O Brasil, enquanto país, enquanto povo, não
existe. Uma piada, uma melopeia, uma paródia. Saqueado, de(s)cantado e mal
influenciado, desde que as invasoras e xenófobas naus cabralinas trouxeram a sua má influência e a sífilis, tem a
tradição de sujeitar-se e render loas a quem lhe prega cravos na palma da mão.
Os que detém o poder calam, arruínam, escravizam e extinguem, pelos meios
possíveis, mais frios e cruéis – mesmo quando por expedientes divinos –,
aqueles que contestam a tirania, a vilania, a ambição e a sua exploração. Esse
poder tupiniquim, o mais covarde, conseguido à custa do berro, da força, da
extorsão do trabalho e da vida alheios, por meio de corrupção, roubo,
contrabando, sonegação, agiotagem e que se perpetua na escola colonial, regida
por dirigentes e empresários analfabetos, rudes e desumanos, a usar e
lambuzar-se, em proveito próprio e dos seus, do que chamamos de leis e de
autoridades. Eles sabem que tais leis e que tais poderes, pela mesma “força da
grana que ergue e destrói coisas belas”, lavam com a língua as solas de seus
sapatos, enquanto da mesma boca lançam as presas contra os desvalidos, “os
pobres nas filas, nas vilas, favelas”, sugando-lhe a alegria, a virtude, a
dignidade e a esperança.
Com a história
desenhada por pouca vergonha e muito mau-caratismo, cercados de ruínas,
mentiras e podridão, nos acenam e encenam o projeto de uma sociedade justa,
livre e igualitária, enquanto se vestem da democracia fraudulenta e competente
apenas na promoção da desigualdade social, da injustiça e da concentração de
renda.
A ordem e o
progresso desse país sempre vieram pela chibata, oprimindo o povo em currais,
morros e periferias, massacrado pela ausência de cultura, por uma oferta de
baixa educação e excesso de novelas, ludibriado por discursos chinfrins e
inverossímeis, cargos de prefeitura, vagas em secretarias, pererecas e/ou
tijolos. Os demais, aqueles ainda conscientes de que o poder deveria emanar do
povo, insistem em manifestações tão pacíficas, beirando um Carnaval ou desfile
colegial, não fazendo sequer cócegas neste governo sem moral nem credibilidade.
Afinal, o que esperar do exangue judiciário e do supérfluo tribunal FEDEral,
uma rapariga cega cuja lâmina só é afiada quando apontada a serviço desse poder
contra os mais fracos ou seus opositores políticos? E do Congresso Nacional, cheirando
a gasolina e a churrasco, hoje, a maior representação da criminalidade do país?
E o pior: nós ainda permitimos que esses canalhas, em nome da pseudodemocracia
– os partidos políticos são o maior fracasso desse processo –, decidam o nosso
futuro, enquanto essa malta de caretas engravatados e togados, protegida pelas forças
repressoras pagas por nós, zomba e esbanja as riquezas do país, se apropriando
delas, comprando espaços de TV e globais para as festas particulares, se
mostrando em capas de revistas e em colunas sociais, embriagando-se, consumindo
drogas, joias, bolsas, silicones e outros acessórios pelo mundo e restaurantes afora,
pois aqui se garante a impunidade, a malsonância do código legal, a venda da
dignidade por esmolas do cada um por si.
Os que
detém a riqueza hoje estão no poder, numa correria de navio afundando,
garantindo as suas imorais conquistas, que chamam de reformas, entre outras
manobras anticidadãs, em nome do povo e contra o povo.
E nós, até
quando? Até quando?
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