O mundo é um bocado de surpresas. Aquela
gripe repentina, a loteria às pressas que se ganha, a promessa de aumento quase
esquecida, a demissão por corte de pessoal, o encontro com aquela que pode ser
o grande amor de sua vida, a despedida ou a traição de alguém que se ama, o incêndio
a configurar tragédia a um acontecimento de mudar para sempre o seu destino.
Podemos esperar de um tudo da vida, principalmente a morte ou coisa parecida,
certeza fatal que enquanto a alguns causa temor, para outros é fetiche.
Uma outra certeza que temos é que
independentemente de nossa vontade e querer a vida acontece. Abrem-se as cortinas, ligam-se as luzes, você pode
estar sozinho, ter esquecido o texto e o show tem que continuar. Apruma-se a
garganta e se improvisa. Temos que continuar, e para frente, porque para trás a
roda não gira.
A nossa percepção das coisas ainda é
muito pequena para entendermos como podemos ou temos que ser o que não somos ou
o que não queremos ser. Meio que Fernando Pessoa, quando: “Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou? Ser
o que penso? Mas penso tanta coisa!”
Há pouco mais de um ano
soube que Saulo já vinha. Não me perguntava nem me pedia nada, e já chegava sem
anúncio, a bordo de um rabo de cometa a aportar por ali. Entregara-se à vida,
sem trajar-se dos incômodos do mundo, que para ele nem seria tão grande nem
maior do que os braços da mãe, onde parecia encontrar tudo que precisava e queria,
assim como ela oferecia ao pequeno muito mais do que se pode esperar daqui.
Vivendo à parte,
experiência difícil, nos estranhamos. Sabia: a conquista de afeto se dá nos degraus
do calendário, na ciranda do relógio, na presença sem alardes ou imposição, mas
aquela que se dá com gratuidade e tolerância, no reconhecimento de nossas
existências, imperfeições e afinidades. Exige tempo, mesmo que não seja esse nem
o de agora. Quem pode sabê-lo? A entrega é gratuita, mas a conquista tem um
preço. E na rota dessas surpresas, quando a sós, percebo a sua espontaneidade.
O sorriso de criança feliz e amada espalha-se no rosto. Olhos atentos, lança-me
os braços na possível brincadeira, mesmo quando diante do “pai muito cansado de
tanta dor que ele tem”.
Cala-se a tarde. Os
carros a riscar ruídos na avenida. “Nessa rua, nessa rua tem um bosque, que se
chama, que se chama solidão...” No acalanto da penumbra, ao vento que escorre
na sala, ele se entrega inteiro em meu peito, fecha as pálpebras dos pingos de céu,
enquanto vigio seu sono e penso num futuro, após lançados pelas janelas traumas,
frustrações ou sentimentos inquietadores, enrodilhados como os brotos de seus
cabelos.
Amanhã é seu
aniversário, Saulo. Nessa pirueta de surpresas, chega-nos ainda a brisa fresca em
favor da nossa possibilidade, sem pressa, no vagar do que a vida nos trouxe e
nos dá em forma da alva esperança a erguer-se no céu ao nascer de um novo dia,
na batida sereníssima do coração, na respiração tranquilo de um oceano.
Parabéns pelo seu primeiro
aninho, filho.
Parabéns, Netto, pelo texto e pelo bebê.
ResponderExcluirObrigado, Carmen, pela leitura e amizade de sempre.
ExcluirLindo texto! Parabéns Raymundo Netto! Não sabia que você estava estava grávido. Que Deus abençoe o seu filhinho e que Ele o ilumine p
Excluirara bem orientá-lo no caminho do bem. Abraços afetuosos
Parabéns e muitas felicidades acompanhadas de paz, amor harmonia e chuvas de bênçãos. Lindo bebê e lindo texto. Te admiro muito. Luz e Paz.
ResponderExcluirDalvany, gentileza sua. Muito agradecido. Grande abraço.
ExcluirParabéns e muitas felicidades acompanhadas de paz, amor harmonia e chuvas de bênçãos. Lindo bebê e lindo texto. Te admiro muito. Luz e Paz.
ResponderExcluirLindo a crônica quase poema, mais lindo ainda o seu Saulo. Eu também tenho um Saulo, que completou neste outubro 32 anos. E ele tem um filho, Vicente, quase da idade do seu Saulo. E assim, a vida flui, independentemente de nossas dores, medos e esperanças. E Ela, a vida, nunca nos prometeu só noites serenas ... mas vale a pena. Que todas as forças do bem protejam os nossos Saulos!
ResponderExcluirClotilde, muito felizes as suas palavras, os Saulos, o Vicente. Cada vez mais convencido de que a vida não é só isso. Nem pode ser. Abraço grande e carinho.
ExcluirLindo texto, Raymundo! Amei, tanto que vou compartilhar. A vida realmente nos pega de surpresa, o tempo urge e não espera por ninguém, nós que não podemos ficar pra trás.
ResponderExcluirLindo texto, Raymundo! Amei, tanto que vou compartilhar. A vida realmente nos pega de surpresa, o tempo urge e não espera por ninguém, nós que não podemos ficar pra trás.
ResponderExcluirAlly, agradeço pela leitura e gentileza do compartilhamento. Muitas luzes para nós. Vamos correr com vagar.
ExcluirLindo texto! Que bela homenagem! Parabéns!
ResponderExcluirOlá Neto, uma surpresa! Tive a alegria de fazer parte de um lindo momento de sua vida, e vi você se desmanchar de amor e dedicação na arte de ser Pai, quando as gêmeas nasceram, e sei que o amor e nada mais que o amor, amor verdadeiro, é capaz de curar feridas, de perdoa e nos fazer seguir em frente. Tenho plena certeza que com o Saulo não será diferente. Sou grata em conhecê-lo e desejo muitas felicidades para vocês!
ResponderExcluirNão poderia ser mais tocante e mais poético e o fofinho é uma grande inspiração.
ResponderExcluirObrigado, Fátima. Feliz pela seu comentário e sempre importante opinião. Aproveito para lastimar a sua perda recente. Que sua mãe receba Luz por meio das orações, porque em vida a recebeu pela sua dedicação e empenho. Grande abraço.
ExcluirParabens meu amigo.
ResponderExcluirMuito massa o texto, cara. Eu como pai de duas meninas, me senti atingido pela forma como você conduziu as palavras e o carinho embutido nelas. Massa mesmo. Parabéns ao Saulo e a ti. Abraço!
ResponderExcluirObrigado, Cristovam. Seja sempre bem-vindo, amigo. E felicidades para suas meninas.
ExcluirLindo demais. Lembrei que a 24 anos atrás, Deus me.presenteava com o meu Emanuel, esse amor desmedido que faz a gente amadurecer e ter fé em tudo!!! Parabéns pela família linda, seu filhinho!!!
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