Era final de tarde. Acabávamos de sair
de uma palestra proferida por Antônio Carlos Secchin, na Academia Brasileira de
Letras, quando Adriano Espínola e José Mario Pereira (editor da Topbooks) decidiram
dar uma passada num "botequim" próximo ao local, na esquina da av. Calógeras com a Presidente
Wilson: a Casa Villarino.
O bar foi fundado, como uisqueria, por
Luiz Villarino Perez, em 1º de junho de 1953. Passaram por ali, a bebericar
chopps e uísques, beliscar tira-gostos ou simplesmente para jogar conversa
fora, diversos nomes dentre nossos artistas, intelectuais, jornalistas, poetas
e músicos, como Di Cavalcanti, Ary Barroso, Tom Jobim e Vinicius de Moraes.
Conta-se que Tom e Vinicius se
encontraram pela primeira vez, em 1956, justamente ali. O jornalista Lúcio
Rangel apresentou o então desconhecido maestro ao poeta e diplomata que
procurava alguém para musicar o seu "Orfeu da Conceição". Daí dizerem
que a Casa foi um dos berços da Bossa Nova.
Na entrada (uma espécie de mercearia) e
também no salão, mobiliário da época, muitas garrafas, um ambiente acolhedor,
com rastros de passado aqui e acolá, local escolhido para compor um dos
cenários do filme "Tim Maia", mais precisamente da cena em que a Nara
Leão canta para um público composto por Carlos Imperial, Roberto Carlos,
Erasmo, Tim Maia...
Há no salão cadeiras e madeira e mesas quadradas
com tampo de mármore e escolhi uma delas para imaginar o grande encontro:
"Sim, tudo bem, mas sai um dinheirinho disso?"
Por ali também cruzou Pablo Neruda, que,
contam, registrou alguns versos amarelos na parede, enquanto Di Cavalcanti riscou
suas garatujas tropicalistas, ao lado das engenhices do conterrâneo Antônio
Bandeira, e Ary Barroso algumas notas de sua famosa "Aquarela" e de
seu coqueiro que dá coco. Nessas paredes, também se encontravam autógrafos de
Dolores Duran, Aracy de Almeida, Mário Reis, Sérgio Porto, Paulo Mendes Campos,
Elizete Cardoso e Carlos Drummond de Andrade. Mas, infelizmente, numa tentação
dantesca imperdoável, um dos sócios ousou crer que as paredes estavam "sujas
e feias" - ou que dentre aqueles se encontravam caloteiros - e as manchou de tinta que, embora verde, perdia
esperanças, enterrando de uma vez os traços de genialidade, até que se faça uma
prospecção num futuro menos "vil larino".
Como consolo, agora, naquelas paredes,
muitas lembranças de quem por lá passou e um eco, feito gemido, "que só em
teus braços, amor, eu posso ser feliz."
Agora eu peço uma cerveja e vamos inventando versos que contam histórias...
ResponderExcluirAmei!! Quero conhecer, rs...
Beijos!!!^^
É uma boa pedida, Suzana. Fatalmente. rsrs
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