O Sol
reluz ardente e, ainda assim, insisto em mirar na manhã uma arraia colorida a
riscar de surpresa um meu caminho (perdido caminho, escolhido sem quereres).
Por vezes empanada
entre nuvens cândidas e melancólicas, ela baila frouxa sobre o suor das rugas em
meu rosto (cicatrizes de sonhos), a se amostrar, como a reconhecer-me (eu me
lembro dela, mas lembro pouco de mim).
Desce,
sobe, se esquiva e desce de volta (eu estou de volta, mas para onde?), como uma
rainha dos céus, onde residem os espíritos e o espelho de todas as paixões.
Com o dorso
acalentado pela névoa azul, caminha ela, em sorriso largo e inocente, sem
limites, nesses ares (mesmos ares), arqueando a sua espinha sinuosa, deixando um
rastro lembrançoso no coração (o que foi que eu fiz?).
Embalado numa
corrente de perguntas e desejos esquecidos, aprecio cada um de seus instantes e
sinto que ela sorri para mim (já faz tanto tempo...): “Como eu gostaria de voar
com ela, de ser como ela, de não tê-la esquecido!”
Em um repente,
emenda uma mesura rápida e se aproxima vaga e desembaraçadamente como um beijo (minha
mãe). Já é hora de partir. Ela sabe...e ela sobe. Pois há no céu outra igual,
não tão bela nem tão feliz, a recusar a convivência nas extensas terras
celestes. Então, a vejo se defender numa disputa sem razão que prossegue
delirante lá no alto (por que me deixei estar tão distante?).
Ao final,
foi ela, a minha rainha, perversamente malferida pela rival: “Ela está caindo!
Ela está caindo!”. Desespero-me! Mas não tem por que, pois, ao olhar para o
lado (e bem no fundo, no fundo...), descendo pela rua, um fiel séquito de crianças
– Netinho, Luiz, Lice, Mi, Thetê e Dedé (o que será deles?) – corre entre
berros alegres, acenando-lhe em socorro e em amores.
Eles irão ampará-la
e dar-lhe abrigo. Eles sabem que ela é, sim, a mais bonita. Sabem que chegou a
hora de ela subir e de ser livre outra vez. Eles sabem (e sonham), mais do que
eu, que ela é uma estrela única, e, como tal, deve erguer-se, alçar seu rumo, pois
no céu não há barreiras, a vida é inteira e o tempo não passa (o meu passou)
nunca mais!
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