quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

"O POVO: 85 anos presente no Ceará I", de Raymundo Netto para O POVO (23.01)


Demócrito Rocha: o pai d'OPOVO

“(...) É no jornal que o povo encontra o seu pão espiritual de cada dia. O jornal descortina-lhe o mundo, vencendo distâncias. É a lanterna mágica do progresso. É a força propulsora e condutora das massas insatisfeitas, para as grandes reivindicações de seus direitos postergados pela cáfila absorvente dos magnatas de todos os tempos. Quando o povo geme escravo, entorpecido pelas algemas do cativeiro, indiferente à violência paralisante do grilhão, o jornal é o sangue novo, forte e generoso a nutrir-lhe as células dormentes, a despertar-lhe os neurônios amortecidos, a ondear-lhe, nas veias, a torrente vigorosa e enérgica da revolta. O povo precisa de mais gritos que o estimulem, de mais vozes que lhe falem ao sentimento. Eis por que surgimos...”

Foi assim que, em 7 de janeiro de 1928, surgia O POVO, a mais tradicional, democrática e conceituada folha do Ceará, na voz corajosa e ousada de Demócrito Rocha, seu sonhador-mor. Como era bem de Demócrito, tanto o nome do jornal como sua logo foram escolhidos por meio de concurso. Ele gostava de ouvir a “voz do povo”, e, durante o período que dirigiu o jornal, escrevia, fazia enquetes, criava outros concursos, provocava o leitor, ao mesmo tempo em que liderava o “banco da Opinião Pública”, um dos integrantes das “sociedades dos banquistas” — pequenas agremiações que nasciam em torno dos bancos da praça do Ferreira, reunindo membros de diversos segmentos da sociedade (jornalistas, poetas, comerciantes, professores, políticos, profissionais liberais etc.) a discutir de um tudo: das coisas mais importantes ao trivial anedotário.

Demócrito teve origem humilde, cedo ficou órfão e teve que trabalhar duro (aos 12, era operário), fortalecendo-se em caráter, idealismo e senso de justiça e liberdade. Assim, não temia o debate, ao contrário, se alimentava da polêmica, tinha gosto pela interatividade, pela participação popular, pela opinião de outrem.

As primeiras edições de O POVO saíram de uma impressora de segunda mão, na sede alugada no entorno da praça dos Leões. Já no segundo ano de jornal, Demócrito, também poeta e notável cronista, lançou o suplemento literário Maracajá, veículo que revelou os nossos autores modernistas (Rachel de Queiroz, Jáder de Carvalho, Mozart Firmeza, Mário de Andrade do Norte, Heitor Marçal, Edigar de Alencar, Suzana de Alencar Guimarães e o próprio Demócrito, sob o pseudônimo de “Antônio Garrido”, dentre outros) para todo Brasil, numa época onde isso dificilmente aconteceria (alguns dos textos foram reproduzidos na Revista de Antropofagia de São Paulo, e há matérias sobre o Maracajá em O Globo, do Rio de Janeiro, e no Diário da Tarde, de Curitiba).

Justamente no primeiro aniversário de O POVO, em 7 de janeiro de 1929, Demócrito presentearia seus leitores com “O rio Jaguaribe é uma artéria aberta”, poema que o consagrou, sendo um dos mais representativos do modernismo cearense[1]. Apaixonado pelas palavras, mesmo quando extinto o Maracajá, O POVO continuou durante toda a sua existência, até hoje, sendo a grande janela da literatura, acolhendo escritores, como Rachel de Queiroz, Moreira Campos, João Jacques, Milton Dias, Ciro Colares, Airton Monte, Audifax Rios, Ana Miranda, Pedro Salgueiro, Tércia Montenegro, Jorge Pieiro, dentre nós outros e eteceteras. Também foi Demócrito o criador do título e do sistema eleitoral do “Príncipe dos Poetas Cearenses”, além de promover concursos de versos na rádio PRE-9, de João Dummar.

Li, há mais de 20 anos, um livro de Daniel Carneiro Job[2] que nos conta algumas histórias de Demócrito, dentre elas, a de uma emboscada no centro da cidade, em 1927, quando por ordem do presidente Moreira da Rocha, 12 policiais o encurralaram e deram-lhe murros, pontapés e golpes de rebenques, afastando os populares, indignados diante da covardia, com ameaça de revólveres. Não bastasse, arrastaram-no, sangrando, a Photo Salles, na praça do Ferreira, para tirar uma “prova da eficiência da lição”... O jornalista, com 39 anos, foi levado nos braços do povo para sua casa, onde até a madrugada, diversas personalidades, amigos, representantes de entidades e/ou partidos políticos, além de professores e estudantes de odontologia (ele era cirurgião-dentista) uniram-se em oratórias e em vigília ao seu bravo porta-voz. Ora, em 1922, alguns anos antes, em represália ao seu apoio ao comitê de Nilo Peçanha e J.J. Seabra, recebeu notificação de transferência (atuava como telegrafista, à época) de Fortaleza ao Mato Grosso, o que só não aconteceu devido à intervenção de D. Manuel e Antônio Sales.

