(Pedro Salgueiro em férias... outra vez!)
Janeiro, mês
de pegar a criançada e sair por aí descobrindo as férias.
Principalmente
encontrar um jeito de conciliar o lazer de adultos e crianças. Forçar uma
maneira de despregá-los dos games, dos penduricalhos eletrônicos que os
acompanham durante o ano inteiro. Reduzir a quase zero o tempo de TV. Uns dias
de praia, outros de cinemas e livrarias, depois tentar seguir rumo ao interior
para rever primos, tios e avós: manter e solidificar raízes.
Desacelerar
o ritmo frenético a que a gurizada foi submetida durante o período letivo
passado: aulas, tarefas escolares, esportes, horários regrados para estudo e
sono... fazê-los sentir o mundo usando todos os sentidos: olhar passarinhos no
campo infelizmente seco, sentir o cheiro do chão após o sereno indeciso em se
tornar chuva, descobrir desenhos nas estrelas lá no fundo do quintal, por trás
do limoeiro que filtra a luz vinda da cozinha, ou simplesmente conversar muito,
dar risadas descompromissadas deste nosso mundinho sem jeito e sua ridícula
seriedade.
Desacelerar
também o próprio juízo, despregá-lo do trabalho maçante da repartição, das
rotinas burrificantes que nos acompanham pelos meses afora; tentar, enfim, se
soltar das amarras passadas, penadas, pesadas. Começar um novo regime, ao mesmo
tempo em que aumenta sem dó a cervejinha libertadora e o preguiçoso sono
reparador, usando as mesmas velhas formulas fatalmente fadadas ao fracasso.
Olhar o
tempo, simplesmente, sem pressa; deixar as crianças soltas no terreiro, dando
uns gritos de vez em quando para alertá-los sobre as motos e carros. Dar uns
gritos de quando em vez para simplesmente acordar a gente mesmo...
Reler
Infância, do fundamental Graciliano; saborear Meus Verdes Anos, do delicioso Zé Lins; descobrir (e me espantar)
com A Cidade e a Infância, de José
Luandino Vieira. Rabiscar uns projetos de contos que faz tempo martelam a
cabeça, alinhavar historinhas começadas há anos.
Sonhar em
vão que o ano vai demorar a engrenar... que estes míseros dias vão gotejar
(devagarinho) com pena de nós.
Ou apenas
juntar forças para costurar esta preguiçosa croniquinha de férias.
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