Pacatuba é um sedutor município cearense
localizado a apenas 30 km da capital, florescendo aos pés da majestosa e lírica
Serra da Aratanha. Embora muitas vezes seu nome seja relacionado ao trágico
acidente aéreo que vitimou 137 passageiros (o voo VASP 168, em 1982), a pacata
cidade traz, principalmente na sua história e geografia, características
significativas e legados curiosos, embora muitas vezes nem tão lembrados, mas
que deveriam ser, não fosse o nosso povo tão distraído e deslumbrado pelas
brilhantes desimportâncias vendidas a milhões e a lágrimas, por meio de superficiais,
mas eficientes, apelos emocionais de TV e smartphones.
O povoado
de Pacatuba elevou-se à vila em 8 de outubro de 1869, comemorando, na semana
que passou, 152 anos – claro, essa é uma narrativa dos brancos, pois a região
antes já era berço da população indígena, especialmente dos pitaguaris e
potiguaras.
A instalação da Câmara Municipal viria em abril de 1873, sob a presidência de Henrique Gonçalves da Justa, o primeiro gestor do município, proprietário do sítio “Palmeiras”, e, certamente, nome dos mais importantes na história do desenvolvimento da cidade, sendo um de seus maiores benfeitores, daí emprestá-lo à sua principal praça – mesmo que popularmente a denominem “praça da Fonte” –, sendo comparável seus feitos ao do boticário Ferreira, o niteroiense de Fortaleza.
O farmacêutico e escritor Rodolfo Teófilo, que embora seja baiano,
tem parte de sua vida fincada na vida pacatubana. Em História da Seca faz referências ao trabalho benemérito do capitão
Henrique Gonçalves da Justa, proprietário também de “dois sobrados vizinhos, o
amarelo e o encarnado, ambos de belo estilo, sitos na praça que hoje ostenta
seu nome venerando” (Manoel Albano Amora, em Pacatuba: geografia sentimental, 1972). Falaremos mais sobre esses
sobrados, posteriormente.
Estive em
Pacatuba, pela primeira vez, há alguns anos. Na época, encantado por ela, pesquisava
Juvenal Galeno, decerto um dos autores mais fundamentais da historiografia da
literatura cearense. Galeno nasceu em Fortaleza, em 1836, mas logo seus pais o
trouxeram ao sítio Boa Vista, no alto da serra, onde ainda hoje se encontra um
sobradão atípico, e ali viveria até 1887, aos 51 anos, quando passaria a
residir em Fortaleza, apenas por conta da educação dos filhos. O tal sobradão
tem estranha arquitetura, construído sobre rochedos e curiosamente denominado pelos
pacatubanos de “casa da baronesa”, em referência não ao pai, mas à mãe de
Galeno, Maria do Carmo Teófilo e Silva, tia de Rodolfo Teófilo, aqui já citado.
O pai de Galeno, José Antônio da Costa e Silva, filho de Albano da Costa dos
Anjos, rico produtor de algodão e proprietário de extensos terrenos na serra. José
da Costa é considerado o pioneiro na comercialização do café no estado, sendo
seguido por outros membros da sua família, nomes até hoje lembrados pelos
historiadores, seja pela cultura cafeeira, pelo envolvimento político ou pela
participação na Confederação do Equador.
Sobrado da família de Galeno no sítio Boa Vista (foto: Raymundo Netto)
Diante da importância da família do capitão José Costa, por Pacatuba, e no sobrado da família, passaram alguns conhecidos personagens históricos, entre eles, os membros da Comissão Científica Exploradora (1859), criada pelo então imperador d. Pedro II, composta por Freire Alemão, Guilherme de Capanema, Gonçalves Dias, entre outros. Gonçalves Dias, já renomado por sua poesia em seus 36 anos, se hospedou na casa grande do sítio Boa Vista, tornando-se amigo de Juvenal Galeno, na época, com 23 anos, recém-chegado do Rio de Janeiro, de onde trouxe a edição de seu livro de estreia, marco do Romantismo cearense, Prelúdios Poéticos.
(Continua daqui a 15
dias)
Gosto demais dessas voltas ao passado, deu até vontade de me aventurar até o Sítio Boa Vista. Valeu, Raymundo Netto, estou aguardando a continuação dessa viagem histórica.
ResponderExcluirZélia, muito obrigado. E preparem-se, você e o Barão, com roupas leves, água, umas barrinhas de cereal e um par de tênis, pois nós todos do CPLI iremos fazer um passeio em Pacatuba e conhecer in loco a história desse sobrado.
ExcluirConheço a aprazível Pacatuba, Raymundo, tenho um amigo-irmão que resolveu viver lá devido a seus encantos. Muito oportuno essa sua crônica sobre o município; ademais, é sempre um deleite sua pena. Desde já quedo-me ansioso pela continuação.
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