“Outra que te ame mais do que eu, não encontras, amor. Eu
garanto!”, batia nos peitos fartos de comovente vaidade romântica, logo naquele
instante de não sobrar espaço para discussão nenhuma, mas apenas para ação, e
ligeira, pois a moça, pelo menos entre quatro paredes, não se saciava com pouco
e menos se fazia esperar.
Dedé,
despreparado para as coisas do amor, como a maioria dos homens, cumpria o
ritual amoroso, a princípio com um orgulho besta e viril, chegando com pouco às
fronteiras do assombro e frustrando-se na constatação primeira da sua
impotência diante do excesso libidinoso inalcançável da nova namorada.
Ela
o consolou: "Nada não, querido, amanhã a gente tenta ir um pouco mais.
Você está tão cansadinho..." E o abraçou com tamanho afeto, de quase
colocá-lo no colo e embalá-lo no prelúdio de uma noite que parecia nunca
acabar.
Noutro
dia, no trabalho, com o colega Armando argumentava em causa própria: "Eu
não sei o que ela tem. É um fogo sem fim aquela mulher. Eu sozinho não aguento.
Não dou conta."
Essa
vergonha íntima era tamanha, que a repetia como canto de cigarra, todos os
dias, na pausa do cafezinho. Armando, num primeiro momento, pensou tratar-se de
gabolice de macho. Depois, tomou a liberdade da inveja e, por fim, noutro dia,
daqueles provavelmente em que o cão atenta, passou a ser consumido pela
curiosidade daquela mulher obsessiva por prazer. Arriscou: “Você vive
reclamando da doida de sua namorada. Por que não termina logo e passa a bola?”
“E
ela deixa? Deixa, não, meu amigo. Aquela quando gruda... Capaz de morrer, ou pior,
de matar. Ou ambos... o que vier primeiro.”
“E
se fossemos os dois? Digo, se sozinho não dá conta, quem sabe se com nós dois?...”
A
ideia era de um despudor escancarado. Um absurdo que, por isso mesmo, numa
lógica agostiniana, poderia dar muito certo. Armando, sentindo a hesitação, não
teve dó: “Vai por mim, Dedé, ela vai amá-lo ainda mais. Mulher assim tem
que surpreender. Com nós dois, ela vai lamber os seus pés!”
Então,
naquela tarde, mesmo temeroso, aparecia no apartamento dela com Armando, que
era só sorrisos, suando as mãos numa ansiedade de criança em loja de
brinquedos. Sentaram-se no sofá como velhos conhecidos e riram muito com a
proposta do terceiro. Dedé meio sem jeito capitulava num gaguejado medonho:
"Benzinho, ele é doido. Falou e eu trouxe, mas é tonteirice. Como
pode?"
Mas
ela, por outro lado, lambia os beiços. Seus olhos pareciam foguetes de S. João
a devorar com espinha e tudo o seu solidário amigo. Nem mal o namorado deitava
a última vogal, foi arrebatado por ela, a tomar-lhe a boca, enquanto ao mesmo
tempo trazia na chave de braço o pescoço do outro.
A
vizinhança nem estranhava mais aquelas agitações no apartamento da moça, mas
naquele dia havia algo de violento, de terríveis proporções. Era um arrastado
sem fim, uns baques nas paredes, uns gritos indecifráveis de prazer e de dor.
Há quem pensasse em chamar a polícia, os bombeiros, a sociedade protetora dos
animais, um exorcista, mas não, apenas aguardaram de portas e olhos abertos
para ver o que se dava ou se tirava dali.
Horas
depois, na madrugadinha, alguém jurou ver um vulto correr nu, a toda, pulando a
varanda e gritando acudas. No olhar tresloucado, o pânico! Era Armando.
Já
pela manhã, o casal saía alinhado de banho feito e tomado. Ela dizia, melosa: “Docinho,
na partida de hoje à noite não aceito banco reserva, não. Só o titular, viu?”
No
trabalho, soube, Armando faltara. Estava mal, nem sabia o quanto. Dedé, então,
pegou o jornal e, como não quisesse nada, aproximou-se de Reinaldo num lamento inconformado:
“Amigo, eu não sei o que ela tem. É um fogo sem fim aquela mulher. Eu sozinho
não aguento, não dou conta. Não, mesmo!”
Que loucura! Adorei esse texto. Dei ótimas gargalhadas, viu?
ResponderExcluirQue bom! Quem é você?
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