Os
escritores que eu matei, de Marco Severo, é um livro
envelopado e endereçado para leitores, de preferência, os habituais,
aficionados pelo exercício saudável de debruçar sobre palavras, inseparáveis de
suas prateleiras, vagueadores de livrarias, enfim, gente interessante, com quem
vale a pena tomar um café e dividir nosso tempo ou uma tapioca.
Como Severo nos diz, também sou atraído
por títulos – embora como editor saiba o quanto pode vender uma bela capa –, e
o dele é muito instigante, quase fatal. Pensei, a princípio, tratar-se de
resenhas de obras por ele tecidas. Não são. Isso, não nego, me rendeu uma boa
surpresa.
A obra traz 23 textos versando sobre
temas e provocações comuns e recorrentes ao leitor contumaz [se você não souber
o que significa isso, provavelmente deverá se esforçar para ler mais], como a
questão de ler ou não best-sellers, a
leitura de clássicos, a idade certa para ler isso ou aquilo, os autores de uma
obra só, o que atrai o leitor, os escritores midiáticos, o que faz um autor ou
livro ter destaque e outro não, se devemos (ou se é possível) separar o autor
de sua obra, a organização de prateleiras, que livro tememos, se devemos ou não
emprestar livros (sugere inclusive uma metodologia de fundo de armário...), o
que devemos e podemos ler antes de morrer (ou o que é melhor esquecer),
leituras da infância, o que levaria para uma ilha deserta (no caso de títulos,
claro) etc. e coisa e tal, além da “fofoca” literária, aquelas informações
minimalistas da vida íntima e idiossincrasias desses seres (artistas) tão
queridos e imortais.
Severo é um obsessivo, tanto, que nos
assegura ser nos, espero longínquos, estertores finais de vida o seu último
pedido: mais livros! Para quê? Ora, desde criança, e com mais vigor na
adolescência, descobriu a sua paixão pela leitura. Deve ter sido muito
criticado, muito zoado, como geralmente são aqueles que ousam se encostar num
canto de parede para ler e viver livros. Um hábito estranho, merecedor de
títulos dos mais impopulares nos tempos meus, assim como nos dele e até hoje:
CDF, bitolado, alienado, crânio, geninho, nerd
dentre outros. Quem mandou querer ser diferente?!
Longe de concordar com tudo que ele
estampa no livro – o que a democracia e a diversidade permitem e exigem, embora
não o perdoe por escrachar meus cânones soniais –, a obra faz pensar, seu maior
mérito, provoca uma reflexão sobre o nosso modo de nos encontrarmos nesse mundo
literário, não apenas no que diz respeito a leitura, mas também a nossa relação
com o suporte livro e a própria literatura que nos rodeia.
De leitura fluente, na voz de crônica, e
por vezes divertida (quando não estiver troçando com você), Severo vai
aparecendo, se revelando, abrindo seu catálogo de memórias, o repertório de vida
inteira, assim como nós o fazemos, enquanto leitores dele, num diálogo
silencioso – mesmo quando em nossa cabeça estamos berrando: “Está maluco,
Severo? Esse cara é tudo de bom!” – e, o melhor, que não precisa ter fim quando
cruzamos a última página.
Só peço ao autor: por favor, não me
envie cartas! Ele saberá o porquê, e você também, se adquirir o livro.
Serviço
Os
escritores que eu matei,
de Marco Severo
Editora:
Substânsia
Lançamento:
26 de fevereiro
(quinta-feira), às 19h
Local:
Biblioteca da
Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Prédio anexo – 4º andar: Rua Barbosa
de Freitas/Av. Pontes Vieira)
Preço:
R$ 30,00
Livraria
Virtual: http://www.editorasubstansia.com.br/#!loja/ccz3
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