segunda-feira, 30 de junho de 2014

"Reis de Copas", de Pedro Salgueiro, para O POVO


Em copas do mundo de futebol algumas tradições vão se formando ao longo do tempo: uma “verdade” consolidada é a de que sempre vão aparecer as famosas “zebras”, a ponto de haver até apostas sobre quais serão as “surpresas”, os “azarões” da vez. Também, dentre as ditas “grandes” seleções, se aposta bastante em quais as que decepcionarão seus torcedores. Nesta primeira fase, a humilde seleção da Costa Rica, tida como quarta opção num grupo em que havia três campeões mundiais (Inglaterra, Espanha e Uruguai), foi a grande “zebra”; mas quase foi seguida pela Costa do Marfim, que perdeu sua classificação para a Grécia no último minuto do segundo tempo, num pênalti infantilmente cometido. Por sua vez, a maior decepção foi a derradeira campeã, Espanha, que chegou como favorita e saiu humilhada; iguais decepções causaram a sempre favorita Itália e a tradicional Inglaterra. Fico imaginando as tristezas e alegrias às vezes coabitando fronteiras tão próximas: os sorrisos holandeses e franceses, as tristezas espanholas e inglesas; as imprensas desses países colocando o “tempero” no caldeirão que ferve a cada quatro anos.
Os asiáticos quase sumiram neste mundial, a inconstância dos Africanos não promete muito, dos europeus apenas Alemanha e Holanda demonstram forças para “irem longe” na competição: a copa parece mesmo que ficará na América do Sul. De todos os classificados do nosso imenso continente, o Uruguai parece ser o que tem mais força “mítica” para chegar até a final (a tradição em mundiais, com dois vencidos; a façanha – e lembranças – do “maracanazo” de 1950; a famosa “raça” de Davi frente aos gigantes; some-se à “sorte”, a crença numa certa “predestinação” celeste); mas o Chile também demonstra que, desta vez, vai quebrar a barreira das oitavas-de-finais: promete surpreender o Brasil. O México e EUA ficarão satisfeitos de apenas terem ido mais longe do que se esperava de suas medianas seleções.
A grande final desejada (porém muito temida por todos) seria entre Brasil e Argentina: os dois, apesar de estarem vencendo etapas, não empolgaram seus torcedores; Messi e Neymar têm salvado os dois gigantes do futebol mundial. Perguntam-se, “hermanos e “macaquitos”, quem nos salvará de uma ausência dos dois gênios. O favoritismo de “jogar em casa” vai se transformando no enorme peso da obrigação de “ganhar em casa”. Perdeu-se a costumeira alegria, a leveza dos jogos: o medo de uma tragédia nos ronda em cada casa, nos espreita em cada esquina – as dificuldades das partidas iniciais nos deixaram ressabiados, bastante desconfiados com as recordações das muitas desclassificações anteriores. A França é um fantasma que ainda nos mete medo, a Holanda também está muito “fresca” em nossa memória, e o Uruguai, então, nem se fala, é um fantasma que eternamente nos assustará.

Estamos, pois, divididos entre o favoritismo de sermos os eternos “reis de copas” e o imenso medo de uma enorme tragédia que nos ronda – apenas nos postamos quietos, com um friozinho na barriga que se agrava em dias de jogos, e que tanto poderá explodir em monumentais gritos de alegria ou em discretos soluços e lágrimas.

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