Poeta e historiador Nicodemos Araújo, de Acaraú
Dimas Carvalho, poeta, contista e sério estudioso das coisas das letras e da história,
em depoimento distribuído nas redes sociais nos ensina e prova que “de boa
intenção, o inferno está cheio”. Poderíamos intitular “Tratado de como não se
deve tratar a história e a cultura no país”.
Alguns documentaristas e/ou programas de TV, com a boa-fé de realizar um
produto de importância cultural, pela falta de uma consultoria competente e
qualificada e com tempo sempre reduzido, acabam por distribuir um monte de lixo em embalagem de luxo.
Como a maioria de seu público é não leitor e desconhece de sua própria história,
passa a engolir aquilo tudo como se assim ela fosse, acreditando que aquilo só
pode ser verdade, pois assistiu na TV. Ou seja, essas emissoras prestam um
grande DESSERVIÇO à cultura. No caso, o programa “#Partiu” da TV Verdes Mares,
canal 10.
FUNDAMENTAL: essa não é uma crítica pela crítica, mas uma chamada de atenção a todas
e qualquer emissora bem intencionada. Nesse quesito, não vale de jeito nenhum a
expressão “é melhor do que nada”. Ao contrário, nesse caso, vale mais o
silêncio. Essa chamada de atenção é válida não apenas para a Verdes Mares, mas a qualquer outra emissora de TV ou veículos impressos, eletrônicos e radiofônicos no Ceará e no Brasil.
Leiam a seguir a análise do programa “#Partiu” veiculado no sábado, dia
4 de março de 2017, no qual Dimas foi um dos entrevistados:
***
Como alguns amigos e amigas me
telefonaram perguntando porque a entrevista que eu dei ao programa "#Partiu",
da TV Verdes Mares, veiculado hoje, não
apareceu no supracitado programa, creio que
devo esclarecer o fato em epígrafe, o que passo a fazer agora.
01)
TODAS as informações sobre a História do Acaraú que o repórter falou, inclusive
com os nomes e as datas precisas, foram dadas por mim, na entrevista que
realizou, com mais de uma hora e meia de gravação, na minha residência;
02)
Os erros crassos e ridículos cometidos pela professora (?) Márcia Andrade,
atual Secretária de Cultura do Acaraú, tal como dizer que o padre Antônio Tomás
NUNCA PUBLICOU os seus poemas e que dona Dinorá Tomás Ramos, sobrinha do padre,
ainda está viva em Sobral, quando na verdade ela já morreu há mais de 20 anos,
apenas revelam o despreparo e o analfabetismo da dita professora(?). O padre
Antônio Tomás NUNCA permitiu que se reunisse a totalidade dos seus poemas em livro
impresso, mas SEMPRE publicou os seus poemas nos jornais da época, tanto do
Acaraú, quanto de Fortaleza e de Sobral. Aliás, esta informação consta do livro
"Padre Antônio Tomás: Princípe dos Poetas Cearenses", publicado em
1951, por ocasião dos dez anos de morte do escritor, e que teve duas edições posteriores,
cuja autora é exatamente a sobrinha predileta do poeta, que com ele conviveu
por vários anos no Acaraú, Dinorá Tomás Ramos. O que demonstra cabalmente que a
professora(?) Márcia Andrade sequer se deu ao trabalho de ler o livro que
ostenta na entrevista. O padre Antônio Tomás era tão modesto que deixou em
testamento o pedido para nunca publicarem LIVRO QUE REÚNA TODA A SUA OBRA,
coisa que a dona Dinorá acatou, excluindo do livro alguns de seus poemas.
03)
Também errônea é a informação dada pela Secretária da Cultura (“oh tempora oh
mores”, diria Cícero, o maior dos oradores latinos), de que o padre Antônio
Tomás tenha vivido na clausura, pois só quem vive na clausura, palavra latina
que significa "fechamento", são os frades e as freiras, e não os padres
ditos seculares, que administram paróquias, como foi o caso do padre Antônio
Tomás, que NUNCA foi frade ou monge, mas sim pároco do Acaraú e do Trairi. Ele
inclusive foi pai de uma filha, chamada Maria Celeste Peixoto, cuja assinatura
eu possuo no antigo Livro de Atas do Recreio Dramático Familiar, clube
diversional e teatro do Acaraú entre 1915 e fins da década de 60.
04)
Também causa estranheza não ter sido citado uma única vez o nome do homem que
escreveu toda a História do Acaraú e da Região, o poeta e historiador Nicodemos
Araújo, amigo e sucessor do padre Antônio Tomás na áurea dinastia da poesia acarauense.
Nicodemos Araújo, meu avô, publicou 28 livros, pertencia à Academia Cearense de
Letras e à Academia Sobralense de Estudos e Letras. É o autor do Hino e também
da Bandeira do Acaraú. Figura, portanto, inescapável, quando se trata da
História do município.
05)
Não bastando a queda, o coice: o cozinheiro do restaurante "Castelo"
afirma que o Brasil foi descoberto pelas naus Santa Maria, Pinta e Nina:
confundiu Pedro Álvares Cabral com Cristóvão Colombo, descobridor da continente
americano.
06)
Concluindo, para não me deter nos outros numerosos erros cometidos pelos
entrevistados, acho que este programa "#Partiu", que falseou
totalmente a História do Acaraú e a História do Brasil, serviu pelo menos para
uma coisa: mostrar ao povo acaruense e cearense a inépcia, a ignorância e a
falta de conhecimento que norteiam a atual gestão (?) da Cultura e do Turismo
do meu amado, querido e tão maltratado torrão natal. Tenho dito!
Dimas Carvalho
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