Da mesma forma, perseguido pela polícia do presidente do Estado, foi ele, em 8 de outubro de 1930, a anunciar no Palacete Ceará (prédio da Caixa Econômica do Centro) a vitória da Revolução e a deposição do presidente Matos Peixoto, o “dançarino”, sendo levado nos braços do povo para o coreto da praça onde discursou sob aplausos efusivos: “Como um tubo de matéria fecal jogada ao monturo, caiu o governo podre que infelicitava o Ceará!”, bradava.[3]

Em 2013, o jornal O POVO aniversaria: 85 anos, dia a dia, de histórias do Ceará, o seu maior acervo jornalístico, seja na cultura, na arte, na política, na economia, nos esportes, na ciência e em todas as demais áreas, além de consolidar o seu papel de grande prestador de serviços ao povo cearense.

Também em 2013, um marco a ser lembrado: 70 anos sem Demócrito Rocha. O Ceará ainda há de fazer justiça a esse nome. Mais sobre ele e O POVO, em 15 dias...



[1] Muitas das afirmações literárias neste texto são do pesquisador Sânzio de Azevedo, e podem ser encontradas em O Modernismo na Poesia Cearense, das Edições Demócrito Rocha.
[2] Daniel Carneiro Job foi jornalista de O POVO. O livro a que me refiro é A Praça do Ferreira (1992), atualmente esgotado.
[3] Demócrito Rocha, de Cleto Pontes, da coleção Terra Bárbara, das Edições Demócrito Rocha.

sábado, 19 de janeiro de 2013

"Centenário de Rubem Braga", por Affonso Romano de Sant'Anna, para a Rádio Metrópole (RJ)



Nesses dias os jornais deram amplo espaço à celebração do centenário de nascimento de Rubem Braga. Não sei se ele chegou a morar na Bahia. Consta que além do Rio, trabalhou em jornais de Belo Horizonte, São Paulo, Recife e Porto Alegre. Mas, em compensação, foi colega de pensão de Jorge Amado em São Paulo e fez um livro ilustrado por Caribé sobre o Espirito Santo.
Os jornais estão cheios de estorinhas sobre ele, contadas por amigos e admiradores. A cobertura onde morava ficava a poucos metros da minha, aqui em Ipanema. Um dia ele até me enviou uma foto do meu apartamento tal qual ele o via pelo espelho de seu quarto.
Hoje há entre nós, além da eternidade, o Complexo Rubem Braga - uma torre de dez andares que é a tão aguardada estação do metrô.
Fomos colegas no Conselho Editorial da Francisco Alves nos anos 70. Naquele Conselho só me lembro de ele ter indicado um livro sobre como tratar passarinhos. Sobre passarinhos conversávamos e ele me ensinou como alimentar os bem-te-vis na minha cobertura. Em compensação quando sugeri que o Jiro Takanashi, da Ática, publicasse crônicas de Rubem, Jiro pegou logo a ideia e criou a coleção “Gostar de ler” que faz a cabeça de varias gerações.
Estivemos juntos em congressos, em concursos literários, e claro, na casa de Tônia Carrero. E eu que sendo professor tinha que ler teses de alunos e certos livros chatos, invejava-o por ter me dito que só lia o que gostava. Suas amizades políticas valeram-lhe ser embaixador no Marrocos e adido comercial no Chile. Nada mais anti-Rubem Braga.
Há até uma inacreditável foto dele de fraque e cartola como embaixador. Tinha um ar bonachão e, metendo-se em política, foi preso; e sendo o cantor dos quintais e praias, foi correspondente de guerra tanto da Revolução de 30 no Brasil quanto da Segunda Guerra Mundial, na Itália.
Entre os estudiosos de Rubem destaco dois: Ana Karla Dubiela [grifo nosso], lá em Fortaleza e Marco Antonio Carvalho que morreu sem poder receber o prêmio Jabuti pela bela biografia de Rubem, que recomendo enfaticamente.


quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

"Férias", Pedro Salgueiro para O POVO (15.1)


