segunda-feira, 25 de abril de 2016

"Fala de Bicho, Fala de Gente", de Marlui Miranda, o CD e o show.


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CD “Fala de Bicho, Fala de Gente”, de Marlui Miranda, uma recriação musical de 15 cantos da tradição Juruna adaptados e arranjados por Marlui Miranda e John Surman.
Leia a seguir como se deu o show de Marlui no Cineteatro São Luiz, no sábado, dia 23 de abril de 2016.
Sobre o show “Fala de Bicho, Fala de Gente”
Fonte: Ascom/ Secult
No Cineteatro São Luiz, público se emocionou neste sábado, ao som de MARLUI MIRANDA e da herança indígena
Uma noite de muita emoção, respeito e sensibilidade com a cultura indígena, representada pela música de diversos povos, reunida e interpretada pela cantora, instrumentista e pesquisadora cearense Marlui Miranda. Assim foi o show especial promovido no Cineteatro São Luiz, equipamento da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, encerrando a semana especialmente dedicada à arte e à cultura indígenas, com grande presença de índios de diversas tribos no cineteatro, ao longo de vários dias, com a mostra de cinema "Olhar Nativo" e as demais atividades em comemoração ao Dia do Índio.
Um ótimo público, incluindo índios Jenipapo-kanindé, Anacés e Taperas, compareceu ao São Luiz para conferir, às 18h deste sábado, o show de Marlui Miranda, ao lado de mestres da cena instrumental brasileira, como Paulo Bellinati (violão), Rodolfo Stroeter (contrabaixo) e Caíto Marcondes (percussão). Chamando atenção pela elaboração harmônica, capaz de surpreender quem esperasse maior simplicidade em um show devotado à música indígena, e pela complexidade rítmica expressa tanto por Caíto quanto por Ricardo Mosca (bateria). Um mergulho em um pouco do infinito universo musical dos índios brasileiros - um painel tão vasto que, conforme ressaltou Marlui, "não há ser vivente que dê conta de um milionésimo dele, porque cada povo é uma nação".
"Eu não falo tantas línguas. Eu canto. A minha opção foi olhar para um pouco da música indígena do Brasil", disse Marlui, ainda no palco, após o show em que entoou principalmente músicas do povo Juruna, mas também dos Ianomâmis, dos Paracanãs, dos Caiapós e dos Tremembés, entre outros. Sempre chamando atenção do público tanto por sua voz privilegiada quanto pela expressividade com que dava vida a melodias, ritmos, ambiências sonoras, sentimentos tornados música e compreendidos apesar da distância verbal e cultural. "A música é o canal melhor pra falar com quem você não conhece", ressaltou Marlui.
Múltiplas referências sonoras
Entre muitas referências sonoras, espaço também para citações ao blues, ao jazz, ao baião, ao Uakti e até ao Clube da Esquina, nos arranjos lindamente costurados pelo violão de Marlui e pelo quarteto, com destaque para Paulo Bellinati e Caíto Marcondes. Todos percorrendo o repertório do disco "Fala de Bicho, Fala de Gente", com cantigas do povo Juruna adaptadas e rearranjadas pelo inglês John Surman. Outro destaque do show foi a conversa entre Marcondes e o batera Ricardo Mosca, senhores do tempo levando ao limite a vivência musical e a pulsação rítmica.
"Juruna canta essas músicas tudinha pras crianças dormir, de tarde, quando o povo vai trabalhar. De tarde, porque de noite não precisa", comentou, ao final de uma cantiga de ninar à Marlui Miranda. Os sons da mata também estiveram sempre presentes, também nos "samples" acionados por Caíto, em meio a uma infinidade de instrumentos percussivos, ajudando a contar as histórias de Marlui. Para, mais que entenderem, todos sentirem.
Homenagem ao cacique Daniel
Marlui Miranda agradeceu a toda a equipe da Secult e do Cineteatro São Luiz, pelo espaço aberto para a música dos povos indígenas, e dedicou o show ao Cacique Daniel, líder do povo Pitaguary, falecido nesta semana. A apresentação musical neste sábado foi precedida pela exibição do filme "As Hiper Mulheres", na programação intitulada Sessão Sonora, que sempre une filme e show, no São Luiz.
Artistas na plateia e "abraço do Brasil"
Vários artistas compareceram ao show de Marlui Miranda no Cineteatro São Luiz, a começar pela escritora Ana Miranda, irmã da musicista. O compositor e pianista Ricardo Bezerra e os escritores Tércia Montenegro e Raymundo Netto também conferiram a apresentação e se emocionaram com a verdade da arte de Marlui, que após o show conversou com o público, em um clima de proximidade e simplicidade.
"Faço música no trânsito. Tem épocas que viajo até as aldeias, mas hoje os índios vêm na cidade pra gente discutir, vem criando uma relação de confiança, que demora a se consolidar", revelou. "Até hoje não descobri a que tribo pertenço. Então, pertenço a todas. É muito bom chegar e ser acolhida, ser abraçada, sentir esse abraço do Brasil".
Mais sobre Marlui Miranda
Cantora, compositora e arranjadora, produtora cultural, dedicada há quase trinta anos à pesquisa e produções musicais na área da música indígena, Marlui Miranda é reconhecida como a mais importante intérprete e pesquisadora da música indígena do Brasil.
Marlui Miranda recebeu a Medalha do Mérito Cultural do Ministério da Cultura em 2002, em reconhecimento à sua contribuição à cultura no Brasil. Recebeu em dezembro de 2005 o Prêmio Chico Mendes de Meio Ambiente, por sua contribuição ao desenvolvimento da cultura e sustentabilidade na Amazônia Brasileira. Foi supervisora musical do filme de Hector Babenco “Brincando nos Campos do Senhor” e recebeu o prêmio de melhor trilha sonora no Festival de Cinema de Brasília com o filme “Hans Staden”, de Luís Alberto Pereira.
As interpretações de Marlui Miranda no disco “Fala de Bicho, Fala de Gente” possibilitaram uma combinação proposital de ingredientes brasileiros e estrangeiros (africanos, celtas), que sintetizam as personalidades de cada um resultando num caráter universalista que é inerente à música Juruna. O resultado é um trabalho primoroso e, acima de tudo, respeitoso de recriação para o povo Juruna, apresentando o repertório com a devida consideração por importantes fatores de sua ordem cultural.


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