quarta-feira, 31 de março de 2010

Prorrogado o prazo de inscrições para o Prêmio Literário para Autores (as) cearenses!


O Edital do Prêmio Literário para Autores (as) cearenses surgiu com o objetivo de fomentar a produção literária e estimular o mercado editorial cearense. Foi uma "provocação" com o objetivo de fazer emergir a cadeia do livro, que por ser "cadeia", só existe quando seus "elos" funcionam concomitantemente: escritores, quadrinhistas (roteiristas, artefinalistas, coloristas e desenhistas), editores, revisores, ilustradores, diagramadores, capistas, gráficos, distribuidores, livreiros, todos que, de uma forma ou de outra, são contemplados por este edital que recebeu, desde o seu lançamento, os mais diversos comentários e reflexões, inclusive de outros estados. Compreendo que além de promover o encontro desses segmentos entre si (alguns inclusive estão se organizando em torno de fóruns, associações e coisas do tipo), o edital está revelando "uma cara", diagnosticando uma "realidade" de nosso tão almejado e latente mercado editorial.


A Secult já recebeu, até ontem, mais de 100 projetos/obras concorrentes, superando o que se tem recebido nos editais de Incentivo às Artes. Entretanto, a Comissão Organizadora recebeu diversas ligações de editoras e gráficas que não conseguiram, em tempo hábil, dar conta de tantas solicitações de propostas editoriais de publicação.


Para maior alegria, a Comissão Organizadora recebeu em sua sede diversos escritores, alguns já reconhecidos em nosso meio, mas que nunca tinham participado de editais; alguns, que estão apresentando trabalhos que há 15 anos estavam engavetados; e outros que aspiram sua primeira publicação, e que devido à facilidade de inscrição motivaram-se a participar. Para a Secult, com certeza, é um momento único.


Algumas das quatorze categorias, porém, não estão reagindo como se esperava. Nas ruas, costumamos sempre ouvir autores ressentidos pela falta de oportunidade de publicação. Muitos nos afirmam que têm diversos trabalhos guardados e que lhes faltam apenas "a" oportunidade. Pois bem, ela chegou e a pergunta fica no ar: cadê os tais trabalhos? Existe mesmo uma produção literária cearense? Nova provocação...


Assim, a Secult decidiu, devido à veemente solicitação de autores, editores e gráficos, prorrogar o prazo de inscrição do Edital do Prêmio Literário para Autores(as) Cearenses para o dia 30 de abril de 2010. Esta será a última chance e oportunidade para aqueles que não conseguiram, até então, reunir o material necessário para inscrever-se.
A Comissão de Análise e Seleção iniciará os trabalhos a partir do material recebido até então.


Comemoremos. O Governo do Estado do Ceará, com a disponibilização do recurso inédito de R$ 2.000.000 (dois milhões de reais) para este Edital, além de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) para a aquisição de obras não didáticas de autores(as) cearenses, está mexendo realmente com a cadeia do livro do Ceará, trazendo à tona muitas das suas dificuldades, ao mesmo tempo em que revela seus talentos. Não percamos esta grande oportunidade de fazer parte de tudo isso.


