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Foto: José Mendonça (engenheiro e irmão de escritor)
Desde
que começamos a divulgar a ausência de oferta das disciplinas de Literatura
Cearense I e II no curso de Letras da Universidade Federal do Ceará, o que é um
FATO, não nos interessando a situação exposta pela Coordenação do Departamento
de Literatura, mas as razões que levaram a ela – e que a coordenadora
juntamente com a direção da instituição certamente deverá tentar resolver –,
começamos a ouvir alguns indivíduos, inclusive do “meio”, dizerem que isso é
uma grande bobagem, que não existe razão para se falar em literatura cearense,
quiçá uma brasileira, ou que a boa literatura se sustenta sem precisar “dessas
coisas”. Pois bem, afirmo, categoricamente, que esses tais ou são muito
ingênuos, mal-intencionados ou uns babacas de carteirinha que não sabem o que
dizem nem para que lado se torce um parafuso.
Olhem,
que engraçado: o meu irmão, chegando ao aeroporto de Recife, encontrou, no meio
do amplo saguão, um quiosque-vitrine onde se lia “Leia Livros Pernambucanos:
Movimento em Defesa do Livro e do Autor Pernambucanos”. No interior do
quiosque, uma pequena mostra de sua produção.
Lembrando:
quando trabalhava na Secretaria da Cultura, perguntaram-me se poderia ir à
cidade de Granja, terra natal do padeiro Lívio Barreto, para lançar o seu
póstumo “Dolentes”, marco do simbolismo no Ceará. Fiquei eufórico pela
oportunidade de falar sobre o malfadado autor e apresentá-lo em seu próprio
berço. A maior parte do público nem sabia que livro era aquele e qual a sua
importância. Da mesma forma, deparo-me vulgarmente com a falta de conhecimento
dos alunos (e professores) dos cursos de Letras sobre autores locais. Entretanto,
impressiona-me ainda mais perceber o quanto eles ficam encantados quando
falamos sobre as “novidades” desta literatura que eles, julgam, deveriam saber.
Há esperança nos jovens desenvenenados!
Há bem
pouco tempo, a Universidade Federal do Ceará, esta mesma, numa ação inédita, elencava
títulos de autores cearenses para o vestibular. Como essa fábrica, a do vestibular,
funcionava bem, logo centenas e centenas de alunos os liam e queriam conhecer de
perto os seus autores: Pedro Salgueiro, Airton Monte, Angela Gutiérrez,
Natércia Campos, Eduardo Campos, Ana Miranda, Linhares Filho... Conheci esses
alunos nessa época. Percebia com entusiasmo a admiração desses jovens. Daí
compreendi o grande feito da Universidade: provara que era possível se ler a
produção literária local e, mais, se gostar dela! O vestibulando, ao encontrar
nossos autores, tinha os olhos brilhantes, emocionados. Tremia na hora do
autógrafo. Pedia aos colegas para que tirassem aquela foto.
O
mesmo, felizmente, acontece nas salas de aula da disciplina de Literatura
Cearense do escritor Prof. Batista de Lima, na Estadual, onde há anos ele
prioriza a leitura de autores cearenses vivos. Apresenta-os aos alunos,
distribui livros, convida para lançamentos, incentiva e os acompanha. É um
grande trabalho feito sem necessidade de holofotes, mas cujo resultado é assistido
e aprovado por quem reconhece a importância do gesto de nosso Batista. Também
na UECE, a Profa. Sarah Diva Ipiranga arrasta diversos alunos na peregrinação
em busca de nossos autores esquecidos, como quase todos o foram por muito tempo
e ignorância. Assim também posso dizer das professoras e escritoras Aíla
Sampaio e Hermínia Lima e, felizmente, tantos mais.
Do
nosso lado, aplaudimos programas como o “Papo Literário” da TVC, sob o comando
da Landinha Markan e Mônica Silveira, que promove e divulga os escritores e
suas obras, independentemente de sua notoriedade social. Caso raro. Também, há
algum tempo, a professora, radialista e grande leitora, Lílian Martins,
entrevista com habilidade, competência e amor os autores cearenses, provocando-os
e divulgando o melhor de suas obras no “Autores e Ideias”, da FM Assembleia. O “Bazar
das Letras do SESC”, programação mensal cujo entrevistador, e também escritor e
leitor crítico, Carlos Vasconcelos, abre um espaço valoroso de divulgação de
autores cearenses por meio de um bate-papo acolhedor, sempre acompanhado pelo
“Abraço Literário”. O “Templo da Poesia”, movimento iniciado pelo poeta Italo
Rovere e que já vem arrepanhando tantos outros em seu “Palco Aberto”, reunindo
anônimos e renomados em torno da música e da literatura. Outras, muitas, são as
iniciativas voluntárias de difusão da literatura cearense e da produção
literária local.
Infelizmente,
também são muitos os que proclamam fazer algo pela literatura, pelo livro e
pela leitura, mas na realidade são fraudes, lançadores de fumaça, uns
interesseiros, buscando vantagens pessoais, falando por si, presentes apenas em
momentos políticos, festejos sociais, com candidatos e estátuas a tiracolo,
falando em nome da ordem coletiva – geralmente ausente – para justificar seu
brado isolado e oportunista.
Por
ora estamos aqui, diante do Centro de Eventos, gritando vivas para uma anônima
Padaria Espiritual. Ela, apenas um traço moleque de tudo quanto ainda temos a
descobrir.
Que
se queime a orelha dos babacas: se nós não criarmos meios e condições de se
conhecer a nossa literatura, não serão os paulistas, nem os cariocas, menos os
baianos que o farão, visse?
olá Raymundo Netto! Sou aluna do Batista de Lima, na UECE, onde você participou de um seminário sobre seu livro, "Os Acangapebas"(que por sinal, PRECISO ler, pois fiquei encantada!). O que eu posso dizer, como aluna e como amante de literatura, é que eu estou maravilhada com um mundo (pasmemos) desconhecido para mim. Autores como Raquel de Queiroz, José de Alencar, Antônio Sales, e outros clássicos da Literatura Cearense e Brasileira, são bastante conhecidos por nós, mas é claro, nunca é demais para um graduando em Letras conhecê-los mais e mais. No entanto, o que me encantou nessa disciplina, e principalmente, na metodologia (se é que eu posso chamar assim) do prof. Batista foi justamente o fato de ele nos apresentar tantos autores maravilhosos e contemporâneos, que estão aqui na cidade, produzindo, vivendo e vendo o tempo que a gente vive e sente. É meio estranha essa sensação que eu tinha de que os grandes autores estão distantes, como se houvesse um tempo, lá no passado, em que se fazia boa literatura, e que não existe mais. É ainda mais assustador pra mim saber que Flávio Paiva, um desses grandes escritores cearenses, é de Independência, cidade da minha família, onde morei dos 11 aos 16 anos, e que eu só o conheci agora, fazendo essa disciplina de Literatura Cearense. Sinto-me feliz mesmo, e agradecida por viver num tempo em que se produz sim literatura de qualidade, cearense, brasileira, independenciana...literatura! E agradeço à essa disciplina e principalmente ao prof. (e também grande escritor) Batista, pelo amor que ele tem à essa literatura, sempre alimentando os jovens alunos com essa determinação em manter viva nossa cultura, mesmo com todos os contratempos. Grande abraço!
ResponderExcluirObrigado, Susane, pelo comentário e registro. Abração.
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