sábado, 4 de junho de 2022

"Chiclete com Banana", uma antologia antológica


Em outubro de 1985, com ares da “Nova república”, surgia a revista de humor underground Chiclete com Banana, um sucesso inquietante que chegou a vender cerca de 3 milhões de exemplares em suas 24 edições (a última em novembro de 1990) por todo o país e talvez até em Vênus (o planeta, e não a camisa).

Eu tinha 18 anos, havia há pouco ingressado na faculdade (Fisioterapia), e apesar de ler esporadicamente uma coisa ali e acolá que saía nos jornais (no “Ilustrada” da Folha de S. Paulo, por exemplo) ou em pequenas coletâneas, respirando formóis da Ana(tomia) e nas fileiras do movimento estudantil, só viria conhecer a revista em si muito mais tarde, juntamente com a Animal: feio, forte e formal, Lúcifer, Striptiras, Piratas do Tietê, Níquel Náusea e as coletâneas geniais de Calvin & Haroldo, entre tantas outras.

De resto, guardo essa coleção/antologia lançada em 2007 (e umas 10 a 15 edições originais), que traz alguns dos melhores momentos da produção desses sempre heroicos quadrinistas brasileiros em 16 edições (tenho apenas 8).

No editorial da revista (ou seria gibi?), Angeli declarava o seu objetivo: “Queremos apenas beliscar a bunda do ser humano para ver se a besta acorda.”

Irreverentes, criativos, inigualáveis, iconoclastas e demolidores eram os “titios” da Chiclete com Banana: Angeli (o grande e original líder dessa bagunça toda), Laerte, Luiz Gê, Fernando Gonsales, Edi Campana, Rui Resenha, Cacá Rosset, Christiane Tricerri, Toninho Mendes, Gonçalo Júnior, Paulo Caruso, Sérgio Machado, Glauco Mattoso, Marcatti, Furio Lonza e blá-blá-blá.

Ali, cabia de tudo, quadrinhos, resenhas, fotonovelas, charges, entrevistas (fictícias ou não), gurus, punks, hippies, junkies, revolucionários, sexo, drogas, rock’n’roll, cultura pop, solidão, política (e podridão) e o mais ridículo que poderia existir na sociedade e caber no olhar desses criadores.

Não há dúvida de que esse legado Chiclete com Banana, e não aquele outro que precisava de trios elétricos e encheu os bolsos do BEL vil metal, foi, de fato, revolucionário, delirante e transgressor, apesar de ter sofrido da mesma anemia pecuniária infinita que a arte e acultura brasileira traz em seus genes.

Viva a cultura da liseira (ou a liseira da Cultura?)




 

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