quinta-feira, 15 de março de 2018

"Versos ao Sono", soneto de Sânzio de Azevedo



Meus pais se foram, já faz muitos anos.
Perdi depois o irmão mais velho e, um dia,
minha única irmã a travessia
inevitável fez, e dos meus manos

apenas um ficou. A fantasia
enche-me a solitude com os enganos
quando, à noite, mergulho nos arcanos
dos devaneios, que a lembrança cria.

Dormindo, pela névoa da saudade,
estou a vê-los novamente rindo
como os via, feliz, na mocidade.

Hoje, o consolo aos dias mais tristonhos
é, no meio da noite, o instante lindo
de rever o passado nos meus sonhos.



Nenhum comentário:

Postar um comentário