segunda-feira, 6 de abril de 2015

SÂNZIO DE AZEVEDO, sobre "Crônicas Absurdas de Segunda" de Raymundo Netto


Clique na Imagem para ampliar!

Confesso (e não é força de expressão) que perdi a conta dos prefácios e introduções que escrevi para livros de escritores de nossa terra, mortos e vivos.
           Mas revelo que é sempre com prazer que recebo o convite de um escritor para apadrinhar um novo livro seu. Raymundo Netto, que conheci em 2005 numa viagem a Aracati, é autor de dois ou mais livros de ficção e cronista d’O POVO, o “mais tradicional e antigo (em exercício) jornal do estado do Ceará”, como ele orgulhosamente lembra. E é justamente uma seleção das crônicas desse periódico o livro que se vai ler.
       Estive quase para dizer ao meu amigo que Crônicas Absurdas de Segunda dispensam qualquer apresentação, principalmente minha, mas, para ser sincero, aqui se juntaram a honra do convite e o fato, nada despiciendo (que passe a palavra), de se tratar de textos que falam do Ceará e, bem ou mal, meu nome estar ligado à literatura cearense.
       É interessante a maneira como o escritor trabalha com autores vivos e com autores mortos, indistintamente.
       Claro que não falarei aqui de todos os autores que são personagens deste livro, mas Rachel de Queiroz, com quem tive o prazer de estar diversas vezes, hoje habita, em bronze (será bronze?), um banco na praça General Tibúrcio, ou praça dos Leões, pertinho da Academia Cearense de Letras.
       Lembro Quintino Cunha, que não alcancei (ele se foi quando eu tinha cinco anos de idade) e que Raymundo homenageia com rara felicidade, aproveitando trechos das famosas anedotas do Quintino, nem todas referendadas pela Lourdite Cunha, filha mais velha do poeta, orador e boêmio.
       Meu saudoso amigo e mestre Moreira Campos não poderia ficar de fora, e o cronista o ressuscita literariamente, dando-lhe o destaque que ele merece como grande contista, o maior da nossa terra, a meu ver.
       Milton Dias, nosso cronista maior (pelo menos na minha opinião), escritor que por mais de vinte anos iluminou com sua verve as páginas do mesmo citado jornal, é lembrado comme il faut. É louvável a lembrança de Netto pelo fato de Milton não ter sido em nossos dias, a meu ver, homenageado como merece por sua personalidade e por sua obra.
       Sou obrigado a confessar que me comoveu profundamente o texto focalizando José Alcides Pinto, esse um amigo querido, poeta e ficcionista, com quem eu tinha um pacto do qual não me envergonho: se alguém falasse mal de mim em sua presença, ele me contava, fazendo eu o mesmo se eu ouvisse alguém falando mal dele...
       E Demócrito Rocha, e Eduardo Campos, e Francisco Carvalho! Quanta gente que se foi e que entretanto palpita cheia de vida nas crônicas de Netto!
       Minha comoção maior ocorre por conta da crônica falando do livro Dolentes, de Lívio Barreto, cuja terceira edição, preparada por Raymundo Netto para a Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, teve uma segunda tiragem para corrigir erros de digitação. O cronista tratou essa edição com todo o carinho e foi, ele mesmo, fazer o lançamento do livro em Granja, terra do poeta. No livro está reproduzida a introdução que escrevi em 1970 para a edição do Centenário do autor, a pedido de Raimundo Girão e de Braga Montenegro. E Raymundo reproduz, na abertura do livro, um fac-símile da folha de rosto da edição príncipe, de 1897, que guardo com carinho, presente que foi da professora Maria da Conceição Souza, minha amiga.
       Lívio Barreto foi tema do primeiro artigo que escrevi sobre escritor cearense, e ocupa cerca de 15 páginas de Poesia de todo o tempo, na secção “O Livro de Clã”, estampado no nº 24, de revista, em 1968, quando eu tinha 30 anos de idade. Em 1970, sairia como livro autônomo.
       Nos anos 60 do século passado, como revisor d’O Estado de S. Paulo, convivi com Lívio Xavier, sobrinho do poeta, e aqui vim a conhecer mais dois outros sobrinhos, dona Líbia Xavier e Emanuel Xavier.
Para encerrar, direi que meu único filho chama-se Lívio, claro que em homenagem ao poeta cujo livro já afirmei ser “o livro máximo do Simbolismo no Ceará...”
Disse que Raymundo contempla mortos e vivos, e aqui desfilam escritores atuais e atuantes, como Angela Gutiérrez, Horácio Dídimo, Pedro Salgueiro, Ana Miranda, Socorro Acioli, Jorge Pieiro e outros mais.
       Há até uma crônica na qual Netto reinventa “a verdadeira história da Padaria Espiritual”, com a participação de vários escritores atuais, inclusive eu, e... Antônio Sales!  Quando essa crônica foi estampada no jornal, Noemi Elisa Aderaldo, presidente da Comissão de Redação da Revista da Academia Cearense de Letras, sugeriu sua inclusão num dos números desse periódico, o que foi feito...
       A presença do meu nome, mais de uma vez, neste livro, é apenas mais uma prova da amizade que me liga a Raymundo Netto, o que muito me honra.   


Sânzio de Azevedo (na Apresentação da Obra)

Nenhum comentário:

Postar um comentário