Segue, abaixo, para quem ainda não viu, uma pequena lista de editoras e editoras/gráficas cearenses e seus respectivos contatos. Reafirmamos que a Secult está atenta a todos os processos, analisando todas as dificuldades dos proponentes e buscando soluções que garantam a sua participação, basta ligar para (85) 3101.6794 (Tamyres Gouveia ou Raymundo Netto)
ABC Editora e Gráfica – (85) 3264.3606
Aquarela Editora – (85) 3281.5457
Armazém da Cultura Editora – (85) 3224.9780
Arte Visual Gráfica e Editora - (85) 3281.8181
Cearense Gráfica e Editora – (85) 3260.7100
Cores Editora e Gráfica – 3254.4229
Edições Demócrito Rocha – (85) 3255.6270
Edições Livro Técnico - (85) 3433.9495
Editora IMEPH – (85) 3261.1002
Editora LITTERE - (85)3474.3333
Editora e Gráfica Aliança – (85) 3272.3990/3227.2486
Editora e Gráfica VT – (85) 3219.7473
Editora Orion - (85) 3223.3583
Expressão Gráfica e Editora – (85) 3464.2222
FortGráfica Editora e Gráfica – (85) 3254.3338
Grafam Gráfica e Editora América – (85) 3221.3300
IMPRECE Gráfica e Editora - (85) 3243.1726/4141.2342
Ipiranga Editora - (85) 3221.3377
La Barca Editora – (85) 3264.8028
LCR Gráfica e Editora - (85) 3272.7844/ 3272.6069
OMNI Editora - (85) 3247.6101
Newgraf Editora e Gráfica – (85) 3224.0471
Pounchain Ramos Gráfica e Editora – (85) 3231.3219
PREMIUS Editora - (85) 3214.8181
Quadricolor Gráfica e Editora – (85) 3254.5566
Qualigraf Editora e Gráfica – (85) 3232.2744
Raboni Editora e Gráfica – (85) 3251.3821
Tecnograf Gráfica e Editora - (85) 3274.0111
Tiprogresso Gráfica e Editora - (85) 3254.2727
Terra da Luz Editorial – (85) 3261.0525
Triunfo Gráfica e Editora – (85) 3254.1102
Tupynanquim (CORDÉIS) - (85) 3217.2891

sábado, 27 de março de 2010

Pingo de Fortaleza e Calé Alencar na Teia 2010 (28.04)


Os cantores Pingo de Fortaleza e Calé Alencar fazem show de encerramento da Teia 2010 neste domingo, 28, às 18h, no Aterrinho da Praia de Iracema.

No palco, alternarão momentos ora cantando juntos, ora sozinhos, acompanhados pelos músicos Mimi Rocha (guitarra), Edmundo Jr. (baixo), Marcelo Pinheiro (violão e vocal), Ricardo Pinheiro (bateria e percussão) e Junior Faheina (teclado).

Antes, às 16h30, cortejo saindo do Náutico rumo ao Aterrinho com grupos de vários estados do Brasil, incluindo o Maracatu Solar.

No repertório, canções como Maculelê (Pingo de Fortaleza e Guaracy Rodrigues), Noite Azul (Pingo de Fortalea, Augusto Moita e Parahyba), Aproveite o dia (Pingo de Fortaleza e Henrique Beltrão) e Equatorial (Calé Alencar & Fausto Nilo) dentre outras.


Informações para a Imprensa:

Joanice Sampaio (Jornalista): 085 - 8784.1741 9109.1706

sexta-feira, 19 de março de 2010

AlmanaCULTURA, é claro!


A revista eletrônica para a nossa literatura impressa!

Mais Duas Ótimas Novidades para Autores Cearenses e Pequenas Editoras


1. Espaço Gratuito na Bienal Internacional do Livro do Ceará para Pequenas Editoras e Autores Independentes do Nordeste

Neste Sábado, 20 de março, é o ÚLTIMO dia para que as PEQUENAS EDITORAS Editoras e AUTORES INDEPENDENTES do Nordeste possam solicitar um espaço no estande GRATUITO da Bienal Internacional do Livro do Ceará.

O formulário está disponível no blog do Fórum: http://forumdeliteraturace.wordpress.com/ix-bienal-internacional-do-livro-do-ceara/ e deverá ser enviado para o e-mail forumdeliteratura.ce@gmail.com.

O Conselho Administrativo do FLLEC alerta, entretanto, que somente O ESPAÇO será disponibilizado. O autor independente ou pequena editora do nordeste terá que custear as demais despesas, como as com o frete e a de uma pessoa para vender os seus livros. Importante também é estar ciente de que os responsáveis terão, obrigatoriamente, que cumprir o horário dos expositores da Bienal das 8h30 às 22hs.

Quaisquer outras dúvidas, contactar com o Conselho Administrativo do Fórum do Livro e da Literatura do Estado do Ceará/FLLEC: Mileide Flores: (85) 8802.9656/ Luiza Amorim: (85) 8804.0503/ Francilio Dourado: (85) 8681.6582



2. Exposição, comercialização e lançamentos de livros de autores(as) cearenses no estande da SECULT/Espaço Natércia Campos do Escritor Cearense


Como tradicionalmente o faz, a Academia Cearense de Letras coordena, nesta Bienal Internacional do Livro do Ceará, o Espaço Natércia Campos do Escritor Cearense, dedicado à exposição, comercialização e minilançamentos de obras de autores cearenses.

