O ano de 2020 não foi apenas o ano da pandemia, mas de aprendizado.
É certo que
a história mundial desse nefasto agente agressor não será esquecida, em
especial por aqueles que perderam familiares e/ou amigos durante a sua
vigência. Também como é certo que culturas, estratégias e hábitos “novos” deverão
permanecer e outros serão criados na iminência de prováveis – por que não? –
novos agentes potencialmente perigosos em um futuro – se deixarmos esse futuro
acontecer.
É incrível
que um germe tenha o poder de fazer sumir os sorrisos, não apenas pelo uso
protocolar das máscaras, mas pela insegurança, pelo medo, pela constatação de
nossa pequenez e fragilidade diante do universo.
Infelizmente
não pensamos nisso todos os dias, pois se o fizéssemos não teríamos coragem nem
de jogar papel no chão, desperdiçar água na lavagem de carros ou de calçadas e
das torneiras de casa, entre outros maus costumes que nós ainda teremos que
assistir, pois com tudo isso que aconteceu e que acontece, homens e mulheres
ainda se unirão todos os dias, na sua irresponsabilidade e descompromisso
rotineiros, para transformar esse mundo num local pior e impossível de viver.
A
hipocrisia, o consumismo, a ignorância, o preconceito, a violência, entre
tantos outros atributos de uma não civilização, em pleno século XXI, são
encontrados em cada esquina, muito bem maquiados e vestidos, com ares de
bem-sucedidos, privilegiados muitas vezes por “padrinhos” ou eleitos em
“temerosas transações”, bastando um pouquinho de convivência ou a emissão de
umas poucas frases para se perceber tratar-se de uma farsa, alguém “que se
passa”, vazia e inútil.
Muitas
dessas pessoas (parasitas) agem toxicamente na sociedade, contaminando a outros
iguais na sua incapacidade de leitura de mundo ou de empatia, sem chance de
reflexão e/ou de crítica, prisioneiros do seu exclusivo querer, do seu
individualismo, da sua mania de julgar os outros pela sua história cômoda de
privilégios.
Contudo,
disfarçam bem, sorriem bastante, aparentam generosidade e fé, porque necessitam
de aprovação, precisam ser reconhecidos. Eles, muitas vezes, ocupam cargos em
instituições públicas e privadas – e pasmem: até educacionais e órgãos do Poder
Público – e nelas atuam como capachos, uns lambe-botas, prontos a servir e a
vender a alma se preciso para não perder o assento que, pela competência e
talento, jamais conseguiriam. Porém, estarem lá já denuncia o nosso fracasso.
Muitos, em
atitude fascista e em prol de fomentar a sua cruel e tirânica perseguição
social – compreender a democracia para eles é impossível –, usam a bandeira de
suas pátrias e o discurso religioso como escudos, conquistando milhares de
pessoas anestesiadas pelo ideal da salvação espiritual ou cantadores automáticos
de hinos. Não entendem que a bandeira de um país é apenas um trapo velho se não
tratamos de cuidar daquilo que ela representa, que é o seu povo, as suas
riquezas (naturais, materiais, imateriais), a sua cultura, a sua identidade,
elementos hoje que estão sendo covardemente abatidos.
A pandemia
nos revelou muita coisa sobre essa gente. Muitos dos seus (des)valores nos
foram revelados. “Caíram as máscaras” (essas máscaras) e só não vê quem não
quer, quem não aprendeu ou não consegue mais aprender nada, que vive nesse
mundo plano da Idade Média, propagando um deus particular que serve unicamente a
seus propósitos de ostentação e poder.
Eu acredito
em mudança, no aprendizado planetário. Naqueles outros. Acredito em 2021.
Excelente texto, Raymundo. Eu também estou botando fé no ano de 2021. Mas botando o pé na frente, devagarinho, como quem atravessa um rio. Um rio de águas muito sujas.
ResponderExcluirPara não dizer, "lama", né, Zélia? rsrs É isso mesmo. Obrigado.
ResponderExcluirExcelente e "didático" texto que nos faz abrir os olhos para o que não queremos ver! Que venham tempos melhores em 2021!
ResponderExcluirSim, poeta, com certeza. Obrigado pela leitura.
ExcluirMuito bom ler o seu ponto de vista sobre a fase que estamos vivendo. É confortador sentir quando alguém tem clareza sobre o cenário e o comportamento de seus mal-amanhados personagens. Feliz 2021!
ResponderExcluirObrigado, Malvinier, pela sua leitura e retorno.
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