As Gabrielas autoras (divulgação)
Digital tem um
grande terreno a conquistar no Brasil, mas tem alguém ensinando os leitores a
usar tudo isso?
A Editora Alpendre surgiu em agosto de 2013 como uma empreitada
exclusivamente digital. Desde então, estamos caminhando devagar e com empenho,
vendo muito potencial para os e-books no país e tratando os livros digitais com
o mesmo cuidado e carinho com que sempre trabalhamos em outros meios e
veículos. As possibilidades do mercado, como têm mostrado pesquisas e artigos,
efetivamente existem: o acesso à tecnologia é cada vez maior, as crianças sabem
cada vez mais usar aparelhos eletrônicos, só no Brasil temos mais de 150
milhões de smartphones e outros 20 e tantos milhões de tablets (sem falar em
computadores pessoais), 32% dos consumidores leem mais de um livro ao mesmo
tempo, outros 6% estão acostumados a ler em meios de transporte... É um terreno
e tanto para o digital e, mesmo assim, talvez ninguém discorde de que já
poderíamos ter crescido mais nessa seara.
E então nos ocorre uma pergunta
básica: tem alguém ensinando os leitores
a usar tudo isso? Tem alguém dizendo para as pessoas que, além do jogo X ou
do aplicativo de paquera Y, é possível instalar no celular um app (grátis!) que
permite a leitura? Muita, mas muita gente que conhecemos – gente acostumada a
ler, bem informada, que faz compras online e já tem tablet e smartphone – ainda
fica com cara de nuvem quando falamos em livros digitais. E a questão nem passa
pela conversa boboca do “ah, mas gosto do cheiro de livro”. É desconhecimento
mesmo. Há quem pense que, para aproveitar esse meio de leitura, precisa de um
Kindle ou “daquele aparelho que vende na Cultura” (a gente sempre fala: “o nome
é Kobo!”). Pior: existe, e aos montes, quem já viu um PDF malfeito e acha que
“putz, a leitura digital é muito desconfortável”.
Estamos falando, aqui, do básico. De
educar o público. De atitudes que promovam o digital, que se proponham a
apresentar os leitores ao formato, pegar os caras pela mão e mostrar como é
bacana, como pode ser prático.
Somos uma editora pequena e 100%
digital que ainda está no início do que esperamos ser uma longa jornada. Assim
como nós, existem outras empresas do tipo, e é uma alegria sincera saber que
surgiu mais uma, e mais uma, e mais uma. Será que não vale nos unirmos –
editoras digitais e departamentos digitais das editoras de papel – para
promover essas atitudes? Todos juntos somos fortes, como já ensinava aquela
música do Chico Buarque há quase 40 anos.
Três ideias rápidas:
· Uma campanha conjunta das editoras,
no Facebook, estimulando a leitura digital. Cada uma faz uns dois ou três memes
de incentivo, usa sua própria base de curtidores e replica os posts das outras.
(Fizemos uma experiência no ano passado, com memes divertidos que terminavam
dizendo “Acredite nos livros digitais”).
· Promover mais encontros
“autor-leitor” para apresentar o digital ao público. Nada de palestras chatas
sobre o tema, claro. Mas nossos autores não podem ser nossos melhores
porta-vozes se chegarem a um bate-papo e lerem um trecho do livro no celular,
no tablet, no e-reader? Que nos perdoem as lojas, mas não basta deixar Kindles
e Kobos à disposição dos leitores sem que alguém mostre como podem ser bacanas
para a leitura.
· Por fim: você, que tem uma editora
física – mas é esperto e antenado o suficiente para saber que não, o digital
não vai acabar com o papel e um meio pode conviver muito pacificamente com o outro,
pois há mercado e produtos para ambos –, que tal pensar em, a cada mês, fazer
uma promoção com um ou dois títulos na linha “compre um e leve dois”? Compra o
físico, ganha o digital. Que seja válida por apenas uns poucos dias. Não pode
beneficiar a todos, a começar pelo leitor?
[Nota do editor: nesta
coluna, Gabriela Erbetta cedeu espaço para a sua sócia na Editora Alpendre
Gabriela Aguerre que assinam conjuntamente este artigo]
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