segunda-feira, 22 de julho de 2024

"Itapipoca: a Capital Cearense da Megafauna Pré-Histórica (Parte I)", de Raymundo Netto para O POVO


Prédio da antiga maternidade Matargão Gesteira, em breve, a sede do 
Museu Pré-Histórico de Itapipoca (Muphi)

A capa do jornal O POVO, em 12 de janeiro de 1961, alarmava: “ITAPIPOCA, SEDE DE IMPORTANTES PESQUISAS CIENTÍFICAS”.

Naqueles dias, chegava à “Terra dos Três Climas” uma expedição de paleontólogos renomados. Entre eles: Carlos de Paula Couto e Fausto Luís de Sousa Cunha, ambos diretores do Museu Nacional, autores de publicações que tiveram alcance e impacto internacionais. Também na equipe, Francisco de Alencar, do Instituto de Antropologia da Universidade do Ceará, e o itapipoquense José Paurilo Barroso, na verdade, o principal causador desse movimento, sendo ele, em 1953, o autor da carta enviada, por intermédio de Gustavo Barroso, ao Museu Nacional, na época, a instituição mais qualificada e equipada para investigações na área, relatando a existência abundante de ossadas fósseis na região do sopé da serra de Uruburetama.



Carlos de Paula Couto e Fausto Luís de Sousa Cunha (1961)


O paleontólogo Carlos Couto surpreendia ao responder para o jornal “ser provável, pelos indícios já encontrados, desenterrar das cacimbas ou depósitos em escavação, esqueletos inteiros de mastodontes”. As cacimbas a que se referia eram “bebedouros” naturais gerados por depressões em formações rochosas que acumulavam água das chuvas. Ali, animais de grande porte, como mastodontes, tigres dente-de-sabre, preguiças gigantes (o maior mamífero terrestre que já viveu no Brasil), entre outros, há 10 mil anos, se inclinavam para matar a sede, às vezes caindo nelas sem conseguir escapar, ou, quando em período de estiagem, morrendo ao seu redor, sendo posteriormente empurrados para dentro delas por enxurradas e sendo soterrados. Esses sítios paleontológicos são de imenso valor para os estudos da “fabulosa fauna pré-histórica assinalada em Itapipoca”. E não se limitam apenas aos mamíferos, mas a aves, répteis e espécies vegetais.

O paleontólogo Celso Ximenes, curador do Museu de Pré-História de Itapipoca (o Muphi), fundado em 2005, afirma: “Nenhum lugar do Brasil tem tantas espécies de animais pré-históricos como em Itapipoca.” E por isso defende que Itapipoca seja reconhecida como a Capital Cearense da Megafauna Pré-Histórica, ciente de que Santana do Cariri é considerada a Capital Cearense da Paleontologia, devido à quantidade e qualidade de seus fósseis. Porém, é em Itapipoca, e não em Santana, que podemos encontrar esse grande volume de animais de grande porte que, em conjunto (são sete os sítios paleontológicos), denominamos de MEGAFAUNA.


Sítio paleontológico (Lajinhas)


O Muphi atualmente assume em Itapipoca o papel de preservação do seu patrimônio paleontológico e arqueológico, conduzindo pesquisas e cursos de formação (Antropologia e Paleontologia) em parceria com diversas instituições, além de realizar trabalhos de divulgação científica, educação patrimonial e promover o turismo cultural.

No seu acervo, além de réplicas constituídas de alguns desses animais gigantes, a partir de ossadas originais, traz diversas peças, como fêmur, costelas, vértebra, mandíbula, dentes, utensílios de pedra polida e de pedra lascada e malacológicos (instrumentos feitos de conchas), sendo alguns deles tombados pelo Iphan. Aliás, entre as ações do atual prefeito Felipe Pinheiro, está sendo reformada a sede da antiga maternidade Matargão Gesteira para acolher a nova sede do Museu Pré-Histórico, então, ampliado, com planos para atrair cientistas, estudantes, pesquisadores e turistas de todo o mundo, em busca de estudar e conhecer esse patrimônio paleontológico riquíssimo em um espaço mais adequado e estruturado em conformidade com o seu potencial científico, educacional e turístico.

(continua)