Biblioteca
Pública do Ceará
28 de maio de 1894
"Ilmo. Sr. Secretário dos Negócios do
Interior
Em observância à ordem
expedida em ofício nº 511, tenho a honra de oferecer à Vossa consideração o
relatório da repartição a meu cargo:
(...) O pessoal da biblioteca
compõe-se do bibliotecário, de um amanuense e do porteiro.
O cargo de amanuense está
vago desde 9 de setembro de 1892 [dois anos]. (...)
Agora só tem o bibliotecário
e o porteiro, faltando quem os auxilie e os substitua em seus impedimentos. Já
reclamei, nesse sentido, em ofício à Secretaria de Negócios do Interior, mas
ainda não foram dadas as providências pedidas, as quais considero de maior
urgência.
A escrituração está em dia, e
regularmente feita em livros, devidamente enumerados e rubricados por mim.
(...)
Resta-me pedir-vos proteção
para esta valiosíssima instituição, infelizmente tão esquecida entre nós.
Desde a sua inauguração, em
25 de março de 1867, a Biblioteca apenas recebeu do Estado, então província,
uma pequena porção de livros para servir-lhe como que de alicerce. Daí por
diante, só doações do Gabinete de Leitura e dos particulares, de livros velhos,
contaminados pela traça, muitos quase imprestáveis, de que os doadores limparam
as suas estantes, ganhando, ao mesmo tempo, os louvores da meritória ação.
Além dessas dádivas, apenas
os relatórios, folhetos e publicações oficiais, remetidas pelas repartições
públicas e associações literárias. Mais, somente o Dicionário Universal de Larousse, de que serviu-se, em sua
administração, o presidente Caio Prado, e remetido, depois de sua morte, para a
Biblioteca. E as revistas, e uma ou outra obra, que dificilmente tenho obtido
por assinatura há quatro anos.
E, com a exceção dita,
nenhuma obra nova e importante, em nenhum dos ramos do conhecimento! Um atraso
de quase trinta anos, em todas as seções da Biblioteca, o que importa a
ausência de tudo quanto pensou-se, descobriu-se e escreveu-se nos tempos
modernos?
Assim, como esperar grande
frequência e aproveitamento? [no segundo semestre do ano anterior, 1893, aponta
a frequência de 2.134 pessoas que consultaram 1.430 obras]
No meu ver, pois a principal
necessidade da Biblioteca é a aquisição de obras novas mais notáveis de todas
as ciências e letras. Quando suas seções (...) possuírem as obras mais notáveis
da nova geração, estou certo de que a sua frequência será grande, e ninguém
contestará a sua utilidade, a realização de seus fins. [em outro relatório
enfatiza a missão da Biblioteca como “instrução do povo”]
Nada mais tendo a
acrescentar, concluo lembrando-vos as medidas que indiquei no meu último
relatório, pedindo-vos que desculpeis os defeitos desta ligeira exposição.
Saúde e
fraternidade
Bibliotecário
Juvenal Galeno da Costa e Silva,
em Relatório
dos Presidentes dos Estados Brasileiros.
(*) Em futuros relatórios, os mesmo problemas continuaram,
além de Galeno, talvez o nosso
bibliotecário maior no Ceará, brigar para que seja criado um sistema de
empréstimo de livros, além de um catálogo impresso de divulgação de acervo, pela
renovação de assinaturas, pela contratação de pessoal, por um serviço de
conservação e restauração do acervo e pela ampliação do horário de atendimento,
o que chama a atenção, primeiramente é o fato de "do Estado, então província," acho que o Ceará ainda se comporta muito como província, no entanto, muito tempo se passou, as questões levantadas pelo Galeno continuam pertinentes, assim como outras mais atuais, como a restauração física da nossa querida Biblioteca Pública Estadual Governador Menezes Pimentel... é triste ver como este instrumento publico é pouco valorizado inclusive por grande parte dos cearenses.
ResponderExcluirÓtimo achado Raymundo!
ResponderExcluirInfelizmente, me parece que a situação não mudou muito Brasil afora, exceto raras e boas exceções.
Saudações daqui de São Paulo, onde hora ou outra encontro relatos similares, como um postado em um blog: http://blogsdebiblio.wordpress.com/2013/06/24/as-bibliotecas-de-sao-paulo-1925-1945-por-fernando-de-azevedo/