Nas edições passadas, o serviço prestado pelo Espaço, portanto, pela Academia, tem sido de grande importância e recebido elogios de quem teve sua obra exposta e lançada, proporcionando grande visibilidade a nossos autores na maior festa popular do livro, da leitura e da literatura em nosso Estado.

Para ter seu livro lançado e exposto no Espaço Natércia Campos do Escritor Cearense, o interessado deverá levar ligar para (85) 3253.0489 e falar com a Cláudia e/ou com a Regina Fiúza.
Não percam essa oportunidade.

quinta-feira, 18 de março de 2010

"Armadilha", de Fernanda Lym para o blog "Transfusões"


"O Quarto" de Van Gogh


3 dias sem sair de casa e quando saio há um paradoxo entre o vazio do meu quarto e o mundo que vejo: os carros com suas luzes vagalumes e pessoas com seus passos tolhidos e apressados, seja dia, seja noite. Na rua, tudo tão igual, tão diferente. dizem que uma pessoa sem deus é alguém sem ânimo. ânimo é alma, é o entusiasmo que preenche essa caixa oca chamada corpo humano. tento convencer-me de que ainda creio na existência do Onipotente. antes acreditei além-humanidade e meu ânimo se esvaiu. hoje minha existência considera-se banal. "jesus, maria eu vos amo: salvai almas" diz a criatura cada vez que passa diante de uma igreja, ainda condescendente com o jugo invisível que carrega dentro de si. o amor a deus, sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos é tudo o que não se cumpre. tantas trilhas percorridas e pensei em cada uma delas ter vivido o amor. nada vivi. talvez o amor seja como o vazio que, antes de sair, trancafiei no meu quarto temendo perdê-lo. esse vazio sou eu.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Editoras Cearenses - Propostas Editoriais de Publicação

Sandra Lima, incansável presidente da Câmara Cearense do Livro, entidade criada por Peter Rohl, teve a gentileza de me enviar uma lista de editoras cearenses cadastradas à entidade. Escolhi, dentre elas, trinta nomes com seus contatos telefônicos para que as pessoas que estejam com interesse de participar do Edital do Prêmio Literário para Autores(as) Cearenses possam conseguir suas Propostas Editoriais de Publicação. Alertamos os seguintes pontos:
1º - garantam que suas Propostas Editoriais de Publicação sejam bem detalhadas, conforme descrito no edital. Na hora do julgamento, faz diferença. Não se trata apenas de se ter um orçamento gráfico, o trabalho editorial deve estar inserido de forma a garantir uma publicação de qualidade. Escolham bem.

2º - Este espaço tem a pretensão de ser democrático. Nós estamos recebendo pelo e-mail raymundo.netto@uol.com.br sugestões de outras editoras ou editoras/gráficas aqui não listadas. Caso queiram enviar as sugestões, garantimos que as publicamos, assim como alterações de contatos e outros.
3º - As Editoras e/ou Editoras/Gráficas têm que apresentar a Declaração de Qualificação Técnica da UNIGRÁFICA (Anexo V). Isso é responsabilidade da editora. Se ela não puder oferecer, esqueça-a.

Fiquem à vontade.


