O município de Pacatuba hoje está de LUTO*. É inadmissível
e inconformável a situação de ruínas que então nos apresenta.
Cantada em verso e em prosa por
muitos dos grandes autores das palavras do Ceará, a cidade, antes reconhecida
pela existência e permanência de seus casarões, sobrados e casarios que
resistiram durante anos, vem perdendo pouco a pouco o seu maior tesouro e maior
atrativo: o seu patrimônio histórico e arquitetônico.
Em apenas três anos, dois casarões
foram demolidos. Um deles, o maior de todos, o de Mariana Cabral, que conferia um
charme todo especial à praça onde se encena a Paixão de Cristo.
Agora perdesse este sobrado que
deveria ser para o povo pacatubano um símbolo da própria origem e orgulho da
cidade, um dos dois sobrados (parede com parede) do capitão Henrique Gonçalves
da Justa, o primeiro presidente da Câmara (leia-se intendente ou prefeito da
cidade), também o primeiro arruador e grande benfeitor de Pacatuba, que
empresta o seu nome, ainda hoje, à sua principal praça, que hoje assiste à
tragédia causada não pelas águas da chuva, mas pela desmemória, pela ausência
de legislação e políticas públicas eficientes nesse campo e, pior, por falta de
vontade política e do clamor popular por longos e imperdíveis anos.
Dói-me supor que a população não
sofra e não se envergonhe com isso.
Além dos referidos prédios demolidos,
percebo, toda vez que volto a Pacatuba, mais casas descaracterizadas, sem
nenhum incentivo de manutenção dessas fachadas. Este sobrado, percebia, cada
vez mais abandonado, mesmo quando ainda ostentava na triste sacada de ferro as
iniciais de seu saudoso proprietário: “H. G. J.”.
Em sua História da Seca,
Rodolfo Teófilo, protegido e grande amigo do capitão Henrique, escreve que no
dia de sua morte “a florescente Vila de Pacatuba cobria-se de luto e pranteava
a morte do seu benfeitor, o capitão Henrique Gonçalves da Justa. A fatalidade
pesava IMPLACÁVEL sobre a família cearense. Henrique Justa [...] dedicou-se,
desde os verdes anos [...] a trabalhar pelo engrandecimento e prosperidade de
Pacatuba, então pequena e acanhada povoação. Empregou grande parte dos seus
capitais em construir casas, aformoseando assim a futura vila, influiu para a
regularidade dos serviços públicos, animou a instrução, desenvolveu mais a
indústria, deu-lhe todos os elementos de prosperidade. Progredindo assim a Pacatuba,
e já ligada à capital por uma linha férrea, foi elevada à vila, de cuja Câmara
Municipal foi ele o primeiro presidente.”
Agora essa fatalidade. A sua
residência, supostamente também a primeira sede da farmácia de Rodolfo Teófilo,
líder do movimento abolicionista em Pacatuba, desmorona. Dizem que vão demolir
para segurança dos cidadãos. Há, sim, o risco de que, caso desabe, possa também
trazer com ele o outro sobrado, o denominado de “Sobrado da Abolição”, em ótimo
estado, restaurado e com uma função pública excepcional na cidade (aliás, atualmente
em crise, com cursos cancelados por falta do apoio da Secretaria da Cultura do
município).
Não podemos permitir que aconteça
esse desastre, mas gostaríamos, sim, que a Secretaria da Cultura do Estado se
manifestasse por meio de seu Conselho, em interlocução com a Prefeitura
Municipal de Pacatuba e a sua Secretaria da Cultura, que não se calassem diante
do sinistro e que não deixasse mais este caso impune.
(*) o acontecido se deu em 18 de março de 2023.
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