Cartaz do filme "Joaquim", de Marcelo Gomes
Assista ao trailer:
“JUSTIÇA que a
Rainha Nossa Senhora manda fazer a este infame réu Joaquim José da Silva Xavier
pelo horroroso crime de rebelião e alta traição de que se constitui chefe e
cabeça na capitania de Minas Gerais, com a mais escandalosa temeridade contra a
Real Soberania e Suprema Autoridade da mesma senhora, que Deus guarde”. Parte
da sentença de morte contra Tiradentes.
Que continua:
“Mando que com este baraço e pregão seja levado pelas ruas públicas desta cidade
ao lugar da forca e nela morra de morte natural para sempre e que a cabeça separada
do corpo seja levada à Vila Rica...” (Boletim
da Polícia Militar do Rio de Janeiro, no. 53, em 18.04.2008).
Em 1776 aconteceu a
Independência da América. Jovens brasileiros, filhos de abastados nacionais, estudavam
na Europa, mormente em Portugal. Eles resolveram, seguindo a senda iluminista,
aspergir a ideia da libertação da Coroa, através de cartas e de palavras
candentes, quando das férias ou dos seus retornos.
Anos depois, alvitrou-se, em Vila Rica (hoje,
Ouro Preto), capitania das Minas Gerais, fazer um movimento social libertário,
juntando parte do clero, da intelectualidade e da burguesia. A esse movimento,
a dita “Inconfidência Mineira”, aderiu Joaquim José da Silva Xavier, alferes
pouco lido, de poucas posses, também protético, profissão aprendida em família,
que recebera a alcunha de "Tira-Dentes”, o Tiradentes.
Esse movimento
sequer prosperou, ficando morno. Joaquim era um boquirroto, mas também gostava
de ouvir. Soube haver cheiro de traição no ar. Estava com problemas afetivos
sérios, apesar de nunca haver casado. Largou o movimento, a corporação Dragões
de Minas e fugiu para o Rio de Janeiro. Mesmo assim, em 1789, Joaquim Silvério
dos Reis, falido e ciente do favor à Coroa, fez a denúncia sobre a possível e
nunca realizada insurreição.
Dou a palavra a
Otávio Frias Filho em artigo nominado de “Ainda que tardia”, publicado na Folha de São Paulo, em 26 de fevereiro
passado, escrevendo sobre o filme “Joaquim”, lançado ontem em circuito
nacional. Diz Frias: “Não existe história mais recoberta de ferrugem
verde-amarela, depositada em tantas décadas de reiteração escolar, que a de
Tiradentes. O frescor acre que exala de “Joaquim”, exibido na semana passada no
Festival de Berlim, decerto tem a ver com a opção do diretor Marcelo Gomes...
Quando começa a acontecer o que aprendemos na escola, o filme termina”.
Como se sabe, mesmo
tendo sido o único morto, por conta da Inconfidência, a mando da rainha Dona
Maria I, cognominada a “Rainha Louca”, Tiradentes, ou Joaquim, ficou no limbo da
história até o albor do movimento republicano,
em 1870.
Procurava-se um
herói nacional. Consta que usaram o Tiradentes. É a versão tida como requentada
nos fornos da “consentida” República. Não há na historiografia do tempo imperial
menção alguma à tal Inconfidência. Frias, no artigo já referido, diz: “Em seu
livro sobre o personagem (Tiradentes: o corpo
do herói, Martins Fontes), a historiadora Maria Alice Millet demonstra como
a sua mitologia foi elaborada...”.
O fato é que
Tiradentes, três anos preso, foi degolado em 21 de abril de 1792 e os autos da
sua condenação duraram 18 horas de alocução. Ora, se ele fosse tão
desimportante assim por que o Império gastaria tantas laudas com ele?
Para ler crítica do filme pelo Adorocinema:
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-246133/criticas-adorocinema/
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