Qual o
significado dos sete dias do movimento de Ocupação da sede da Secretaria de
Cultura de Fortaleza? Para alguns, ato arbitrário, drástico, irresponsável.
Para outros, a mais legítima apropriação de “todo poder que emana do povo”, ou
seja, sem nenhum penduricalho metaeufórico, o povo ocupando o seu devido lugar!
A
Constituição brasileira garante e EXIGE a nossa participação, por meio de
representantes ou não, na consecução dos objetivos fundamentais da República:
(1) construir uma
sociedade livre, justa e solidária; (2) garantir o desenvolvimento nacional;
(3) erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e
regionais; (4) promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Ora,
viemos de uma longa trajetória –
não gostaria de usar aqui o termo “cultura” – de carneirinhos, de gado que
espera a ruminar a hora do abate, de injustos escambos, troca de nossas
riquezas por espelhinhos – mesmo assim não nos enxergávamos –, bugigangas e migalhas.
Por isso, alguns mais passadistas, ou mesmo aqueles eternos “amigos do rei”, se
incomodam por qualquer comportamento reivindicatório, qualquer protesto que
suba a mesa, qualquer dedo erguido em riste, qualquer reclamação que se faça em
prol do coletivo. Para eles, infelizmente, ainda muitos, apenas o
individualismo prospera, numa rede incontável de vantagens pessoais, da falta
de vergonha pelo costumeiro beija-mão em temerosas e obscuras transações.
A questão
é dinheiro? É aumentar o valor do edital? Sim, é também, dentre muitas outras
coisas, entre elas (1) fortalecermos as instituições e definirmos políticas públicas (como a de editais) que
assegurem o direito constitucional à cultura, (2) protegermos e promovermos o
patrimônio e a diversidade étnica, artística e cultural; (3) ampliarmos o
acesso à produção e fruição da cultura; (4) inserirmos a cultura em modelos
sustentáveis de desenvolvimento socioeconômico e (5) estabelecermos um sistema
público e participativo de gestão, acompanhamento e avaliação das políticas
culturais. E quem nos orienta isso? Deus? Freud? Marx? Não, mas o Plano
Nacional de Cultura, um documento que, como dezenas de outros, já passou do
tempo de sair do papel para o encantado e dormente mundo real.
A cultura
no Ceará sempre foi relegada a últimos planos, vista como luxo, coisa
supérflua, mero entretenimento – e os artistas como gente desocupada, louca,
preguiçosa –, quando na realidade não podemos pensar em desenvolvimento sem
pensar em cultura, pois não há liberdade, dignidade, identidade nem espírito
sem o seu reconhecimento, sem a sua promoção.
Em seu
artigo 215, a Constituição nos sussurra, enquanto dormimos, que “o Estado garantirá A TODOS o pleno
exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e
apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.”
O Estado
pode até cochilar, se perder no sacolejar das pernas da Ivete Sangalo, mas nós,
artistas, produtores culturais e cidadãos da sociedade civil, não. Temos que
nos esforçar para estarmos juntos, para nos mobilizar seja da forma que for,
presencial ou não, em prol da causa da cultura (ainda) praticada e recolhida
nos baús cearenses. Essa cultura que é tratada, de forma geral, como obséquio,
com todo o desrespeito necessário para sua extinção. Aliás, lamentamos haver alguns
que acreditem que “artista bom é artista morto”. Vivo, não vale um milhão; Morto, glórias e
lágrimas em palanques! Repito: direito só é direito quando conquistado. Não
precisamos de favor de senhor ninguém. Quem integra as instâncias culturais nos
devem todos ouvidos e manga arregaçada. As pastas institucionais são DO POVO.
Os partidos que se lixem e que viva e deixe viver a cultura!
Forte, verdadeiro e injeção de força sua fala meu amigo. Obrigada, gratidão por esses dias de aprendizado, reconhecimento de território e sujeitos, sedimentação de eus fazedores. Super obrigada
ResponderExcluirValéria, obrigado pela leitura. É isso. A cultura cearense e a brasileira merecem atenção e cuidado. Se nossos gestores públicos e a sociedade de forma geral não acolherem amorosamente a causa, sabe-se lá que destino elas terão. Super abraço.
ExcluirTexto cooerente,digno de ser lido pelo'' nosso povo'' para ver se o mesmo acorda e vai à luta por esta causa tão nobre e justa.. Parabens Raymundo Netto. Sou sua fã. Abraços
ExcluirRita, muito importante pra mim a sua opinião. Grande abraço.
ExcluirTexto mais do que oportuno!
ResponderExcluirGrato, amigo Miguel.
ExcluirMuito boa a reflexão neste artigo, que nos inspire a luta pela dignidade da cultura e da arte em nossa cidade e Estado! Parabéns Raymundo Netto.
ResponderExcluirValeu, Cicero.
ExcluirValeu, temos que defender a cultura, caminho através do qual um povo se civiliza. Imagine nós cordelistas a que plano somos relegados. Como somos ousados estamos abrindo espaço em espaços que não nos abrem há séculos. Falo da feira de codel na praça dos leões. Apareça por lá, dia 14 de novembro.
ResponderExcluirIrei com maior prazer, Geraldo.
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