No tempo da era num pedaço esquecido do
agreste...
As folhas
descansavam adormecidas onde uma mulher, em águas rasas da lagoa, deliciava-se.
Molhava os cabelos lisos, negros e curtos e, com as mãos bramosas, esfregava o
pescoço.
Um
observador, descalço, caminhava sobre as gretas secas do chão e, cortejando-a –
ela a dançar ao redor de uma bacia de barro –, arriscava palavras absurdas num
instante de amor.
Em meio a
tudo, via-se, sob o luar frio, os pequenos seios alvos e azuis e os mamilos
orlados em rosas. Sua pele era úmida e branca de leite, beijocada de
inquietudes e sossego: “Quanta vida
contida naquele berço de pecadilhos viciosos!”
Não havia
vento, não havia frio, mas calor também não havia. O verde era xique-xique,
mandacaru, agávea... “O meu boi morreu. O que será de mim? Manda buscar outro,
menina, lá no Piauí.”
Pausa! – noite
gelada – Num inesperado sonho, à cabeça da mulher, luminou-se a ideia de casar.
A noite findava, clareava-se a manhã ardente! Sol a pino, caçada a tejos!
Então, sem muito pensar, pensou: “Quem seria o seu par? Quem haveria de sê-lo,
naquele lugar tão ermo e esquecido?” Uma jiboia solitária arrastava um
linguajar sem venenos: “Um rei? Por que não? Teria um mundo de riquezas e
serviçais. Desejos um a um satisfeitos. Quem sabe não se arrastaria nas asas da
luxúria?” Mas teria tudo, mesmo? Um jovem vaqueiro não poderia dar-lhe mais?
Talvez apenas um pouco de amor... “Amor? Ôxe, por que não? O amor ela não teria
mesmo em troca de seu maior tesouro!” Convenceu-se, inebriada no licor do mel
da jandaíra.
Um cão-cão
solitário de arregalados olhos amarelos anunciaria o iminente perigo; as folhas
cairiam; a mata esbranqueceria; os espinhos se retesariam e apontariam para o
céu desestrelado!
O rei, num
arremedo de si mesmo, ficaria furioso. Ameaçaria e travaria embates, numa
peleja sem fim contra o pobre aventureiro, e ele certamente não seria páreo aos
golpes do malvado. “Naquele reino, já se sabia: quanto mais se tinha, menos se
contentava em ver a felicidade por tão pouco...”, pensava o observador
apaixonado de cócoras na lagoa.
Assim, o
aventureiro, passados nele os maneadores, assistiria indefeso ao amputar de seu
orgulho. Nada mais restaria a ele, a não ser a fuga logrativa da morte: suicidar-se-ia!
Os
estilhaços de seu amor se esparramariam, cobertos em lama, no fundo de um caçuá
de cipós. O juazeiro, única testemunha da iniquidade, triste se desgalharia.
Mas ninguém
pode, simplesmente, destruir o que um coração constrói! A moça branca de seridó
não descansará enquanto não descobrir um meio, qualquer um, de separar a vida
da morte e, então, poder ser feliz com o homem que ela ama.
“Meu senhor
dono da casa, faz favor de me escutar. Eu pergunto pro senhor se tem Reis para
nos dar...”
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