Há mais de 2 mil anos,
uma sentença impactaria definitivamente no destino da humanidade. Ali, encontrávamos
dois prisioneiros: Jesus de Nazaré e Barrabás.
Existia uma tradição, pelo menos é o
que diz o Novo Testamento – e apenas lá –, de se libertar um detento durante a Páscoa
judaica. Barrabás era bastante conhecido pelo povo judeu, e estava preso e
condenado à morte por ter participado de um movimento rebelde que culminou na
morte, talvez, de um ou mais soldados romanos.
O governador romano Pôncio Pilatos, ao
que tudo indica, entre os dois, tencionava libertar o preso Jesus, pois não via
motivos justos para a sua condenação, contudo, os eloquentes sacerdotes – que já
o haviam espancado durante extenso interrogatório – se manifestaram a favor do
outro, o Barrabás, convencendo a multidão, o “povo de Deus”, que optasse por ele,
e mais: que assassinasse Jesus!
Influenciada pelos seus sacerdotes, a
multidão, por aclamação, concedeu a liberdade a Barrabás e exigiu a morte do segundo.
Pilatos, surpreso e receoso de uma revolta ali, lavou as mãos e o libertou,
prendendo Jesus novamente, torturando-o, e, por fim, o crucificando, como assim
os sacerdotes e o povo – de forma alguma comovidos com aquela tragédia e tomados
por ódio e indignação – desejou.
Essa história nos é repetida, por
diversos meios, desde o berço. Nos apresentam um Jesus lourinho, de olhos
azulíssimos – um europeu em pleno Oriente Médio –, uma imagem construída para o
símbolo do amor. Da mesma forma, outra imagem, na cruz, a coroa de espinhos
encerrada em sua cabeça ensanguentada, o olhar piedoso voltado para cima, “Eles
não sabem o que fazem”, ou incompreensivo: “Pai, por que me abandonaste?”
Eu, sinceramente, não tenho dúvidas de
que, fosse hoje, a depender de muitos de seus milhares de seguidores, a
história se repetiria, talvez em vez da cruz, executado a tiros e, sendo ele
pobre, provavelmente negro, mais um caso sem solução, entre tantos.
É desolador assistir a hipocrisia em
massa de um povo que se diz “do bem”, de Deus, a se vangloriar de sua família,
de sua tradição e costumes, quando na realidade estimulam os preconceitos, os
individualismos, o desprezo e a indiferença pelos direitos humanos e pelos
diferentes (negros, índios, LGBTQIA+, religiosos de outras crenças e culturas,
portadores de necessidades especiais, vulneráveis de forma geral), que exploram
trabalhadores e pobres, imersos na ambição e ganância, propagando uma cultura
do ódio e da mentira – aliás, não tem noção nem discernimento de reconhecer uma
mentira ou delírio, o que justifica tantos e tantos crimes e genocídios historicamente
efetivados em nome da fé e desse Deus.
Hoje, por exemplo, nos é possível entender
como o Nazismo de Hitler, que resultou na morte de mais de cinco milhões de
judeus, se propagou pela Alemanha com apoio de seu povo “adorador” de Deus e da
Pátria. Parece-me que suas orações não são poderosas o suficiente para iluminar
as suas mentes, libertá-los dos grilhões da ignorância, como alucinados,
repetindo ritos vazios e maculando o nome do amor, restrito a suas naves e
templos, sem capacidade de crítica e/ou reflexão, em um total analfabetismo
político (e até funcional). Daí, em nome de Deus, massacram física e
psicologicamente a muitos que, secretamente, odeiam em seus corações divinais, negando-lhes
a chance de existência e de paz. A desatenção completa ao segundo maior
mandamento (MATEUS, 22), “Ame o seu próximo como a si mesmo” – apenas ele valeria
a Bíblia inteira –, é o maior fracasso de todo o Cristianismo.
Aliás, eu sempre tive uma certeza: se o
Diabo de fato existir, o lugar mais estratégico para sua atuação seria dentro
das igrejas. Aqueles que se assemelhariam a ele, reconheceriam a sua voz, e
tomariam em vão o nome do Senhor, o seu Deus, para pregar o pior mal (aquele
que se passa por bem) e ludibriar os mais ingênuos, os mais frágeis.
Fica a advertência: “[...] o Senhor não
deixará impune quem tomar o seu nome em vão.” (ÊXODO 20). Tragicamente,
assistimos a falsos messias que, por meio de falsos profetas, insuflam falsos
cristãos, promotores das piores iniquidades.
Assim, verdadeiros cristãos, se atentem
às ações e aos seus frutos – conforme os valores de Cristo – e não apenas às palavras
superficiais ditas por línguas perversas de serpentes.