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Cumpri estágio nos últimos anos de
curso em uma instituição bastante conhecida. Durante o período surgiu-nos a
oportunidade de participar de evento profissional no Rio de Janeiro. Por conta
da bolsa, pela primeira vez poderia participar de algo assim. Entretanto, a
responsável nos disse que não seríamos dispensados para irmos a tal Congresso. Protestei,
afinal, por ser estágio, não poderiam nos impedir de participar de atividades relevantes
a nossa formação profissional.
Éramos seis
estagiários. Não aceitei a negativa e estimulei aos colegas que não se sujeitassem
a isso, pois era nosso DIREITO. Durante dias, a minha campanha soou incômoda,
gerando piadas, indiretas, até que a nossa chefe trouxe uma proposta: “Um sorteio.
Apenas 2 estagiários seriam liberados para viajar. Os demais ficariam.” Ao
ouvi-la, completei: “Pode sortear se quiser, mas se eu não for contemplado irei
da mesma forma.” Então, para minha surpresa, sorridentes, minhas colegas diziam:
“Tomara que não seja o Netto, pois ele fala demais!” E assim, durante o
sorteio, essa cantilena soou alegre, num agouro incompreensível, que resultou,
para minha sorte, em meu nome. Contudo, a coordenadora sensibilizada acabou liberando
a todos. Valeu o direito!
Desde então
eu aprendi a grande lição: defender o direito alheio pode ser prejudicial à
saúde. Antes eu tivesse articulado, miseravelmente e à surdina, a minha ida. Não
seria difícil. Porém, não sei se por quase ter nascido dentro de um ônibus, tenho
um espírito coletivo demais. Como imaginar na inocência dos meus 20 anos que meus
“semelhantes”, beneficiados com meu desacordo, torceriam e se voltariam contra
mim? Parece incrível, mas ser irracional é uma das maiores faculdades mesmo
entre os mais instruídos dos seres humanos.
Nunca
duvidei: DIREITOS não nos são dados, mas conquistados! Todavia, frutos de uma
cultura elitista e escravocrata, é terrivelmente compreensível que muitos ainda
esperem que a sorte do destino lhes caia dos céus ou chegue pela caridade, em
joelhos, suplicando migalhas, adorando, invejando e servindo arrasadoramente àqueles
que possuem poder e/ou fortuna.
Hoje, no
século do futuro, com tantos rastros históricos a nos apontar nossos erros, crises,
holocaustos, tiranias e crueldades assisto a uma pesquisa que afirma: as
pessoas estão cada vez mais abrindo mão da democracia ou simplesmente alegando
que para elas “tanto faz”, da mesma forma que outras pedem a volta de regimes
totalitários e intolerantes – mesmo quando afirmam nunca haver existido tais
coisas. É inacreditável o número de pessoas a abrir mão do seu intransferível direito
de escolher e decidir o seu destino e dos seus iguais. Da mesma forma, muitos
lavariam as mãos, como o fez Pilatos, causando a condenação e a tortura – que
também não os incomodam – daquele que nas noites natalinas clamam emotivamente de
“Meu Salvador”.
É porque muitos
deles usam a religião como expiação, uma chancela para esconder as vergonhas
que nem a sua consciência ousa aceitar. Mesquinhas e covardes, buscam a
salvação. Nessa hora, em oração, clamam ao seu Deus por sua vida, por seus
filhos, seus amigos, pedem mais – não merecem – e pedem ainda mais. Insaciáveis,
como bestas em cabrestos dourados, só pedem para si. Daí a minha incontestável certeza:
quem abre mão de seu direito é incompetente para dizer que ama o seu próximo,
negando o ensinamento maior daquele que, por vezes, traz pendurado no pescoço,
mas jamais dentro do peito.
Espiar e expiar. Espiar o alheio; expiar pelo alheio. Duas modalidades de passatempo bastante comuns a muitos cristãos. A fresta da janela, a calçada, a esquina, o BBB __ espiar, ai que prazer! A cruz __ expiar, ai que incômodo! Por sorte, muitos incomodados suspiram, o cordeiro a carrega por nós, remindo-nos de faltas. Falta de caráter, falta de vergonha, falta de decência, falta de coragem, falta de vontade, falta de consciência da grandeza da atitude do próprio cordeiro. Cordeiro __ sacrifício. Não, o cordeiro não se ofereceu em sacrifício; o cordeiro protagonizou o ato final possível ante a turba embriagada da própria covardia. Os que podiam elevá-lo, jogaram-no ao chão, prendendo-o à cruz.
ResponderExcluirAquele que fala em favor de direitos sociais provoca invariavelmente incômodo. É como se seu dizer contrariasse algum direito natural. Como, por exemplo,o direito aparentemente natural dos historicamente submetidos de calarem em face da imposição daqueles que os submetem.
A força está no coletivo. Prova disso, necessária mas não suficiente, é a expressão material de força dos que submetem: a polícia, a milícia, o mercenário, o justiceiro, o judiciário, o anonimato. O anonimato?! Sim, o anonimato. O coletivo favorece o anonimato. Quem? Não se sabe. Podem ser tantos; acaba sendo nenhum.
É preciso ser coletivo, mas não ser anônimo. Coletivo para multiplicar a força da demanda pelo cumprimento dos direitos sociais. Mas é preciso não ser anônimo para que a cruz tenha rosto. Que a cruz esteja pendurada ao pescoço não como símbolo de cabresto ou forca, mas como expressão material metafórica da insubmissão que se tem dentro do peito.
Sei o o que é isso. Já passei muito por isso. Uma dessas vezes nunca esqueço, foi na faculdade. Fui ser o porta-voz de uma insatisfação coletiva,mas na hora H todos se recolheram aos seus cantos e tive que brigar sozinho. Minha única desforra foi me levantar e chamar a todos de covarde. Mesmo assim eles não reagiram. Foram covardes mesmo rsrs
ResponderExcluirHahaha boa, Carlos.
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