O céu
tardou azulecer de manhãs ao abrir o palmoemeio dos olhizarcos.
Bramia o
galo, feito fera, seu cocoricoado de dia pós dia:
“Deixasse
de refestelamento, desencostasse as costelas, espichasse as patelas, abrisse
dos ombros, armasse as tábuas do queixo. Fosse homem ou o deixasse de ser!”
Medrava
pela estrela anônima a sucumbir desassistida quando deslajeou os guias da cara
com caldo de cacimba.
Dejetou.
Dejejuou. Desejou ali mesmo um fim do mundo, senão da agonia e o mais imediato de
si. Do quintal, varejava formigas e assoprava baforadas de fumo cor de jenipapo
quando suspirou de doces e limão um gemelancólico “ai!”
Certo se
tinha: Baliostro em berros da alma tirocinava um envenenado amor, daqueles que
há de suspenso a própria vida, em tum-tuns apenas cochichados no roto e quase
morto coração: “Je suis cídio”
Ainda
pior, o cáucaso não supunha nem ideia por quem alentava taltanta devoção. Esta,
de primeiro, a razão de sua incomportável e solsticial ruína a tomar de brejo o
ânimo e a paciência. Donde ser-lhe penitente o renque de dias a contar ocasos
do não viver desse irrevelado e desértico amor.
Frustrado,
pôs-se ele em joelhos às patas elefânticas do infinitésimo, mente farta do
fastio da humanidade, cujo responso lhe chegou em libras: “arrazoa, azoa,
azoina, azorata, azia, azáfama, soidão... ê ê ê”
Sucedeu
noite há tempo: dormia, distraído como relógio. Um molusco luminoso espreitava os
punhos tesos de sua fianga. Era o temível demônio Súcubo, cuja boca de cem
dentes se arraigaria ao pescoço do homem, convencendo à mente imagética um
absurdo de inevitável mulher a dominá-lo em pesadelos seminais.
Assim, Baliostro,
absoluto e entregue aos enleios de Súcubo e à própria libido, se deixou secar,
desaguar todo peso do espírito, aquele amor que lhe ardia e coitava o peito em
uma conjunção adversativa e proparoxística da carne.
Contudo,
o demônio surpreendentemente surpreendeu-se. Já não na milhenar existência experienciara
de tão fecunda fonte de paixão e obscenidades.
Foi quando assistiu ao corar de uma mancha rubra prenhe em seu tórax veiado,
calando a razão pela sede da cobiça. Ao partir, por pouco à luz da vergonha, entornou
uma gosma, feito lágrima príncipe e sem sal, pois entre todas as suas vítimas,
desde a fronteira do spiritus e o parir
do mal, marcara seu estigma de exclusividade para o proveito daquele servo em bagaço,
condenando os dois ad vitam aeternam!
E foi
assim que Baliostro despertou quase senil e repleto de obscura saudade:
O céu
tardou azulecer de manhãs ao abrir o palmoemeio dos olhizarcos.
Bramia o
galo, feito fera, seu cocoricoado de dia pós dia, dia após dia... para toda a
eternidade.
Encanto de se ler!
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