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Uma das, apenas uma, surpresas boas
que tive no Rio de Janeiro foi conhecer a Livraria
e Edições Folha Seca, na histórica rua do Ouvidor, quase ao lado da Igreja
de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores.
Fotografava o velho casario, as igrejas,
os passeios de pedra e lajes – algumas construções são tão antigas que nos
reportam aos tempos coloniais – naquela rua estreita, muitas vezes apenas
pedonal ou "pombonal", ou noutras, como diante do bar
"Antigamente", represadas por pequenas mesas e cadeiras onde pessoas,
em pleno meio-dia, conversam, dentre outras coisas, sobre histórias de seus
pais e dos pais de seus pais, além de lendas e anedotas locais. Os bares e
restaurantes, para todos os tipos e gostos, tomam conta do lugar, ornamentado
de coloridos sobradões de dois ou três andares, vistosos em seus balcões de
ferro ou alvenaria, resquícios de uma arquitetura do final de século XIX para o
início do século XX.
Cruzei a 1º de Março, a Travessa do
Comércio a Rua do Mercado, a Gonçalves
Dias... Depois escreverei mais sobre a Ouvidor. Por ora, o que importa, é que
no meio do caminho havia um prédio. Vários andares, cor de rosa, cujo térreo
apresentava quatro portas verdes em madeira encimadas por meias luas
ornamentadas em ferro. Era uma livraria: a Folha Seca. Havia prometido não
entrar em livrarias nessa viagem, entretanto, ela me apareceu num momento de
descuido, após uma fatídica conclusão daquelas que podem mudar o rumo de tudo
ou simplesmente deixar tudo como está, e entrei.
Ali conheci o culpado de tudo, o Rodrigo
Ferrari, no balcão, pronto para contar histórias e a defender a sua resistente Folha
Seca como um Quixote desvairado contra um moinho de megastores que pululam as
capitais. Sentado, ao lado, o jornalista e ghost
writer Zé Sérgio Rocha (O Globo, Jornal do Brasil, Diário de Notícias etc) e,
pouco depois, o também jornalista, escritor e tradutor Archibaldo Figueira, da
União Brasileira de Escritores. No pouco tempo em que lá estive, não faltou
assunto. A própria livraria puxava os temas. Assim, pensava, deveria ser os
convescotes dos escritores, jornalistas e intelectuais naquela rua, naquela
mesma rua, ao encontrar-se nas livrarias do passado. Na minha cabeça, muitas
imagens, que mais tarde revelarei, me fizeram sentir em casa, acolhido por
estranhos amigos, ou melhor, amigos estranhos, versando sobre samba, chorinho,
futebol, carnaval e mais um tudo de bom que a carioca culture pode oferecer.
Minha primeira pergunta na livraria:
"Rodrigo, o que você tem aí sobre Paula Brito?" O homem endoidou. Zé
Sérgio lançou então, com sua voz arrastada e grave, a afirmação moleque:
"Rapaz, você está falando com a reencarnação do Paula Brito!"
Logo o Rodrigo, entusiasmado, colocou à
minha frente um postal comemorativo numerado dos 200 anos do pai dos editores
brasileiros, o Francisco de Paula Brito, impresso pela sua livraria em 2009,
com uma caricatura desenhada por Cássio Loredano, naturalmente carioca, porém,
desenhista d' O Estado de S. Paulo, e
que, nas palavras de Millôr Fernandes (tive o prazer de encontrá-lo no
Arpoador), "Filho de um oficial da cavalaria, desde cedo se sentiu
obrigado a desmontar o ser humano."
E assim, a Folha Seca (mas viva!) traz
na alma a seiva pulsante e aguerrida das pequenas (grandes) livrarias, ciente
de seu papel de centro de difusão e fomento da arte e da cultura (o local
também promove lançamentos e rodas de samba), não apenas se restringindo à
venda silenciosa e frouxa dos mercadões luxuosos de livros, CDs, DVDs que
crescem a cada dia, mas não conseguem encantar e são tão iguais a todas que
nunca merecerão sequer um registro de um viajante-leitor sem direção... como
eu!
Eu (descumprindo promessa), Archibaldo, Rodrigo e Zé Sérgio
Bom dia!
ResponderExcluirBoa tarde! Ou
Boa noite!
Caro amigo, já que o senhor atua nesse ramo tão raro, osenhor teria aí um diário antigo,com o título: o diário de Julia e arthur, escrito um pouco antes dos meados do secusé passado? Escrito em portugal
Obrigado!
ciceroferreira1977@gmail.com
O senhor talvez conheça um senhor português,que tem uma loja aí no centro do Rio de janeiro,ele tem por volta de 90 anos. Ele trabalha com livros e diários antigos
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