ABC Editora e Gráfica – (85) 3264.3606
Aquarela Editora – (85) 3281.5457
Armazém da Cultura Editora – (85) 3224.9780
Arte Visual Gráfica e Editora - (85) 3281.8181
Cearense Gráfica e Editora – (85) 3260.7100
Cores Editora e Gráfica – 3254.4229
Edições Demócrito Rocha – (85) 3255.6270
Edições Livro Técnico - (85) 3433.9495
Editora IMEPH – (85) 3261.1002
Editora LITTERE - (85)3474.3333
Editora e Gráfica Aliança – (85) 3272.3990/3227.2486
Editora e Gráfica VT – (85) 3219.7473
Editora Orion - (85) 3223.3583
Expressão Gráfica e Editora – (85) 3464.2222
FortGráfica Editora e Gráfica – (85) 3254.3338
Grafam Gráfica e Editora América – (85) 3221.3300
IMPRECE Gráfica e Editora - (85) 3243.1726/4141.2342
Ipiranga Editora - (85) 3221.3377
La Barca Editora – (85) 3264.8028
LCR Gráfica e Editora - (85) 3272.7844/ 3272.6069
OMNI Editora - (85) 3247.6101
Newgraf Editora e Gráfica – (85) 3224.0471
Pounchain Ramos Gráfica e Editora – (85) 3231.3219
PREMIUS Editora - (85) 3281.5072
Quadricolor Gráfica e Editora – (85) 3254.5566
Qualigraf Editora e Gráfica – (85) 3232.2744
Raboni Editora e Gráfica – (85) 3251.3821
Tecnograf Gráfica e Editora - (85) 3274.0111
Tiprogresso Gráfica e Editora - (85) 3254.2727
Terra da Luz Editorial – (85) 3261.0525
Triunfo Gráfica e Editora – (85) 3254.1102
Tupynanquim (CORDÉIS) - (85) 3217.2891

Dúvidas do Edital do Prêmio Literário: (85) 3101.6794 (Tamyres/Secult)

"O Que me Contaram Sobre o Titanzinho", texto de Oswald Barroso para o AlmanaCULTURA


Foto: Oswald Barroso


Contaram-me que os moradores do Titanzinho darão graças a Deus quando o estaleiro der um fim à sua praia porque, sendo pobres e analfabetos, pouco estão ligando para a paisagem, embora ali o mar tenha peixes fartos e as melhores ondas para surfar de todo o Brasil. Pouco se importam também, disseram-me, que um paredão se instale entre eles e a praia, porque se pode passar muito bem sem jogar bola ou mesmo sem correr pela areia, tomar uma cerveja, olhar a lua, o pôr do sol, fazer qualquer coisa, desde que se tenha grana no bolso, emprego seguro, como promete um bom estaleiro. Contaram-me, inclusive, que eles concordam, até mesmo, em dissolver a comunidade se for necessário, empestada de funkeiros, ladrões e traficantes. Um estaleiro os livraria dos bandidos e vagabundos.

Em outra ocasião, deram-me o exemplo de um estaleiro que, chegando numa praia parecida com aquela, gerou emprego e renda, transformando de tal modo a vida do povo que muitos de seus habitantes, em pouco tempo, já possuíam carro e casa própria. Pareciam arautos de Deus, reunidos em uma assembléia do Olimpo, esses que falavam envergando paletós. Munidos de números e palavras técnicas, despejavam argumentos, demonstravam absoluta convicção no que diziam, embora alguns deles fossem ainda muito jovens. Como se tratava de grave questão e houvesse resistência, pois afinal não se condena todo dia uma praia com sua cultura ao desaparecimento, a maioria lavou as mãos e passou a responsabilidade aos técnicos. Caberia à ciência, essa nova religião, a palavra final. Os órgãos responsáveis pelo meio-ambiente dariam a palavra final. Assim estaria garantida a assepsia e a neutralidade da decisão, embora não estivessem esquecidas de todo as manchetes nos jornais dando conta de casos graves de corrupção comprometendo decisões e laudos técnicos dos citados órgãos.

No sábado fui visitar o Titanzinho. Ver para crer, ouvir com meus próprios ouvidos. Levei uma caderneta e uma máquina fotográfica. Voltei a ser repórter. Fui direto ao assunto. Anotei primeiro o que estava escrito em um muro de frente à praia. Tinha tudo a ver: “Contaram-me que os peixes não se importam de serem pescados, pois tem o sangue frio e não sentem dor. Mas não foi um peixe que me contou isso.” Havia um recital de poesia promovido pelo Grupo Chocalho com a participação de rappers locais. Alguns contaram em versos a história das lutas dos moradores para não serem despejados do Bairro Serviluz. Outro falou a propósito da ameaça da instalação do estaleiro na praia do Titanzinho: “Querem arrancar um pedaço do meu coração!”
As pessoas comentavam desconfiadas as promessas de emprego e renda advindas do estaleiro. Anotei uma fala: “- Quando construíram este porto aqui, com todas essas empresas, também prometeram emprego para o povo do bairro.” A propósito, o estaleiro citado acima, gerador de tantas maravilhas, fica em Pernambuco, em zona rural bem distante do Recife, local apropriado, portanto, longe dos centros urbanos, lugar bem diferente de um “santuário” da cultura praieira, como o Titanzinho.

