Numa
palavra: intraduzível.
Semiótica às
favas, e com ela a “estupidez” conceitual e seus tangentes quadradismos, você perpassa
por extremos que se comungam com desembaraçado misto de criatividade e lógica.
A primeira, traço que, para mim, é a marca maior de sua natureza indomável, e a
segunda, fruto da sua impossível busca de segurança.
Como do
mar a onda que verdeja silenciosa na areia àquela que se rasga em ribombos,
forte e irrefreável, nos diques, em ressaca, nos chega: a voz neutra modulada pela
fala com correção em tom professoral, o castanho olhar analítico, o pensamento
encadeado por reminiscências selecionadas da infância de quem era feliz e o sabia,
a sensibilidade aguçada e a memória musical pulsante viva e apaixonada quase a gritar
(ou a literalmente gritar).
Quando em olhar
distante a acompanhar, no corredor “do café”, a fumaça sinuosa do “Carlton vermelho”, a rigorosa inquiridora
e voluntariosa inquirida se abraçam, os conflitos se arraigam e se dissipam na
cabeça corajosa de uma menina moleque de Noronha que desfila, magra, alta e
bela, num corpo flor, ou à la fleur de la peau,
de mulher. Assim como “a poesia que não respeita nada, que beija, acolhe no
colo e promete incendiar o país” você vem e o tédio do dia se entorna em cor.
De tudo o
quanto a comporta o coração encoberto, intenso, seletivo, quase impenetrável e
só (mesmo fiel, você é sempre só, como as onças), é presente e subversiva como
a boa poesia (e daí Gullar), sua certeza é perturbadora, sua doçura é
envolvente, sua presença é inquietante.
“Uma parte
de si é permanente, outra parte se sabe de repente. Uma parte de si é só
vertigem; outra parte, linguagem.”
Impulsionada
por desejo enleado em razão explícita, quando sorri o mundo inteiro delira em seu
rosto. Quando acolhe, seus braços são nuvens. Quando explode, é furacão.
Dentre as
coisas de todas, conhecê-la, aos poucos e sem pretensão de sabê-la inteira e
toda, encanta-me, revela a visão de um mundo largo, arrebatante e original no
qual ingresso, muitas vezes, na tentativa de margear a dor da obviedade institucionalizada
de nosso mundinho, mesmo passeando despreocupados (e atrasados) pelos
corredores quando “nos seus olhos também posso ver as vitrines lhe vendo
passar”...
“Sabe, no
fundo eu sou um sentimental” que fica feliz por tê-la por perto, inclassificável
sobrevivente barroca, tão perto, e longe, a assistir a sua vida caminhar a
passos de tango, disciplinados e de rompantes.
“Sem música, a vida seria [e é] um erro.”
(Nietzsche)
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