sábado, 3 de junho de 2017

"Adolfo Caminha: 150 anos", de Sânzio de Azevedo para O POVO

Ilustração: Carlus Campos

       Temos um sesquicentenário: Adolfo Caminha, que nasceu no Aracati em 29 de maio de 1867, honra as letras de sua terra, e veio a falecer no Rio de Janeiro em 1º de janeiro de 1897, portanto antes de completar trinta anos de idade.
       Notável ficcionista, dois livros seus, A Normalista (1893) e Bom-Crioulo (1895), garantem sua presença na literatura brasileira.
       Foi oficial da Marinha, fez parte do Centro Republicano do Ceará e, apesar de ter tido uma polêmica com Antônio Sales, foi convidado por Sales para ser um dos membros da Padaria Espiritual, o mais original dos grêmios cearenses do século XIX. No jornal do grupo, O Pão, escrevia a secção “Sabatina” com o nome de guerra Félix Guanabarino.
       Mas antes disso foi protagonista de um escândalo, ao se ligar a uma mulher que o amava, mas que era casada, e com um alferes do Exército. Depois de idas e vindas, como seus superiores quisessem mandá-lo à Europa, decidiu se demitir e foi ser funcionário do Tesouro.
       Começou romântico na literatura, mas seu primeiro romance, A Normalista (1893), é obra naturalista, como o segundo, Bom-Crioulo (1895), tendo este último sido traduzido para o inglês, o francês, o alemão, o turco e não sei mais quais idiomas...        
       Para dar uma ideia de sua prosa, leiamos o início d’A Normalista: “João Maciel da Mata Gadelha, conhecido em Fortaleza por João da Mata, habitava, havia anos, no Trilho, uma casinhola de porta e janela, cor d’açafrão, com a frente encardida pela fuligem das locomotivas que diariamente cruzavam defronte, e donde se avistava a Estação da linha férrea de Baturité.”  
       Várias edições desse livro foram publicadas com alterações indevidas, mas, com a ajuda do saudoso José Bonifácio Câmara, pude preparar em 1998 uma edição com base na primeira, de 1893.
       Aliás, o Armazém da Cultura, dirigido por Albanisa Lúcia Dummar Pontes, está editando esse livro, assim como a 3ª edição de Adolfo Caminha: vida e obra, escrito por mim em homenagem a esse escritor, que é o Patrono da Cadeira nº 1, que tenho a honra de ocupar na Academia Cearense de Letras.
       O escritor publicou ainda um livro de viagem, No País do Ianques (1894) e um de crítica, Cartas literárias (1895). Após sua morte saiu, com a data de 1896, Tentação, seu último romance.
       Graças a Ítalo Gurgel, a Coleção Nordestina publicou, pela UFC, a 2ª edição das Cartas literárias (1999) e o livro Contos (2002), com onze narrativas do escritor.

Sânzio de Azevedo
Doutor em Letras pela UFRJ;

membro da Academia Cearense de Letras



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