Deus (ou a
natureza, ou seja lá no/em que ou quem acreditemos) nos dá a sabedoria de irmos
vivendo sem pensar muito no nosso inevitável envelhecimento. Na verdade não nos
preparamos para essa complicada fase da vida (hoje tão eufemisticamente
nomeada). Vamos indo rio abaixo (ou acima, quem sabe?) meio que ao sabor da
corrente e do vento. Às vezes de canoa, outras no duro nado de peito. Mas
verdade que dia menos noite nos deparamos com a “idade” chegando: uma dorzinha
nas costas, um porre que demora mais do que de costume a passar, aquela torção
de tornozelo que se curava por si dois dias depois do joguinho de futebol e que
agora nos maltrata por meses.
Os males
físicos são os mais fáceis de detectar, pois inevitavelmente nos procurarão em
nossa própria casa; os mentais, não, são mais discretos e nos cercam de longe,
infiltra-se em nossos cotidianos sem deixar pegadas. Vão sorrateiramente
invadindo e tomando conta da nossa alma.
Um amigo me
segreda que morre de medo de envelhecer como seu pai, que foi ficando com o
passar do tempo extremamente “gabola”, mudando sua personalidade a tal ponto
que causava incômodo nos familiares e amigos: vivia a se “pabular”, que era o
melhor escritor de sua geração, que só ele sabia fazer crítica literária, que
criar filhos era com ele mesmo etc. e tal. Havia se tornado, aos poucos, um
senil “Super Homem” do auto-elogio gratuito, envergonhando os mais próximos,
afastando-os de sua convivência.
Já um colega
de trabalho, corre célere rumo ao túmulo com uma raiva imensa dos mais jovens,
tempo nenhum presta que não o dele, lá para trás. Os jovens, esses são uns
irresponsáveis, superficiais e complicados. Nenhum presta, se um novato e mais
apessoado funcionário vem trabalhar em seu mesmo setor logo se tornará seu
inimigo mortal. Que não sabe redigir uma petição, que pensa que é só ter um
sorriso nos lábios, no meu tempo...
Mas há quem
procure envelhecer com inteligência e bom humor, com a altivez casada com a
humildade. Sem essa quase inevitável inveja que sente dos que vêm depois de sua
geração com toda força e viço.
Uma ciência
complicada, essa do envelhecer com dignidade. E que tribo escassa essa dos que
sabem das minguadas vantagens e a elas dê um peso justo, dos que também
consigam mensurar as inúmeras desvantagens e, com arte, minimizá-las com
resignação e alegria (ou até mesmo ironia)... Dos que veem os mais jovens menos como um
inimigo e mais como os aliados que ficarão, sim, com os “louros”, mas principalmente
com a inglória tarefa de levar nas costas este nosso pesado, velho e complicado
mundo.
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