Isso mesmo, o povo do Serviluz não abre mão de sua praia, foi o que lá me disseram. E eu digo: o Titanzinho é um patrimônio natural e cultural da cidade. É chão sagrado, é mar sagrado, onda de Tita Tavares e de outros Titãs. É patrimônio de Fortaleza. Nós não abrimos mão dele, nem por trinta bilhões, quanto mais por trinta tostões. Que as máquinas do dinheiro vão ranger noutro lugar.

terça-feira, 16 de março de 2010

Lançamento QUINTA-FEIRA de "A Estrutura Desmontada" (2ª edição), de F.S. Nascimento, na OBOÉ (18.3)

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Sobre a Obra: Segundo Fábio Lucas, escritor e crítico literário, F.S. Nascimento pretendeu, com A Estrutura Desmontada, proceder a uma organizada investigação de duas “novelas-reportagens” do autor Durval Aires: Os Amigos do Governador e Barra da Solidão. Além da pormenorizada avaliação estética dos processos narrativos de Durval Aires, F.S. Nascimento classifica os próprios critérios de análise literária e experimenta o seu alcance prático. Importantes se revelam os ensinamentos múltiplos sobre a arte da narrativa, além de constituir-se uma das boas contribuições à análise e à interpretação da narrativa no Brasil, ao combinar a serenidade da segurança cultural com o entusiasmo da criação da metalinguagem.

Sobre o autor: F.S. Nascimento é um dos maiores críticos literários cearenses e figura de destaque nacional. Foi diretor da Imprensa Universitária e da Divisão de Intercâmbio Cultural. Autor de vários livros, dentre os quais A Estrutura Desmontada (publicada, a primeira vez, em 1972, pela Imprensa Universitária da UFC), Quadrilátero da Seca (1988) e Três Momentos da Ficção Menor (1981), dentre outros.

Sobre a Coleção Nossa Cultura: É um estímulo do Governo do Estado do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura em coedição com a Universidade Federal do Ceará/UFC, no sentido de configurar uma política do livro que atenda à descoberta, ao registro e à renovação de nosso patrimônio cultural, além do fomento de acervos para o Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas.


A Coleção é dividida em séries: “Luz do Ceará”, “Memória”, “Panorama Nacional” e “Biblioteca Bolivariana”, que destacam aspectos como a contribuição relevante de autores cearenses na área de criação e reflexão, a recuperação documental e patrimonial de nosso acervo literário para o resgate essencial da expressão cultural do povo cearense e a formação mestiça da cultura ibero-americana.



Compareça e divulgue para sua lista de amigos.

domingo, 14 de março de 2010

Nippon Store, o Sushi de Verdade!

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Meus amigos (as),

Ontem, viciado em sushi que sou, conheci uma novo Sushi-Bar em Fortaleza, a Nippon Store. Soube que foi inaugurado, em fevereiro, no primeiro shopping center da cidade, o famoso Center Um (na década de 70, os pais levavam os filhos para verem o filhotinho de elefante que o Jumbo, supermercado inaugurado no local, usava como atração).

Gostei muito do atendimento, do local e da variedade de sushis que encontrei. Gostei ainda mais da proposta da casa de oferecer aos clientes, conhecedores da arte, peças com tempero originariamente japonês (com tantas casas do ramo em Fortaleza, os sushis oferecidos por aí estão virando "misturebas genéricas"). Aliás, soube também que a sra. Neusa Sumire, pioneira nesta modalidade gastronômica (formou dezenas de sushi-man em todo o Ceará) na cidade, é a responsável pelo desenvolvimento dos sushis da casa. Muito bom!

A Nippon Store é adequado para almoço, jantar de negócios e o famoso happy-Hour de colegas de trabalho. E para os amantes da cultura japonesa, além de degustar os pratos (gastronômicos, veja bem...), o cliente aprecia e adquire produtos importados ornamentais e de culinária por preços bem atrativos.

