sábado, 25 de outubro de 2014

"Porta-Vida", de Raymundo Netto


A vida se faz mesmo quando não se faz ouvida,
Escorrendo pelas paredes frias do silêncio
Na tentativa travosa de ser pensamento.

A vida se contorce para caber num coração,
Mesmo quando esse coração já é lamento,
Quando tange e não vibram as cordas do espírito.

A vida se apropria da morte
Mesmo quando nela nada se suporta nem a si.
Quando o respirar incomoda e a moda
É a insônia a tomar o assento do sono.

A vida nada mais é do que uma sequência de vazios
Ornamentada de espelhos reflexos,
De brumas a descerem à garganta
E de um pé que evita o cerrar descuidoso da porta.


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