A notícia de que o Ministério da Cultura (Minc) havia aprovado a captação R$ 1,3 milhão para a cantora Maria Bethânia fazer um blog de poesia, em minutos, virou piada na rede.
Um blog falso (http://blogdabethania.blogspot.com/) foi construído em frações de hora com uma crítica debochada e uma galhofa explícita envolvendo a cantora e a ministra Ana de Hollanda.
O Minc soltou nota afirmando que está tudo legal e que a captação não garante que o valor inteiro do projeto seja disponibilizado por meio de isenção fiscal. O que não deixa de ser outra coisa engraçada. Quem é que não vai querer patrocinar um blog que tem a Maria Bethânia lendo poesia, se ainda poderá abater o valor investido no projeto no imposto de renda?
A ideia da Bethânia de ler poesia na internet é maravilhosa. O que nós, seres humanos normais, podemos achar surreal é o valor destinado para um negócio que qualquer criança faz: um blog, mesmo quando se trata de uma cantora como ela e considerando todo o aparato de produção etc e tal.
Eu ainda pergunto: precisa mesmo de tudo isso para ler poesia na internet? Não. Betânia perdeu a oportunidade de ser simples como só a boa e bela poesia consegue ser e ainda expôs os níveis gritantes de desigualdade cultural que existem neste País que, aos poucos, formou uma verdadeira indústria de editais.
E por falar em editais, dois pequenos parágrafos para os editais de livros. Que são ótimos, porque tiram da gaveta trabalhos literários e acadêmicos. A questão é que depois de cumpridas todas as etapas da edição, o autor entrega uma parte da tiragem para distribuição nas bibliotecas públicas e leva pra casa o restante. Pela frente, terá a roda viva da distribuição da obra e apenas os mais articulados conseguem se mover nesse mercado de areia movediça.
Com metade do valor que a Bethânia está captando para ler poesia com certeza daria para desenvolver um sistema de divulgação dos livros incentivados pela internet e assim se criaria uma rede de informação sobre essas publicações.
Comentário sobre texto de Regina Ribeiro:
O Edital do Prêmio Literário do Autor(a) Cearense contemplou 110 projetos distribuídos entre 14 categorias, acolhendo, inclusive, álbuns em quadrinhos (ação inédita), revistas e livros de artes, em investimento no valor de 2 milhões de reais.
O autor recebeu, além da soma necessária para a publicação à sua escolha e definição (processo editorial completo e a impressão), o valor de R$ 3.000,00 (valor líquido) para usar como bem entendesse (inclusive para investir em seu livro se assim o quisesse) e outro valor (também definido junto à editora) para a realização da distribuição da obra publicada. A ideia foi ótima, porém não se contava no Governo, que nosso mercado editorial, ainda florente e desorganizado, não desenvolvesse ou elaborasse uma estratégia de distribuição eficaz já que estaria recebendo por isso. Como o autor é quem “controlou” o recurso, também ele não atuou junto à editora para planejar tal distribuição.
De qualquer forma, ficamos felizes ao saber que a maior parte do produto literário que vemos hoje surgindo na mídia e em lançamentos foram frutos dessa grande iniciativa do Governo do Estado do Ceará, por meio de sua Secretaria da Cultura.
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