A coisa começou com a invenção do personal training. Ser uma celebridade e
não ter o seu personal training era
quase um pecado mortal. Como eu tenho uma propensão natural para a maldade,
acho que isso foi invenção da mulher de algum endinheirado que descobriu uma
forma segura de descolar uma grana para o seu jovem e atlético amante. A partir
daí a moda pegou e começaram a aparecer as mais diversas variações de
assistência pessoal. Tem o personal care,
destinado ao consolo das senhoras da terceira idade. Tem o personal wear, para sugerir as esquisitices que as dondocas devem
usar em situações específicas. Tem até o personal
dog, que não é exatamente um cachorro de estimação, mas um cuidador de
lulus e totós das madames que não têm mais tempo além do que gastam no
cabeleireiro (personal hair, eu
suponho) e na academia.
Pois bem, para não parecer um retrógado
ressentido, venho me lançar no mercado como Personal
Person. E o que vem a ser exatamente um personal
person? Trata-se, obviamente, de uma pessoa (eu, no caso) que se
propõe a agir como um ser humano comum, sujeito a variações de humor e
condições de saúde. Isto é bom, porque oferece o elemento surpresa, o cliente
nunca sabendo exatamente como eu vou chegar. Pode me pegar de bom humor
ou completamente sorumbático, o que irá definir o tipo de assunto a ser conversado.
Podemos falar de trivialidades, como o mais novo CD da Lady Gaga, ou pegar
pesado com as previsões recentes sobre a economia global.
Como personal
person posso ser usado numa fila de banco, na sala de espera do médico ou
nos intervalos cada vez maiores das novelas. Mas o meu melhor aproveitamento
será numa mesa de bar ou restaurante. Aí é que se disporá de um tempo agradável
de espera, entre o pedido ao maitre e a vinda do garçom. Nada de
self-service, portanto. Será aí, na penumbra e ao som de um piano que o
seu personal person exercerá todo o
encanto de uma pessoa ao mesmo tempo comum e diferenciada. Desde que seja
pago por isso. Regiamente pago, bem entendido, como todo
personal-qualquer-coisa que se preza.
Fonte: recebido de Ronaldo Monte
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