Há muito anos ouço falar na necessidade
da Reforma Política. O negócio é tão sério que é sempre deixado para depois ou
para nunca, apenas lembrado durante essas eleições de araque, de derrama de
dinheiro, de compra e venda de almas. Na verdade, a quem interessa mudar ou
aperfeiçoar o sistema eleitoral nacional e o sistema político se o negócio do
jeito que está beneficia a alguns, os mesmos, principalmente àqueles que detêm
o poder e/ou o capital?
A minha primeira eleição para presidência
do país se deu em 1989. Havia um clima de festa, ares de liberdade, de power to the people ou mesmo de make love not war, ou sei lá mais o quê.
Nas calçadas salpicadas de vermelho, bandeiras tremulavam nas mãos de amigos
com olhares brilhantes (ao contrário dos "escorados" de hoje), soltando canções ou palavras de ordem sufocadas por um "Tempo
Perdido", a engatinhar numa proposta democrática nova, pelo menos para nós
que éramos jovens, tão joveeens...
Naqueles dias, os debates paralisavam as
cidades diante da TV. Os grande nomes da política nacional, porta-vozes de
todos os segmentos — era-se ainda possível falar de direita e esquerda, uma
distinção hoje aparentemente démodé —, estavam lá, e parecia que, mesmo com o eterno e injustificado desequilíbrio de espaços nas propagandas políticas, de volume de
recursos e dinheiros distribuídos de forma antidemocrática e antiética, havia
algo de bem claro no jogo do "quem é quem".
A vitória do Collor, candidato eleito
por meio de "efeito miragem" produzido pela Globo, que enricou
durante a Ditadura, e pelas revistas de "artigos de leilão" (Como a Veja e Isto É), que
ainda se vendem nos dias atuais — lembrando que as mesmas que ajudaram a
elegê-lo, foram as primeiras que revelaram o lado obscuro do outrora "Caçador de Marajás" após o seu "singular" impeachment —, frustrou, ao
mesmo tempo em que parecia ensinar algumas primeiras lições dessa nossa
democracia neófita.
Hoje, as fórmulas, me parece, não
mudaram. Ao contrário, se aprimoraram e aperfeiçoaram as práticas mais
desavergonhadas, ou seja, aquelas que nós, eleitores, estamos sempre provando funcionar!
Basta ver: "eles" continuam lá.
Mesmo com toda boa vontade do mundo, não
posso crer que empresas doem, sem esperar nada em troca, UM MILHÂO DE REAIS
para campanhas de candidato. Essas mesmas empresas que não contribuem, nem por decreto,
com instituições carentes nem financiam artistas por meio de renúncia fiscal,
de repente aparecem em listas de campanha com generosas contribuições, é de
estranhar, não é?
As revistas e jornais apoiam candidatos
com propostas mirabolantes e difusas de "nova política", que, em
tese, só engabelariam os mais ingênuos e tolos, se apoiando em
"fantasmas" e em frases sentimentais, apelando para o lado mais
frágil do ser humano, principalmente aquele que prefere se levar pelo coração
do que pela cabeça. Um pecado mortal quando se pensa em governança.
As pesquisas, que deveriam ser
proibidas, pois são manipuladoras e não confiáveis, principalmente aquelas
divulgadas nos jornais justo no dia da eleição, influenciando aqueles que
estavam no limbo, em dormência letárgica, despertando naquele dia por conta
apenas de outro crime contra a democracia que é o voto obrigatório, razão da participação de centenas de milhares de
moleques, irresponsáveis, ignorantes nas cabines eleitorais. Por mim, esses
poderiam muito bem passar o dia na praia, beber cana, assistir um filminho em
família, passear no parque, pois não se prepararam para o pleito, muitas vezes
sendo responsáveis pelas vitórias de "A Onde é", de Débora Soft, e de
outros "candidatos deboches". O resultado a gente vê e sente depois, mas
creio que os eleitores dessa "tribo" nem lembram em quem votou.
Mas uma coisa que me incomoda muito é o voto útil. Pessoas que, mesmo não
acreditando, nem simpatizando, nem encontrando nos astros ou em folhas de chá,
lagartixas na parede, qualquer coisa de VALOR que justifique votar na criatura,
insiste em fazê-lo apenas "para tirar o outro" ou "porque é ele
que pode ganhar". Isso é antigo, medieval e tem outro nome: harakiri!
(pode chamar de suicídio, se quiser).
Já tomei para mim essa lógica, mas hoje
não dá mais para engatinhar na insuportabilidade dos maus resultados dessa conduta. Temos que
correr porque o tempo está passando e as pessoas estão brincando, vendendo a
nossa paz, a nossa saúde, a nossa educação, a nossa vida em troca de seus
joguinhos partidários, enriquecendo muita gente boa que vai continuar
discursando maravilhosamente, pois somos livres de expressão. Nós precisamos começar
essa tal "reforma política" a partir de nossa mentalidade, repensar essas
estratégias equivocados que herdamos ainda nos nossos primeiros dias
republicanos.
Assim, meus amigos, ninguém precisa
votar no Eunício ou no Camilo, por exemplo, porque estão liderando as pesquisas ou votar
neste para derrubar aquele e vice-versa. Votem naquele que apresenta as
propostas que você quer para seu estado ou país, independentemente se ele pode
ganhar ou não. Não se trata disso. Vote naquele cuja história fala por ele.
Quem nunca fez, ou melhor, quem nada fez ou fez exatamente o contrário do que
hoje prega, esse não vai mudar agora. Penso eu que quem pratica o voto útil é um eleitor inútil. Eu não quero ser
inútil e votarei naquele candidato que, ganhando ou não, não me pesará na
consciência. Para mim, perder o voto
é entregá-lo nas mãos de quem não acredito, isso sim é PERDER e talvez seja o maior
crime que podemos praticar contra o nosso povo, mesmo estando esse mesmo povo
embriagado de promessas e discursos formulados e copiados por assessores caríssimos,
especializados na arte de brincar na lama. Que Deus nos proteja!