(Pedro Salgueiro em férias... outra vez!)
Janeiro, mês de pegar a criançada e sair por aí descobrindo as férias.
Principalmente encontrar um jeito de conciliar o lazer de adultos e crianças. Forçar uma maneira de despregá-los dos games, dos penduricalhos eletrônicos que os acompanham durante o ano inteiro. Reduzir a quase zero o tempo de TV. Uns dias de praia, outros de cinemas e livrarias, depois tentar seguir rumo ao interior para rever primos, tios e avós: manter e solidificar raízes.
Desacelerar o ritmo frenético a que a gurizada foi submetida durante o período letivo passado: aulas, tarefas escolares, esportes, horários regrados para estudo e sono... fazê-los sentir o mundo usando todos os sentidos: olhar passarinhos no campo infelizmente seco, sentir o cheiro do chão após o sereno indeciso em se tornar chuva, descobrir desenhos nas estrelas lá no fundo do quintal, por trás do limoeiro que filtra a luz vinda da cozinha, ou simplesmente conversar muito, dar risadas descompromissadas deste nosso mundinho sem jeito e sua ridícula seriedade.
Desacelerar também o próprio juízo, despregá-lo do trabalho maçante da repartição, das rotinas burrificantes que nos acompanham pelos meses afora; tentar, enfim, se soltar das amarras passadas, penadas, pesadas. Começar um novo regime, ao mesmo tempo em que aumenta sem dó a cervejinha libertadora e o preguiçoso sono reparador, usando as mesmas velhas formulas fatalmente fadadas ao fracasso.
Olhar o tempo, simplesmente, sem pressa; deixar as crianças soltas no terreiro, dando uns gritos de vez em quando para alertá-los sobre as motos e carros. Dar uns gritos de quando em vez para simplesmente acordar a gente mesmo...
Reler Infância, do fundamental Graciliano; saborear Meus Verdes Anos, do delicioso Zé Lins; descobrir (e me espantar) com A Cidade e a Infância, de José Luandino Vieira. Rabiscar uns projetos de contos que faz tempo martelam a cabeça, alinhavar historinhas começadas há anos.
Sonhar em vão que o ano vai demorar a engrenar... que estes míseros dias vão gotejar (devagarinho) com pena de nós.
Ou apenas juntar forças para costurar esta preguiçosa croniquinha de férias.

“Apontamento de Aula sobre Guernica*” ou “Crônica sobre Guernica”, de Carmélia Aragão (17.1)

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(inspirado em uma história protagonizada pela profa E. Yunes)

Na exposição era fácil reconhecer os especialistas.
Para não atrapalhá-los, a professora sentou as crianças no chão e baixinho explicava quem era Picasso, de onde veio, o temperamento, as esquisitices. Nada sobre as obras, ela não era especialista, os pequenos que tirassem suas conclusões.
Enquanto isso, logo ao lado, os doutores da arte dissecavam tudo em voz alta: as perspectivas, as cores, talvez até a beleza.
Inesperadamente, uma das crianças se levantou reproduzindo aquele mesmo tom e trejeito. O mesmo ar estupefato. Porém, legitimamente estupefato.  Todos se viraram para ouvir aquele menino, sem amarras, diante de Guernica:
"Vejam: o mundo está de cabeça para baixo".
Anos mais tarde, a professora nos contou, em sala de aula, que aquela havia sido a melhor apreciação sobre Picasso que ouvira em toda sua vida. Infelizmente, não sabia sobre o paradeiro daquele garoto. Mas que certamente ele deveria ter se tornado um homem sensível. Ou quem sabe esperássemos pelo pior e o mais terrível: talvez tivesse colocado o mundo em sua devida ordem.

*Guernica é um painel pintado por Pablo Picasso em 1937 por ocasião da Exposição Internacional de Paris. Foi exposto no pavilhão da  República Espanhola. Medindo 350 por 782 cm, esta tela pintada a óleo é normalmente tratada como representativa do bombardeio sofrido pela cidade espanhola de Guernica em 26 de abril de 1937 por aviões alemães, apoiando o ditador Francisco Franco. Atualmente está no Centro Nacional de Arte Rainha Sofia, em Madrid.

"Olhar Poético", de Tércia Montenegro para O POVO (15.1)