E, para incentivar meus amigos artistas, escritores e jornalistas, dois pontos:

1. A Nippon está com oferta inaugural, por tempo limitado, de R$ 1,00 por peça. A escolha é nossa.

2. Encontra-se entre duas livrarias: Café & Letras (o capuccino de lá é uma delícia) e a Oboé (a de escritores cearenses, lembra?).

É isso, o AlmanaCULTURA também come! Que sabe a gente não se vê por lá?

Nippon Store - Sushi Bar

Av. Santos Dumont, 3130, loja 208 (Piso superior), Center Um

Aberta de segunda à sábado, almoço e jantar

Contatos: (85) 3224-7083/ (85) 8681-5421

E-mail: nippon.store@hotmail.com

"Ler o Mundo", de Affonso Romano de Sant'Anna

ARS


Tudo é leitura. Tudo é decifração. Ou não.
Ou não, porque nem sempre deciframos os sinais à nossa frente. Ainda agora os jornais estão repetindo, a propósito das recentes eleições, “que é preciso entender o recado das urnas”. Ou seja: as urnas falam, emitem mensagens. Cartola - o sambista- dizia “as rosas não falam, as rosas apenas exalam o perfume que roubam de ti”. Perfumes falam. E as urnas exalaram um cheiro estranho. O presidente diz que seu partido precisa tomar banho de “cheiro de povo”. E enquanto repousava nesses feriados e tomava banho em nossas águas, ele tirou várias fotos com cheiro de povo.

Paixão de ler. Ler a paixão.
Como ler a paixão se a paixão é quem nos lê? Sim, a paixão é quando nossos inconscientes pergaminhos sofrem um desletrado terremoto. Na paixão somos lidos à nossa revelia .
O corpo é um texto. Há que saber interpretá-lo. Alguns corpos, no entanto, vêm em forma de hieroglifo, dificílimos. Ou, a incompetência é nossa, iletrados diante deles?

Quantas são as letras do alfabeto do corpo amado? Como soletrá-lo? Como sabê-lo na ponta da língua? Tem 24 letras? Quantas letras estranhas, estrangeiras nesse corpo? Como achar o ponto G na cartilha de um corpo? Quantas novas letras podem ser incorporadas nesta interminável e amorosa alfabetização? Movido pelo amor, pela paixão pode o corpo falar idiomas que antes desconhecia.

O médico até que se parece com o amante. Ele também lê o corpo. Vem daí a semiologia. Ciência da leitura dos sinais. Dos sintomas. Daí partiu Freud, para ler o interior, o invisível texto estampado no inconsciente. Então, os lacanianos todos se deliciaram jogando com as letras - a letra do corpo, o corpo da letra.

Diz-se que Marx pretendeu ler o inconsciente da história e descobrir os mecanismos que nela estavam escritos/inscritos. Portanto, um economista também lê a sociedade. Os empresários e executivos, por sua vez, se acostumaram a falar de "qualidade total". Mas seria mais apropriado falar de "leitura total". Só uma leitura não parcial, não esquizofrênica do real pode nos ajudar na produtividade dos significados. Por isto, é legítimo e instigante falar não apenas de uma "leitura da economia", mas de algo novo e provocador: a "economia da leitura".

Não é só quem lê um livro, que lê.
Um paisagista lê a vida de maneira florida e sombreada. Fazer um jardim é reler o mundo, reordenar o texto natural. A paisagem, digamos, pode ter "sotaque", assim como tem sabor e cheiro. Por isto se fala de um jardim italiano, de um jardim francês, de um jardim inglês. E quando os jardineiros barrocos instalavam assombrosas grutas e jorros d’água entre seus canteiros estavam saudando as elipses do mistério nos extremos que são a pedra e a água, o movimento e a eternidade.

O urbanista e o arquiteto igualmente escrevem, melhor dito, inscrevem, um texto na prancheta da realidade. Traçados de avenidas podem ser absolutistas, militaristas, e o risco das ruas pode ser democrático dando expressividade às comunidades.
Tudo é texto. Tudo é narração.

