sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

"Saudades, Infinitas Saudades!", de Pedro Salgueiro para O POVO


Desligado que sou, ando frequentemente no mundo da lua (mesmo debaixo deste calor causticante da nossa loirinha desmazelada pelo sol) quando tomo conhecimento de fatos e pessoas que faz tempo são muito conhecidos dos outros, e tomo da surpresa um susto, lendo a página na internet do mestre Ronaldo Salgado, descubro que existe um Dia da Saudade, paro o dedo nervoso de passeador de internet e quedo pasmo a ler a pequena pérola:

“AH, SAUDADE! QUE MODOS DE EXISTIR?

Tenho alguns amigos que costumam me cutucar com vara curta como se eu fosse onça pintada. Falam em alto e bom tom: "Cara, tu sempre quer um motivo pra beber!" Essa não é uma verdade nem absoluta nem relativa. É simplesmente uma verdade, entre tantas espalhadas por aí. Mas hoje, quando se comemora o Dia da Saudade, alguém aí tem o destempero de me criticar porque vou brindar a saudade? Du-vi-d-o-dó! Saudade é copo cheio de memória. E com memória não se brinca! Tenho até desconfiança de que uma e outra são retroalimentadoras entre si. Ora, a gente sente saudade do que viveu... Isso não é esteio de memória? E a gente guarda na mente e no peito esquerdo lembranças, reminiscências e recordações do que vivemos... Isso não é leitmotiv de saudade? Embaralha as expressões verbais para ver o que acontece! Saudade de pessoas, de datas e épocas importantes, de beijos e abraços fervorosos debaixo de sol quente ou de chuva indômita. Saudade de canções cantadas ou não em serenatas ao luar. Saudade de livros, filmes, discursos, gols, gestos, atitudes, carícias e carinhos, segredos e aventuras... Ora, pois tá! Até de bancos de praça onde se trocou o primeiro e interminável beijo sente-se saudade – pergunte a Ronnie Von, que cantou aquela música que nunca me sai da memória. Vixe, olha a memória aí de novo, juntinha com a saudade. É, gente, saudade é de vida e de morte. País, mães, avôs, avós, irmãos, irmãs, filhos e filhas, netos e netas, amigos, amigas, heróis de carne e osso e representacionais, ídolos... Eu tenho saudade até do Zé Pilintra, que eu não conheci, mas não sai do meu 1/4 de Bar – Terraço Poeta Sales! Pois taí um brinde à Saudade!”

Pronto, passei o dia inteiro a cometer saudades, não uma só, que sou repleto delas, vivo em faltas de dinheiros, vontades, coragens, mas empanturrado de recordações e saudades – o pensamento voou ao passado (tem razão o bardo da comunidade das Quadras da Aldeota: passado e saudade andam de mãos dadas sempre).

Lembrei-me devagarinho a infância, corri para os campinhos de futebol improvisados no meu Alto das Pedrinhas, lá pelo Tamboril de antigamente, mas não só os três ou quatro recantos que marcávamos entre grotas e areias e pedras, mas os dos bairros vizinhos dos Pereiros e Praça 11, onde disputávamos nossas primeiras pelejas mais organizadas; de lá a memória (e a saudade!) vagaram pelo campinho triangular da Rua de Baixo (que por ser caminho do cemitério, certa vez paramos o joguinho para que desfilasse rua abaixo um enterro: porém antes que o cortejo triste dobrasse à esquerda na Ponte da Mijada já recomeçamos a partida no mesmo local e lance onde havia parado), dali para o estranho campo do Morro do Tetéu, e recordei que lá de uma trave não se avistava a outra, seguia a lembrança para o Campo do Juremal, quando me dei conta já umas lágrimas me embaciavam os olhos.

Então lembrei que não deveríamos ter apenas um dia da saudade, mas um ano talvez, um mês, quiçá uma semana... Talvez bastasse alguns minutos por dia! E já que as saudades são infinitas, deduzo que – na verdade – jamais poderíamos delimitar um tempo para sentir saudades.

 



 

2 comentários:

  1. Só tem uma coisa que sinto.mais do que saudade nestes últimos tempos. Mas nem quero falar. rrss

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