           Para além da técnica, todo artista é dotado de uma percepção incomum – aquela que faz o escultor pressentir o objeto “guardado” na matéria bruta; a certeza que orienta o equilíbrio de cores na pintura ou indica ao fotógrafo qual cena capturada é única. Chamem de instinto, bênção ou iluminação – não importa o nome; existe essa marca que define e perpassa músicos, atores, bailarinos, poetas... A habilidade de extrair do real uma fatia de beleza que quase ninguém percebe: esse é o olhar poético, transformável e criativo. Na atual literatura cearense, a obra de Carlos Nóbrega é um dos melhores exemplos disso, e o seu mais recente título, Lápis branco (Guaratinguetá: editora Penalux), só confirma as expectativas de quem busca se abismar com bons versos.
            É assim, pela mão do poeta, que enxergamos o gato, animal feito “de dengo, pelo e preguiça”: “Talvez seja bicho de seda/ ou alma andando de quatro/ Pois pisa a Terra e não pesa/ e se evapora em um salto./ É mais mistério que fato,/ direito e avesso de grave,/ E como o mistério/ É visível, /Existe, mas é improvável.” Vemos as carnaubeiras, que “dão asteriscos verdes ao ar ido”, e sabemos que um botão de rosa se contorce, para fazer “origami de si mesmo”. O passeio pela vida, com as pequenas coisas da cidade, luzes e sombras, memórias e tristezas, vem como um sobressalto a cada página – o poeta desnovela as palavras, querendo “não doer”.
            O olhar poético se exercita na travessia entre mundo e linguagem. No caso de Carlos Nóbrega, inclusive, basta uma rápida convivência para notar em seu comportamento cotidiano essa expectativa do sublime, na atenção que dedica a seres e objetos que possa transfigurar em arte. Certa vez, num encontro com vários outros amigos, eu percebi que apenas ele observava a tatuagem de uma desconhecida sentada de costas para nós, no restaurante. O arabesco vertical, impresso entre as omoplatas, parecia a continuação de um penteado – um cabelo convertido em desenho. Carlos me apontou a cena, perguntando se eu achava que a moça tinha consciência daquele efeito estético. Disse que provavelmente não; ela fizera um rabo-de-cavalo displicente. Foi o olhar do poeta que enxergou (e criou) a metamorfose entre pelo e pele. Naquele instante, não interessava a moça, que permaneceu para sempre sem rosto ou identidade. O poeta meditava no arranjo de fios e traços, testando associações possíveis. Depois que o texto despertasse, Carlos Nóbrega devolveria um fragmento de beleza, traduzido e destilado, para que os distraídos percebessem: a arte vive no mundo, mas disfarçada.
            Após Outros poemas, BreviárioÁrvore de manivelas e 8 verbetes, Carlos Nóbrega acrescenta, com Lápis branco, mais um livro à minha estante de favoritos. Nela estão as obras que me socorrem, trazendo claridade quando um dia ameaça acontecer em tom insípido.
Para adquirir o livro:
http://www.editorapenalux.com.br/loja/product_info.php?products_id=85

sábado, 12 de janeiro de 2013

Lançamento CD "Piragem", de Vuldembergue e Marcelo Farias, no Bar do Papai (15.1)


Data: 15 de janeiro de 2013 (terça-feira)
Local: Bar do Papai (Torres Câmara com Monsenho Bruno)
Horário: 21 horas
Preço promocional de lançamento: R$ 10,00 (dez reais)


Endereços e contatos (para aquisição de CDs e/ou convite para shows):
Vuldembergue Farias - Marcelo Farias
Telefones: 3278.1350/ 8806.8837/8900-8837/8839.2045



Sobre os artistas:

Vuldembergue Farias, nasceu no interior do Ceará e desde muito pequeno já demonstrava tendências musicais ao registrar em cadernos e ao cantarolar músicas ouvidas na radiadora local, sendo filho de um pistonista da banda de música de sua cidade natal e de sua mãe, muito aplaudida no ambiente familiar por sua voz harmoniosa.

Possuidor de um timbre forte e inconfundível, Vuldembergue canta sua vida e seu cotidiano sem chavões ou meias-verdades. Sua música fala de sua realidade com poesia e dor, alegria e incerteza, amor e urbanidade, lirismo e temor.

Vuldembergue é administrador de empresas, mestrando em Inovação pedagógica com especializações em Planejamento Educacional e Gestão Educacional, é Técnico em Educação da Prefeitura de Fortaleza, professor voluntário do Centro de Referência do Professor e músico profissional da noite com repertório baseado na Musica Popular Brasileira.

Marcelo Farias, nasceu em 1982, na cidade de Fortaleza, Ceará, filho de Vuldembergue e Socorro Farias, e desde pequeno se interessou por aspectos culturais e artísticos. Ainda adolescente já entoava os primeiros acordes ao violão, acompanhando músicas de sua época, momento em que se engajou na Banda de Música Zé de Bento, da cidade de Baixio (CE), onde tocava saxofone, tendo bastante destaque e respeito, pelo seu esmero na execução do repertório.

Atuando profissionalmente no mercado musical, Marcelo Farias se destaca, ao participar dos shows do seu pai, tocando variado repertório, de apurado bom gosto.

