Pois não é que no rumo perdido nas vagas
em busca da Ouvidor me deparei com a Gonçalves Dias? Nem saberia, mas como um
Cabral descobri a Colombo.
Fundada em 1894 por dois imigrantes
portugueses e considerada uma das mais belas do mundo, sempre ouvi falar dessa
famosa confeitaria, assistindo passivo do lado de cá a momentos de encontros
refletidos em seus imensos espelhos de cristal da antuérpica belga, emoldurados
em frisos de jacarandá, assim como em seu mobiliário esculpido pelo mestre-artesão
e marceneiro paulista (filho de imigrantes italianos) Antonio Borsoi que, ao
final da primeira década do século XX, conferiu aos salões da Colombo uma
art-noveauidade, fruto de uma Belle
Époque que ainda coça a pele de quem arrasta as solas por ali, ou
encosta-se no frio mármore italiano das suas bancadas.
Em 1922, a Colombo passou por uma grande
reforma que lhe conferiu o andar superior, onde podemos encontrar o Restaurante
Cristovão, de culinária portuguesa e espanhola, e aproximarmo-nos da iluminação
de lustres e arandelas e da claraboia belíssima e colorida de vitrais, numa
lembrança de um Rafael de areia.
No cardápio, receitas próprias,
diferentes e contextualizadas historicamente, que resistem desde o início da
segunda e/ou terceira década do século XX, como biscoitos artesanais para
lanches e gelados (biscoito leque), biscoitos à base de castanha de caju que
dispensam o uso de farinha na massa (Petit Four), discos de pão de ló recheados
com doce de leite e com cobertura de fondant
(Rivadávia), doces portugueses tradicionais (pastel de nata, pingo de tocha e
trouxinha de ovos), pão Blumenau (que foi criado por um empregado que, depois,
se tornou um dos sócios da confeitaria), pão vienense (receita criada na década
de 1940 por um austríaco, confeiteiro da casa), camarão recheado, bolinho de
bacalhau (com bacalhau imperial português), pasteis de carne, torradas
Petrópolis, casadinhos (biscoitos recheados com doce de leite, baba de moça,
goiabada e damasco), sorvete cup fio de ouro (cobertura de fios de ovos
produzidos na Colombo), dentre outras e tantas iguarias.
Nem é difícil imaginar, quantos e quens
já passaram por aqueles salões a bebericar cafés, chás e a degustar
pasteizinhos, em conversas saborosíssimas, a engatilhar xícaras de fina louça
(aliás, comprei uma para mim que, penso, verei todos os dias de minha futura
vida).
A confeitaria, que também é ornada de elementos
que nos levam a outras épocas, acusa a presença de Chiquinha Gonzaga, Emílio de
Meneses, Rui Barbosa, Olavo Bilac, Lima Barreto, Villa-Lobos, Getúlio Vargas,
Juscelino Kubitschek, José do Patrocínio etc. etc.
Enfim, mais um feliz encontro no Rio de
Janeiro. Quem for à “Maravilhosa”, não deixe de por lá passar, oui?
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