Muito
bem, estávamos em maio. Era o Dia Mundial sem Tabaco. Na televisão, no rádio,
nas praças, era só no que se falava: Dia Mundial sem Tabaco!
No
Brasil, as campanhas antitabagísticas rolavam soltas, adeptos à ruma, mas em
Bangladesh, país conhecido pela presença de grandes acidentes naturais, como
ciclones, por exemplo, creio que não, pois foi num repente rodamoinho que
veio-nos a notícia:
Um
cidadão, Mozammel, pai de cinco filhos, certo de sua doçura, há cerca de seis
meses arrastava asas a uma pós-balzaquiana mulherinha dos arredores. Gentilezas
para cá, safadezas para lá, justo no alarmado Dia Mundial sem Tabaco, o
desavisado decidiu empreender sua campanha a favor da criatura de seu desejo.
A bengalesa
Monju, vítima do seu desajeitoso assédio, há muito desconfiada das intenções do
vizinho, dormia, vejam só, não com uma bengala, mas com um facão embaixo do
travesseiro. Assim, foi o esperançoso, certa fria noite, invadir-lhe a alcova a
apresentar-lhe o pretensioso “buquê” e ela “Dá cá!”, o tomou de assalto, à arma
branca, guardando-o, mais que depressa, num saquinho de bodega, desavisada ela
também do dito: “a paz se faz pelas mãos das mulheres”.
O
coitado inda gemia à falta de sua ferramenta amorosa quando a criatura soleirava
à porta da delegacia, prestando queixa, prova na mão, como antes o queria o
agressor, mas não exatamente dessa forma.
A
polícia horrorizou-se: nada mais cabal!
O
sujeito foi parar, claro, no hospital, insultando a mulherzinha de um tudo,
menos de vaca, pois esta, naquelas bandas, é sagrada. Por lá, nada a fazer, a
não ser a espera da providência divina ou a inscrição eterna no sindicato dos
eunucos. Enquanto estivesse em recuperação, a justiça terrena — e masculina —, solidária
à dor, o preservaria, mas saísse do leito, seria de prestar depoimento,
responder em juízo e recluso pela abobalhada e fracassada tentativa de estupro.
Não
haveria como negar, sabiam todos, a evidência maior — e não tão grande — estava
ali, troféu de caça da bengalesa faladeira que já espalhara pela vizinhança toda,
batendo no peito magro e caído: “Aquele ali, ó, nunca mais se dá ao
enxerimento, negrada”.
Pois é,
leitores tímidos, leitoras desforradas, aquela mulher, supostamente tão
indefesa, num ato vanguardista reinventou a pena de Talião, onde a vingança é a
melhor forma de perdão, não somente matando a cobra, mas também mostrando o
pau!
Raymundo Netto. Contato: raymundo.netto@uol.com.br
Blogue AlmanaCULTURA:
http://raymundo-netto.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário