Sânzio de Azevedo
Doutor em
Letras pela UFRJ e
membro da
Academia Cearense de Letras
sanziodeazevedo@gmail.com
Rodrigo Marques,
meu amigo e professor da Uece em Quixadá, presenteou-me com um exemplar do Almanaque Brasileiro Garnier de 1908,
sob a direção de João Ribeiro. Sabendo-me estudioso da literatura cearense, a
razão do presente é o fato de nesse livro haver umas “Redondilhas de José
d’Abreu Albano”. Como esta “Esparsa”: “Há no meu peito uma porta / A bater
continuamente, / Onde a esperança jaz morta/ E o coração jaz doente; / Em toda
parte em que eu ando, / Oiço este murmúrio infindo: / São as tristezas entrando / E as alegrias saindo.”
Possuo três
opúsculos sob o título geral Rimas de
José Albano, editados em 1912, em Barcelona, Espanha, nas oficinas de Fidel
Giró. Num deles, Redondilhas, esta
“Esparsa” traz no verso 4º “coraçam” e, no penúltimo, “sam”, em vez de “são”.
Houve quem achasse que o poeta queria salientar o caráter arcaico do poema. Mas na Antologia
Poética publicada em Fortaleza, em 1918, deixaram de aparecer essas formas,
o que me levou a concluir que se tratava de recurso para contornar o problema
tipográfico de não haver na Espanha o til sobre vogais.
Os outros
opúsculos são Alegoria e Cançam a Camoens e Ode à língua portuguesa.
Note-se que o nome de Camões está grafado à maneira espanhola.
O menos
desconhecido texto de Albano é o soneto que se inicia assim: “Poeta fui e do
áspero destino / Senti bem cedo a mão pesada e dura. / Conheci mais tristeza que
ventura / E sempre andei errante e peregrino.” Manuel Bandeira, que em 1948
organizou as Rimas de José Albano,
disse que esse soneto “nos soa em verdade como um soneto póstumo de Camões”.
Prefiro ficar com Braga Montenegro, que escreveu: “assim como Camões imitando
Petrarca redigiria o soneto camoniano, José Albano imitando Camões comporia o
soneto à própria maneira”.
Desconsiderando
os fracos poemas nos jornais de Fortaleza em 1901, creio que essas redondilhas
do almanaque presenteado por Rodrigues Marques são os primeiros poemas de
Albano publicados no Rio de Janeiro.
Mesmo
escrevendo no século XX à maneira quinhentista, José Albano (1882-1923) foi
considerado por Manuel Bandeira “um altíssimo poeta”. E o grande Manuel Bandeira
era um vanguardista.
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