terça-feira, 25 de agosto de 2020

"Ary Sherlock: 90 anos", de Ricardo Guilherme

 

Ary Sherlock (Sobral/CE, 1930) estreia como ator na peça Os Mortos Sem Sepultura, de Jean-Paul Sartre (tradução e direção de Vicente Marques), encenada no Teatro José de Alencar pelo Grupo Teatro Experimental de Arte, em 25 de novembro de 1954. A partir de 29 de março de 1956 integra-se à tradição de durante a Semana Santa, no Patronato Nossa Senhora Auxiliadora (avenida Imperador), encenar sob a direção de Waldemar Garcia a peça Cristo no Calvário (com versos de Eduardo Garrido) na qual interpreta Caifaz e posteriormente Judas. Atua também em A Canção Dentro do Pão, de R. Magalhães Júnior e A Revolta dos Brinquedos, montagens da Comédia Cearense dirigidas por Haroldo Serra em 1958.

Ainda nos Anos 1950 faz parte dos Grupos Teatro Jangada e Teatro de Brinquedos (este de Rui Diniz, pioneiro em teatro para crianças), dirige os universitários que representam o Ceará no Primeiro Festival de Teatro de Estudantes do Brasil, ( promovido por Paschoal Carlos Magno em Recife, 1958), funda o Grupo Jograis do Ceará (que se apresenta com poemas dramatizados sobretudo em clubes e escolas), assina colunas no jornal Gazeta de Notícias (sobre literatura, teatro e cinema) e compõe o elenco de novelas das rádios PRE-9 e Dragão do Mar.

Na TV Ceará Canal 2, primeira emissora da televisão cearense, fundada em 26 de novembro/1960, Ary se torna roteirista e diretor, liderando intensa produção de teledramaturgia inclusive inúmeras novelas, como O Pobrezinho de Assis. Entre as suas diversas participações em teleteatros destaca-se a atuação (personagem Gedeão) em Os Deserdados, peça de Eduardo Campos adaptada para TV por Hildeberto Torres que em concurso internacional na Espanha conquista (1967) a terceira colocação do Prêmio Ondas.

Ary faz incursões também no âmbito musical, pois figura como letrista da trilha sonora de pelo menos duas de suas telenovelas da década 1960: Quando as Nuvens Passam (“Quando o cigano canta parece despontar na garganta/ o eco do coração/ É como se forte sentisse/ e em cada existisse/ a saudade que é o tema da canção”) e As Duas Órfãs (Quando o vento passa/Leva a fumaça da recordação/ Quando o amor termina/ deixa a saudade no meu coração”).

Em 1968, Os Diários e Emissoras Associados, conglomerado ao qual pertence então a pioneira TV Ceará, passa a adotar em rede nacional o videotape e concentra no Rio de Janeiro e em São Paulo os seus núcleos de produção teledramatúrgica. Desfaz-se, então, no Canal 2 o departamento de teleteatro e Ary Sherlock adota Teresina como campo de trabalho, exercendo a crônica social no jornal piauiense O Estado e capitaneando (de 1968 a 1973) as encenações de A Paixão de Cristo, O Cão Gasolina (representante do Piauí no V Festival do Teatro de Estudantes/Rio de Janeiro, 1968), O Auto de Lampião no Além, de José Gomes Campos, e A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água, versão para o palco do romance homônimo de Jorge Amado.

Em outubro de 1973, Ary volta a Fortaleza para no Canal 2 roteirizar e dirigir O Som, a Luz, as Cores e os Muitos Amores de Fortaleza, show que em 26 de novembro de 1973 inicia no Ceará o processo de emissão de TV em cores. O programa (dramatização de um poema de Guilherme Neto por Ivete Pereira, Cleide Holanda e Ricardo Guilherme, entre outros) apresenta letra de sua autoria, musicada por Rodger Rogério: "A luz do sol/ o verde do mar/o azul do céu vamos mostrar/ coisas bonitas da capital/ coisas queridas do Ceará/ TV a cores, canal 2 é um encanto, uma beleza/ O som, a luz, as cores e os muitos amores de Fortaleza".

Em 7 de março de 1974 surge a TV Educativa Canal 5 (atual TVC). Implanta-se, por iniciativa do Governo do Estado, o sistema de tele-ensino (do então chamado Primeiro Grau) e dá-se a efetivação de Ary Sherlock no cargo de produtor-executivo que lhe enseja principalmente a criação de telenovelas didáticas como Futurama e O Sobradão nas quais as abordagens dos conteúdos das disciplinas estudadas em cada dia letivo contextualizam as ementas e o currículo escolar em situações cotidianas, vivenciadas pelas personagens na trama. Motivado por essa sua inserção no campo educacional, Ary conclui graduação em Pedagogia (1983) e Especialização em Supervisão e Administração Escolar (1985) na Universidade de Fortaleza.

Prestes a se aposentar e também depois da aposentadoria como funcionário público (em 1994), Ary intensifica sua carreira de ator teatral representando textos como A Mente Capta, de Mauro Rasi (1989, 1995), Francisco, o Homem que se Tornou Santo, de José Alberto Simonetti (1999), A Paixão de Cristo, de Almeida Garret (de 2001 a 2014), Coisas, Palavras e Canções, de autores diversos inclusive Ary Sherlock e Ricardo Guilherme (2008), O Fabuloso Catador de Histórias, de Lana Soraya (2010) e Na Corda Bamba, de Aldo Marcozzi (2012). Participa também dos filmes O Noviço Rebelde, de Tisuka Yamasaki (1997) e Luzia-Homem, de Bruno Barreto (1987), bem como da minissérie Sedição do Juazeiro, de Jonasluís de Icapuí (2012) em que interpreta o papel de padre Cícero Romão.




Um comentário:

  1. O Ary ainda é vivo ? ele morava em um prédio antigo, próximo a igreja do pequeno grande, eu sempre o via, em supermercados, ou no prédio, um vizinho me falou que ele morava só, mas que na pandemia a família o levou para outro local.

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