Marcelo participa das bandas Encontros e Desencontros, Xote dos Meninos, Arte Proibida e do Reizado Brincantes Cordão do Caroá, Programa de Extensão da Universidade Federal do Ceará, onde é batuqueiro. É compositor e intérprete, é possuidor de várias composições musicais, próprias ou em parceria, em que apresenta rimos novos, melodias intrigantes e letras carregadas de emoção, intuição e confirmações de suas vivências musicais.


quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

"Quando o Amor é de Graça XXI: Crônica Epistolar", de Raymundo Netto para O POVO (9.1)


Para D. Lúcia Dummar

Outubro de 2011.
Deixado um apartamento amarelo, abri a porta do quarto da meninice na casa paterna. O seu bafio me tomou o rosto, na tenção de imprimir-lhe o sorriso fácil da ingenuidade, ao tempo que apontava-me o pó da ausência de tantos anos, de uma história, dizia ressentido, adormecida.
Não me suportava aquele quarto: escuro, quente, sujo e profundamente triste, porém tão cheio de mim a assustar. Olhava à porta, sentia-me 20 anos mais jovem, assistindo meus pais 20 anos mais velhos. A surpresa de um futuro inesperado a todos. A ausência devorando tudo.
Deitado na cama, desconhecia aquele quarto, mesmo sendo ele tão fiel de minha memória. Não havia irmãos, nem redes penduradas, nada do velho beliche, menos ainda as risadas e falas excessivas de éramos seis.
No canto do quarto, vi um menino magro, chorando com medo do escuro; desiludia-se e seguia em frente somente pela fé própria de acrobatas e trapezistas, crente apenas que um dia, no absoluto silêncio, um ser de nada, com corpo coberto de estrelas e língua de fogo, cheirou o pó universal, e na quarta trombeta os lobos cuspiram o sol e a lua, enquanto crocodilos se desmanchavam em água. De cada carreirinha de pó, soprava um novo planeta com suas luas e lendas. Pintou com as tintas de seu engenho um mundo azul, mais aquário do que zôo, e, ao murmurar no ouvido do infinito o único “sim”, esse lhe bastou para que a história toda lhe tivesse algum sentido.
O menino me encarava a perguntar o que eu tinha feito com ele; por que eu havia brincado com a sua vida... Dei-lhe as costas e dormi um sono sem sonhos.

Janeiro de 2013.
Sábado. Manhã quente. De volta ao apartamento amarelo, em paredes nuas, na busca dos últimos largados, encaixados à sala margeada por restos de gavetas, contas vencidas, pastas empoeiradas, revistas nunca lidas, aparelhos nunca consertados, enfim, a escória de uma vida.
Tudo aquilo que durante mais de 30 anos guardei com cuidado em armários, levando e trazendo para cima e para baixo, ali, em caixas emprestadas, amontoadas, me pareceram tão sem importância. Em sacos, cartas e cartões enviados e recebidos, máquinas de relógios, óculos velhos, garrafas e latas antigas, lembranças esquecidas. Da vida, dizem com uma razão de decreto, nada se leva!
Sentado a esperar o caminhão da mudança, ouvia no silêncio que passava por mim, as memórias da casa. Outra, dentre outras não menos dura, despedida — “a vida é o exercício de perder”.
Na minha última morada, havia uma menina de uns seis anos, coleguinha de minhas filhas. Seus pais não tinham boa condição financeira e estavam sempre com o aluguel atrasado. A menina, muito pequenina e magrinha, tinha os olhos grandes e brilhantes. Vez ou outra pedia à mãe que a deixasse em nossa casa, onde compartilhava da amizade e dos inúmeros brinquedos do quarto das crianças. Ela mesma, em sua casa, pouco tinha.
Um dia, veio se despedir: iriam para outra casa — foram colocados para fora do imóvel da vila. Ela e o irmão mais velho subiram à carroceria do caminhão que os conduziria ao novo lar. Fiquei na rua assistindo a sua partida. Inda hoje não esqueço aquela menina, em meio aos poucos bens da família, em pé, encostada ao colchão do casal, nos braços uma boneca, presente de minhas filhas. Sorria e acenava lentamente para nós, com seus olhos grandes, desta vez ao invés do brilho, uma completa escuridão de incertezas.
Desse pensamento, lembrei-me que ao me mudar para nova moradia, gostava de saber-lhe a história, algo sobre os antigos moradores, o que faziam, porque saíram, e coisas assim. Possível fosse, “limpava a casa”, pintava de cores vivas, enchia de lâmpadas, abria janelas, a enfeitava, a alegrava, afinal ela, de então, acolheria as minhas meninas.
Hoje, pedi desculpa àquele apartamento por deixá-lo de herança uma história triste. Contudo, no momento do adeus final — gosto de rituais —, antes de passar-lhe a chave, lancei, como último consolo, a certeza de que, de fato, tudo que começa está fadado a um final, mas certamente isso não funciona para o que é essencial e verdadeiro. Essas coisas podem mudar de cara ou de cor, até de lugar, mas perduram e nos acompanham a vida inteira.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

"Eros e Psiquê", teatro de bonecos, com o Grupo Paideia (9.01)

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No Espaço O POVO de Cultura & Arte, dia 9 de janeiro (quarta-feira), às 19h, o 3º encontro do I Ciclo de Palestras "Mitologia e Modernidade" apresenta o teatro de bonecos "Eros e Psiquê", com o Grupo Paideia.

