Ano após ano, é a mesma história: o Prêmio
Jabuti reúne, inexplicavelmente, Contos
e Crônicas em uma única categoria e o resultado é uma enxurrada de livros
de contos na final e um ou outro livro de crônica – normalmente do Verissimo,
porque, este, nem o Jabuti consegue ignorar.
Assim, entre os finalistas da malfadada categoria neste
ano de 2016 está lá As mentiras que as
mulheres contam (Objetiva), a mais recente antologia de crônicas
de Luis Fernando Verissimo.
A boa notícia é que, a despeito da teimosia
da Câmara Brasileira do Livro em misturar gêneros, outro cronista
conseguiu passar pelo crivo dos juízes e foi para final: o cearense Raymundo Netto. Podemos até dizer que
houve um aumento de 100% dos cronistas na final, já que em 2015 só Humberto
Werneck estava lá. Passamos de 1 para 2. Alvíssaras.
Crônicas absurdas
O feito de Raymundo Netto foi conseguido com o livro Crônicas absurdas de segunda (Edições Demócrito Rocha),
seleção de textos publicados entre 2007 e 2010 no jornal O POVO, de Fortaleza. Essas crônicas são “absurdas” porque a
proposta do autor foi promover encontros fictícios com escritores e os
botar para falar sobre Fortaleza. Raymundo se valeu da intertextualidade,
tentando captar voz, trejeitos e pensamentos de cada escritor para colocar em
cada crônica.
Foto: Tatiana Fortes para O POVO
Assim é que participam dessas crônicas personagens como
Rachel de Queiroz, José de Alencar, Milton Dias, Clarice Lispector, Gonçalves
Dias, Gregório de Matos, Airton Monte, Ana Miranda, Quintino Cunha, entre
outros, vários deles locais.
Trata-se, portanto, de uma proposta criativa, que rendeu
unidade ao conteúdo do livro, e que, ao envolver também nomes conhecidos
da literatura, conseguiu comover os jurados do Jabuti, que o deixaram entrar na
final, não obstante ser um livro de crônicas.
Agora é esperar o resultado, que sai no dia
24 de novembro, para ver quem sairá prejudicado dessa vez, se os
cronistas, como de hábito, ou os contistas que não terão um livro do seu gênero
contemplado. Afinal, apesar de tudo, a cada cinco ou seis anos o vencedor é,
contra todas as expectativas, um desses escassos livros de crônicas que
passam para a final.
É verdade que o jabuti não é mesmo dos animais mais
rápidos, mas já está mais do que na hora de criar categorias distintas para
gêneros distintos, não é mesmo?
Henrique Fendrich
para a Rubem: revista da crônica – notícias,
entrevistas, resenhas e textos feitos ao rés-do-chão
https://rubem.wordpress.com/2016/10/22/so-dois-livros-de-cronicas-na-final-do-jabuti/