“Lírios Azuis são promessas de amor
eterno”, disse Ramon, oferecendo-os com toda ingênua pompa de adolescente recém-aberto
à possibilidade de morrer de amor, diante de sua amada Vitória, em seu primeiro
aniversário juntos, assim como o faria nos demais, desde que iniciado aquele
romance.
O casal se conhecera na escola, no
ensino médio. Para Ramon, o primeiro encontro de olhares bastaria para que não
mais a perdesse de vista. Diziam os colegas de sala serem feitos um para o
outro, inseparáveis, como todos os grandes enamorados de novela, condenados a
serem felizes para sempre.
Naqueles anos, além da companhia em carteiras
de sala de aula, da saraivada de beijos incessantes e velados nos fundos da cantina
durante o recreio, em pares nas atividades e festas escolares, enfrentaram muitas
noites juntos, fossem debruçados em apostilas às vésperas de provas, em livros
de poesia – pois se permitiam ouvir a voz de anjos – ou por vezes sobre seus
corpos nus, em ebulição, quase virgens, em plena alfabetização sexual.
Ao final do curso, ela passou para a Psicologia
e ele em Jornalismo. Comemoraram num contentamento de ganhadores de loteria, farto
de planos de futuro: muitos filhos, uma casa no campo, escreveriam livros, viajariam,
teriam uma música, cachorros, gatos, papagaios e uma velhice extraordinária. Porém,
o amor se dá a distrações, e Vitória conheceria Carlos, um aluno do curso de
Engenharia que, ao contrário do romântico Ramon, não elaborava projetos alucinados,
sustentados em longarinas de sonhos, mas sobre metas, orçamentos e formulentas planilhas.
Desde então, os encontros seriam inexplicavelmente adiados um a um, até quando Ramon
soube pelo colega Nestor – parece que sempre há um em nossas vidas – sobre o suposto
flerte entre Vitória e Carlos.
O seu mundo quedou-se ali
mesmo. Ramon não poderia nem queria crer. Só de pensar, morria. Ligou para Vitória.
Marcariam um encontro. Ela adiou o quanto pôde, lançando todas as desculpas, as
mais esfarrapadas, mas, diante da insistência, cedeu.
Quando Vitória chegou à praça, Ramon não reconheceu o seu olhar, aquele que o conquistou. Sentiu-se, desde então, fracassado. Mesmo assim, criou coragem para exaltar o seu amor, o mais sincero e sem igual no mundo – como todos, aliás. Gesticulava, falava, falava, falava, com receio do inesperado e até então desconhecido silêncio que poderia abater-se entre os dois. As lágrimas desciam navalhando o seu rosto... Porém, percebia que ela, numa frieza beirando a crueldade, de braços cruzados, evitava olhar para ele. Enquanto tentava convencê-la, ela murmurava, impaciente, “que sabia de tudo aquilo, que sabia, mas que era outra coisa”. Ela se repetia, embaraçada, duas, três vezes, maquinalmente: “sabia de tudo aquilo, mas que era outra coisa”. Sentia-se péssima ali, pronta para correr se pudesse.
Ramon calou-se. Assistindo
àquele constrangimento e ciente de que dali não sairia mais nada, sentiu-se ridículo,
de uma estupidez medonha. Ora, Vitória era uma manteiga derretida, chorava até
em propaganda de fraldas de bebê, mas não derramara uma lágrima sequer diante do
seu amargo e profundo sofrimento. Será que ele não merecia uma lagrimazinha de
nada depois de tudo que viveram juntos? Não, aquela era a mais absoluta negação
que poderia sofrer. “Pois era só isso”, disse e tomou o seu rumo sem olhar para
trás, sendo-lhe insuportável assisti-la certamente aliviada e pronta para revelar
ao mundo o seu novo amor. Daí, nunca mais a procuraria, mesmo quando indignado
recebeu em uma sacola de papel a devolução de cartas, poemas, presentes e
fotografias. Tudo acabado de uma vez por todas!
Curiosamente, a única coisa que nunca
mudou foi o envio de buquês de lírios azuis sempre na data do aniversário dela.
Com ele, um cartão oficioso, quase desinteressado: “Parabéns” e o endereço atualizado
de e-mail e telefone. E só!
(CONTINUA DAQUI A 15 DIAS,
NESSE MESMO CANAL)
de tudo que vi e apreciei ao longo de minha Vida parece que todo Amor precisa passar por sofrimento que é prá provar que é Amor! umrum💞 😃
ResponderExcluirHuuummmm... vamos refletir sobre isso? rsrs
ExcluirEita! Já estou ansiosa para ler a continuação. Nem ouso imaginar o desfecho
ResponderExcluirHahaha Malvinier, vá curtindo aos poucos, sem ansiedade... Obrigado pelo entusiasmo.
ExcluirEles vão voltar um com o outro?
ResponderExcluirCenas dos próximos capítulos?
Excluirpoxa Raymundo, ter que esperar, fico imaginando os leitores de Flaubert e madame Bovary, kkk , nem só de belas palavras se vive, mas imagino que sua cabeça pulsante arquiteto grandes acontecimentos. ansiosa.
ResponderExcluirSerá, Lucirene. Oh, meu Deus... O que passa? O que passa? rsrs
ExcluirFicarei aguardando. Bjs
ResponderExcluirAcho que a Vitória vai se casar com o Carlos...
ResponderExcluirVixe, desejando o mal para o pobre, Lílian?
ExcluirHoje li o terceiro episódio. E voltei aqui para ver o começo dessa saga romântica. Agora, de volta para o futuro. Rrsss
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