O evento é GRATUITO e aberto ao público em geral.

Compartilhe essa ideia e ótima programação!

Sobre “Eros e Psiquê”
A bela Psiquê é a caçula de três irmãs. Alcançando a idade de casar, não obtém sucesso, pois sua beleza é alvo de veneração e nenhum mortal ousa pedir-lhe em casamento. Os pais, angustiados, buscam o oráculo, que lhes faz uma sinistra revelação.

Do clássico “Asno de Ouro”, de Apuleio, para o teatro de bonecos, a recriação é marcada pela comicidade cearense em linguagem popular e atual. Também traz à tona questões como inveja, beleza, idolatria, solidão, morte. E dá pra rir? Há que conferir!

Sobre o Grupo Paideia
Iniciado a partir de uma grande brincadeira séria de sala de aula, o Grupo Paideia completa, neste ano de 2012, dez anos de existência. O grupo começou adaptando mitos, de cunho geralmente trágico e complexo, para uma forma cômica, usando o teatro de bonecos.

Hoje, além deste desafio, o Paideia também é responsável por dois cursos de extensão sobre mitologia grega em parceria com a Universidade Federal do Ceará.

Do grego, “Paideia” significa a formação integral do homem através da cultura, da política, da religião, da filosofia e dos jogos (fúnebres, olímpicos). 

Atualmente, o grupo é formado por Ana Candelária, Danielle Motta, Glaudiney Mendonça, Walnysse Gonçalves e Washington Forte.

Promoção
Espaço O POVO de Cultura & Arte

Realização
Grupo Paideia

Apoio
O POVO

O Grande Espetáculo (leia-se "mentira") das livrarias e dos "sucessos" literários


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Concorrência inflaciona aluguel de espaços em livrarias e reduz variedade de destaques
Duas semanas atrás, quem passasse pela Fnac da avenida Paulista ou por quatro das megastores da Saraiva em São Paulo corria o risco de esbarrar num “hobbit”, um dos pequenos seres que habitam a ficção de J.R.R. Tolkien.
Mais do que isso: poderia ouvir o homenzinho comentando seu estilo de vida, esmiuçado na autoajuda A Sabedoria do Condado, de Noble Smith, que a Novo Conceito lançou por ocasião da estreia do filme O Hobbit.
A ação exigiu da equipe de marketing da editora paulista certo jogo de cintura, na véspera do Natal, anões com talento para interpretar hobbits já estavam ocupados como ajudantes de Papai Noel em shoppings, e um grande investimento em dinheiro.
Não só pelo cachê dos atores e pela autorização das livrarias para mantê-los nas lojas, mas também para garantir a boa exposição dos livros durante a ação. Na livraria Fnac, por exemplo, manter um título 15 dias em destaque na beira de uma gôndola custa R$ 5.000.
Esse é só um exemplo recente do ponto a que chegou um procedimento comum no Brasil há uma década, mas cada vez mais concorrido: o aluguel, por parte de editoras, de espaços em livrarias para expor seus títulos.
É comum que livros destacados em gôndolas, em pilhas no chão ou nas vitrines estejam nesses lugares não por mera recomendação dos livreiros, mas porque os editores pagaram uma boa quantia para mantê-los à vista.
Com a disputa cada vez mais acirrada entre grandes editoras, esse mercado vem sofrendo reajustes muito superiores aos da inflação.
Reportagem da "Ilustrada" em 2006 informava que editoras pagavam até R$ 2.000 para expor obras por 15 dias nas lojas. O valor hoje pode chegar a R$ 10 mil, segundo a Folha apurou. Um aumento de 400%, ante menos de 40% de inflação acumulada no período, segundo o IPCA.
"Com o surgimento de grandes editoras, como a Novo Conceito e a Intrínseca, e o crescimento de outras, como a Sextante e a Companhia das Letras, o espaço ficou mais concorrido", diz Marcos Pereira, sócio da Sextante, uma das maiores do país.
"Com isso e com a profissionalização das livrarias, a exposição do livro, que era meramente uma questão de relacionamento e de gosto do livreiro pelo produto, acaba virando um negócio à parte."

