filho do
maestro Henrique Jorge. Bastava isso, Creuza já lhe tinha apreço. Um lanço de
destino despertava para Paulo e Albaniza, e, com pouco – e certa preferência da
futura sogra – firmaram namoro adornado de paixões comuns como a política e a
literatura. O pai dizia: “Casamento só depois que Izinha se formar”, o que se
realizou em 1936, no dia 3 de setembro, às 15 horas, na igreja do Coração de
Jesus do Rio de Janeiro, capital da República, onde Demócrito atuava na Câmara
de Deputados.
Na volta ao Ceará, o esposo
logo assumiria a carreira política, atuando como deputado (estadual, depois
federal) e governador – nesse período, ela assumiu a direção da Legião
Brasileira de Assistência (LBA). Ao seu lado, era atuante, cheia de convicções,
confidente, companheira de sua vida política e pública. Mas a rotina dos
bastidores obscuros da política, nos quais se revela a falta de limites da
vergonha e da ambição, o abalava. Momentos difíceis que culminaram em sua renúncia
ao cargo.
Paulo e Albaniza não
tiveram filhos. Assim, Lúcia e João Dummar “emprestaram” seus seis filhos ao
casal, em especial, o primogênito Demócrito Dummar, que foi, desde jovem, numa
espécie de ritual de passagem de família, preparado para assumir as rédeas de O POVO.
A união do casal durou
32 anos, encerrada após o falecimento do, então senador, Paulo Sarasate, em
junho de 1968, devido a uma embolia pulmonar pós-operatória.
No entanto, Albaniza
assumiria a presidência de O POVO
apenas em 1974, após a morte da mãe, embora atuasse como diretora superintendente,
reconhecendo e estimulando os colaboradores cuja liderança e competência lhe
eram notórias. Entendia ela que as pessoas é que faziam a diferença. Não raro,
em conversas com funcionários mais antigos do jornal, contam-me histórias de algumas
que por ele passaram, que ingressaram em funções menores e que, aos poucos,
foram conquistando posições mais elevadas e de maior responsabilidade na
empresa. Leal, também ela costumava demonstrar sua gratidão fosse como fosse,
muitas vezes contratando filhos, irmãos, amigos e parentes de colaboradores fiéis
ao jornal. Para ela, o grande termômetro desse trabalho podia ser verificado na
leitura da edição do dia de todos os dias de O POVO.
Segundo a jornalista Adísia
Sá, sob sua presidência, na vanguarda da imprensa nacional e na tentativa do
retorno à prática democrática, O POVO
foi “um dos precursores da abertura política no país. (...) espaços de opinião foram
ampliados e o jornal passou a exercitar o pluralismo como expressão do seu
cotidiano”. O movimento “Diretas Já”, por exemplo, alcançou vulto no Ceará por
meio de suas páginas.
Nunca se esqueceu de
sua infância, das dificuldades financeiras experimentadas pelos pais, das
restrições por conta do sonho paterno de construção de um grande jornal. O espírito
de Demócrito saltava nela: gostava de elogiar aqueles que acertavam, mas era dura
com quem errava. Repetia: “Não atacamos, combatemos; não bajulamos,
enaltecemos.”
O
POVO, no período
de sua presidência, passou a atuar no movimento de emancipação da mulher; desde
1974, consolidou a sua sede na avenida Aguanambi; em 1975, foi o primeiro
jornal do Norte-Nordeste a chegar em Brasília e comemorou o feito de ser o
maior parque gráfico da imprensa cearense e um dos maiores do Nordeste; inaugurou
duas emissoras de rádio – uma estação AM e outra FM; e, em janeiro de 1984,
lançou o “Jornal do Leitor”.
Albaniza, em 1985,
assinou o ato de criação da Fundação Demócrito Rocha e ainda lutou para
conseguir a concessão de um canal de televisão, o que lhe foi prometido, mas
não cumprido, na época, pelo presidente José Sarney.
Um dia, após sofrer a
fratura de uma costela, descobriu um câncer. Submeteu-se à cirurgia. Fez
quimioterapia. O seu corpo enfraquecia, alimentava-se por meio de sonda – só
aceitava a refeição que vinha de Messejana, feita pelas mãos da irmã Lúcia –,
respirava com apoio de um balãozinho de oxigênio, mas resistia, contando com a
companhia constante de Lúcia Maria e da sobrinha-neta-afilhada, ainda
adolescente, Luciana. Tudo menos internar-se! Não queria se afastar do seu
jardim – da casa da Aldeota –, gostava de estar entre as flores, apreciar-lhes
a beleza, pedir de empréstimo seus perfumes, que a aproximavam da infância
feliz e de seus quintais de brinquedos, canções e histórias.
Lindo texto. Parabéns!
ResponderExcluirAna margarida