Todas as pessoas desse mundo, nas suas vidas virtuais ou
reais, se acham no direito de ao menos um dia no ano entregar-se a resmungar
por algum motivo, ou protestar contra um mau serviço postando uma denúncia nas
redes sociais. Pois bem. Hoje é meu dia.
Quero gritar aos quatro ventos: que fim levaram as bancas de revistas de
Fortaleza?
Assumo a mea culpa. Sou de uma
geração que passou a consumir informações, literatura, entretenimento em
plataformas digitais. Foi um processo tão sutil que nem me dei conta que estava
ali a acompanhar quase tudo nos sites e redes sociais. O acesso é rápido,
prático, barato. Que pecado há nisso? Contudo, fecham as bancas.
Das lembranças mais agradáveis que eu guardo da infância, as bancas
situam-se em um lugar de destaque. Será que esse hábito teria influenciado
minha escolha em tornar-me jornalista? Talvez, pois me lembro dos primeiros
textos publicados nos encartes infantis. Esperava os finais de semana para
andar pelas ruas do bairro, passar no armarinho e comprar papéis de carta, como
muitas meninas da minha geração faziam. Para em seguida, ir correndo ver as
revistas em quadrinhos da Turma da Mônica
ou os novos álbuns de figurinhas...
Depois veio a fase das revistas de adolescentes, dos materiais de
estudo, das revistas de culinária e por fim as de literatura e jornalismo...
Nas bancas comprávamos os jornais para ver as listas de aprovados no
vestibular, se não tivéssemos nervos para ouvir pelo rádio ou pelo simples
prazer de guardar aquele documento sentimental.
É contraditório, porém, sou entregue às novas plataformas, mas, não
totalmente. Tenho o gosto “antigo” de ser feito traça, de ter a leitura como
uma experiência sensorial de tocar o papel. Seguindo sempre um ritual: gosto
mesmo é de folhear rapidamente, um jornal ou revista e já selecionar os
conteúdos de meu interesse, e depois fazer a leitura cuidadosa dos textos.
Quando trabalhei em uma editora, era dia de festa quando as revistas chegavam
da gráfica, abrir os pacotes e sentir o cheiro de publicação nova... Novos comportamentos
de consumo de informações, baixa demanda por jornais e revistas impressos, a
crise. Como sobreviver a essa avalanche? Não sei. Só lamento.
Luiza Helena Amorim
luiza.helena.amorim@gmail.com
Jornalista e escritora
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