Para pequenos, modelo de concorrência sufoca diversidade
A compra da histórica editora Paz e Terra pelo Grupo Record, anunciada na semana passada, foi sintomática de um mercado no qual apenas os grandes têm força para aparecer nas livrarias.
"Eu não tinha como concorrer. Não conseguia fazer meus livros serem vistos pelos leitores", afirma Marcus Gasparian, ex-dono e agora editor do selo recém-adquirido pela Record. "A Record certamente fará um trabalho melhor ao dar aos títulos o destaque eles merecem."
Para Haroldo Ceravolo, editor da Alameda e diretor da Libre, associação de editoras independentes, o aluguel de espaços em livrarias sufoca as pequenas casas e gera "pasteurização" das lojas.
"Você começa a ter só best-sellers expostos, livros muito parecidos entre si e de poucas editoras. É um tiro no pé, porque a loja perde seu papel de lugar no qual o leitor busca se informar. Isso afasta o consumidor que mais tende a frequentar as livrarias."
O fato de alguns poucos livros "roubarem" espaços de uma infinidade de outros, o Brasil publica cerca de 55 mil novos títulos por ano, acaba também interferindo no preço dos livros em geral, na avaliação de Ceravolo.
"As editoras de best-sellers investem tanto em marketing que não conseguem baixar o preço de livros que saem bem. Além disso, a existência de poucos best-sellers torna ainda mais lenta a circulação de livros das pequenas editoras, o que os encarece."
Milena Duchiade, proprietária da livraria carioca Leonardo da Vinci e crítica da "supermercadização" do segmento, lembra que livrarias que não vendem espaços acabam tendo menos margem de negociação com editoras.
"As redes negociam espaço com desconto na compra de livros dos editores, o que torna ainda mais frágil o poder de negociação das independentes", diz.

Curadoria
"As livrarias estão se profissionalizando. Além do espaço físico para comercializar o livro, como antigamente, ela hoje precisa se rentabilizar. Sem isso, a conta não fecha", diz Rodrigo Castro, diretor comercial da Cultura.
A rede da família Herz cobra até R$ 5.000 por 15 dias de exposição na vitrine, com adesivagem, e R$ 2.000 pelos "cubos", caixas de madeira afastadas das gôndolas.
"Fazemos questão de deixar clara a diferença entre o que é curadoria da loja e quais os espaços para ações de marketing, que sempre precisam antes ser aprovadas pela livraria", afirma Castro.
Para o leitor, entretanto, a distinção não é tão clara.
Editores dizem que pilhas de livros, como as do tablado central na loja principal do Conjunto Nacional, não são negociadas na Cultura, embora o sejam na Saraiva, na Fnac, na Laselva e na Travessa.
Em quase todos os casos o pagamento pode ser feito com descontos maiores na hora da compra ou consignação de títulos pelas livrarias.
Mas nenhum livreiro gosta de tratar do assunto tão abertamente. "Nós é que decidimos os destaques. O que acontece é que às vezes convidamos editoras a participarem da decisão", diz Marcílio Pousada, CEO da Saraiva.
Algumas editoras participam tanto que várias lojas se sentiram em condições de, no último ano, aumentar os preços dos espaços, limitados. Até 2011, expor por 15 dias uma pilha de livros, o chamado "metro quadrado", numa loja da Fnac custava R$ 5.000. Hoje, paga-se R$ 8.000 pelos mesmos espaço e período.
Mas nem todo destaque é pago. Segundo todos os livreiros ouvidos pela Folha, a Intrínseca há meses não precisa desembolsar nenhum centavo para garantir os montes de pilhas dos Cinquenta Tons espalhadas pelas lojas. "Estão lá porque vendem", diz Samuel Seibel, da Livraria da Vila, que não negocia espaço, apenas anúncios na sua revista mensal.
Situação diferente acontece com Morte Súbita, de J.K. Rowling. Um livreiro disse à Folha nunca ter visto investimento tão maciço quanto o que a Nova Fronteira fez.
Até a pequena Argumento foi assediada. A editora tentou comprar espaço nas cinco vitrines das duas lojas, mas a negociação não avançou.
Procurada, a Nova Fronteira não quis se manifestar. É provável, comenta-se no meio, que o contrato com a autora estipule uma parcela mínima, e alta, de marketing.
Fonte: Raquel Cozer, para Folha de São Paulo

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

"Dai Fiorati com Borboletas" ou "A História que ela Conta", de Dai Fiorati (01.01.13)


Dai Fiorati

Um vídeo me chegado do Rio de Janeiro pela jovem atriz Dai Fiorati: “Dai Fiorati com Borboletas” ou “A História que Ela Conta”. Dentre os roteiristas, a participação da escritora cearense Carmélia Aragão.

Apresenta o vídeo, a Dai:

"Sempre achei que 27 anos era uma idade especial. A tal idade do Rock. Sempre achei ser bonito fazer 27 anos. Sempre esperei por essa idade.
E é com muita alegria (mas muita mesmo) que hoje, fazendo 27 anos, a tão sonhada idade especial, que dou vida a meu filme.
É um trabalho que penso, crio, vomito, sonho e transformo com muita ajuda, de muitos amigos, parentes e mestres há exatamente um ano e meio.
Da dor e da delícia de se ser o que se é. Do dia do meu nascimento ao meu pacto com a minha arte. Uma sincera homenagem a todos aqueles que passaram, direta ou indiretamente, pela minha paixão, desde a infância até aqui.
Àqueles que dividem comigo o tamanho sofrimento e o tamanho privilégio que é sonhar em ser artista.
Àqueles que nem isso podem fazer.
E a todos os que sonham. A todos os que sonham.”

Para assistir ao vídeo, o linque:

"A História que ela Conta"

http://www.youtube.com/watch?v=Q_dw3bLWFgs&feature=youtu.be

Uma carta resposta ao passado: 123 anos.



Encontramos, ontem, casualmente, na praça Fernandes Vieira, às proximidades do prédio do Liceu, a seguinte e interessante missiva, que transcrevemos na íntegra [...]:

“My petted darling,
É impossível exprimir-te o prazer que senti hoje em poder dirigir-te estas poucas linhas. Divertiste-te muito, sábado? Meu querido anjo, quando terei eu o prazer de te ter como vizinho para poder te ver o mais vezes possível? Por que não fostes ontem a Missa da Sé? Eu tenho um medo horrível que o Adolfo, querendo vingar-se de ti, não vá contar alguma história ao papai e intrigar a tua família com a minha, e então o que seria de mim se a esperança de ter-te um dia ao meu lado me fosse roubada? 
Eu tenho uma firme esperança de que com 15 anos eu serei tua noiva; que felicidade então para mim de te ter todas as noites ao meu lado! Seria melhor que teu pai me pedisse, porque sendo ele o maior amigo do papai, ele não recusaria nunca o sim.
Adeus por hoje, meu idolatrado anjo, e receba um milhão de beijos de tua querida J.

Ceará, 2 de junho de 1890.”

Como não saibamos se esta carta foi entregue ao seu ignorado destinatário ou se ficou irrespondida até hoje, aqui estamos para tentar o rabisco ligeiro de algumas linhas, endereçadas, com sentimento, ao coração dessa mulher que muito amou...

“Veneranda Senhora,
Peço-vos, humildemente, perdão pela irreverência e ousadia de haver dado lume às vossas letras, sem o vosso prévio consentimento. Assiste-me, contudo, em assim tendo feito, a atenuante do sigilo que há em tudo isso, do mistério que envolve, no anonimato quase absoluto de vossa epístola, o seu caso passional.
Desconheço-vos por completo, assim como me resta incógnito o vosso destino. Terieis, por ventura, morrido? Se viveis ainda, por certo contais agora 60 anos de idade.
Como o tempo voa!
Quando escrevestes aquela carta, não eram de prata os vossos cabelos, nem frio o sangue das vossas veias. Palpitava dentro de vós a adolescência florida de 14 primaveras e o amor cantava, como um pássaro azul, no desabrocho matinal dos vossos sonhos de ouro... ser noiva aos 15 anos!
Que belo futuro o destino vos reservava!
Mas, quem sabe o que aconteceu? Daquele dia para este, faz perto de meio século. Talvez estejais na outra vida. Talvez não. Pode ser que as esperanças de outrora se tenham transformado em linda realidade. Pode ser, também, que se hajam dissipado nos horizontes dos vossos desejos e, hoje, só vos restem viuvez ou tristes recordações de solteira.
Em qualquer das hipóteses, quem vos fala, quem vos escreve de longe, de muito longe, pela distancia que medeia entre as horas destas duas correspondências desencontradas, não sou eu, não é ele, não é ninguém, é a saudade.”

“Uma Carta de 1890”, de João Jacques (1910-1999)*,
para O POVO, em 27 de outubro de 1936.

(*) Foi funcionário da Rede Viação Cearense e do estado do Ceará, secretário de Educação da Prefeitura Municipal de Fortaleza, chefe do gabinete do presidente do Bancodo Nordeste do Brasil e diretor da Empresa Cearense de Turismo, EMCETUR.
Cronista, contista, pintor, poeta e jornalista, foi redator chefe e editorialista do jornal O POVO e um dos criadores do jornal modernista Cipó de Fogo.
Dentre suas publicações: Alma em corpo oito, 1964; A grande viagem, 1966; Uma fantasia e nove histórias reais, 1969; A canção do tempo, 1978; Contos e cantos (poesia e prosa), 1981; Galeria de honra, 1986; e Otacílio de Azevedo, 1992.
Ingressou na Academia Cearense de Letras no dia 10 de outubro de 1967, substituindo Júlio Maciel na cadeira de nº 28, cujo patrono é Mário da Silveira, sob saudação de Artur Eduardo Benevides.
Substituiu Júlio Maciel na cadeira 28, cujo patrono é Mário da Silveira.
Era membro da Associação Cearense de Imprensa, da Academia Cearense de Jornalismo e da Academia Cearense de Retórica.
Tinha 26 anos quando escreveu "Uma Carta de 1890".