O astrônomo lê o céu, lê a epopeia das estrelas. Ora, direis, ouvir & ler estrelas. Que estórias sublimes, suculentas, na Via Láctea. O físico lê o caos. Que epopéias o geógrafo lê nas camadas acumuladas num simples terreno. Um desfile de carnaval, por exemplo, é um texto. Por isto se fala de “samba enredo”. Enredo além da história pátria referida. A disposição das alas, as fantasias, a bateria, a comissão de frente são formas narrativas.

Uma partida de futebol é uma forma narrativa. Saber ler uma partida - este o mérito do locutor esportivo, na verdade, um leitor esportivo. Ele, como o técnico, vê coisas no texto em jogo, que só depois de lidas por ele, por nós são percebidas. Ler, então, é um jogo. Uma disputa, uma conquista de significados entre o texto e o leitor.

Paulinho da Viola dizia: "As coisas estão no mundo eu é que preciso aprender”. Um arqueólogo lê nas ruínas a história antiga.
Não é só Scheherazade que conta estórias. Um espetáculo de dança é narração. Uma exposição de artes plásticas é narração. Tudo é narração. Até o quadro “Branco sobre o branco” de Malevich conta uma estória.

Aparentemente ler jornal é coisa simples. Não é. A forma como o jornal é feita, a diagramação, a escolha dos títulos, das fotos e ilustrações são já um discurso. E sobre isto se poderia aplicar o que Umberto Eco disse sobre o “Finnegans Wake” de James Joyce: “o primeiro discurso que uma obra faz o faz através da forma como é feita”.

Estamos com vários problemas de leitura hoje. Construimos sofisticadíssimos aparelhos que sabem ler. Eles nos lêem. Nos lêem, às vezes, melhor que nós mesmos. E mais: nós é que não os sabemos ler. Isto se dá não apenas com os objetos eletrônicos em casa ou com os aparelhos capazes de dizer há quantos milhões de anos viveu certa bactéria. Situação paradoxal: não sabemos ler os aparelhos que nos lêem. Analfabetismo tecnológico.

A gente vive falando mal do analfabeto. Mas o analfabeto também lê o mundo. Às vezes, sabiamente. Em nossa arrogância o desclassificamos . Mas Levi-Strauss ousou dizer que algumas sociedades iletradas eram ética e esteticamente muito sofisticadas. E penso que analfabeto é também aquele que a sociedade letrada refugou. De resto, hoje na sociedade eletrônica, quem não é de algum modo analfabeto?

Vi na fazenda de um amigo aparelhos eletrônicos, que ao tirarem leite da vaca, são capazes de ler tudo sobre a qualidade do leite, da vaca , e até (imagino) lerem o pensamento de quem está assistindo à cena. Aparelhos sofisticadíssimos lêem o mundo e nos dão recados. A camada de ozônio está berrando um S.O.S., mas os chefes de governo, acovardados, tapam (economicamente) o ouvido. A natureza está dizendo que a água, além de infecta, está acabando. Lemos a notícia e postergamos a tragédia para nossos netos.

É preciso ler, interpretar e fazer alguma coisa com a interpretação. Feiticeiros e profetas liam mensagens nas vísceras dos animais sacrificados e paredes dos palácios. Cartomantes lêem no baralho, copo d’água, búzios.Tudo é leitura. Tudo é decifração.
Ler é uma forma de escrever com mão alheia.

Minha vida daria um romance? Daria, se bem contado. Bem escrevê-lo são artes da narração. Mas só escreve bem, quem ao escrever sobre si mesmo, lê o mundo também.



A Crônica "Ler o Mundo" de Afonso Romano de Sant'Anna (em 2010, completa-se 30 anos da publicação do poema "Que País é Este?") é a introdução do livro "Ler o Mundo" que, em breve, será lançado pela editora Global.
E se quiser saber mais ou conhecer o autor, não perca
IX Bienal Internacional do Livro do Ceará

"A Bala que Matou Marcela", desabafo de Lira Neto



Marcela Montenegro em foto ao Diário do Nordeste

Eu não conhecia a empresária Marcela Montenegro. Mas sei muito bem quem é o autor do disparo que a atingiu: a nossa indiferença cotidiana. Isso mesmo. É exatamente isso o que você leu: quem atirou em Marcela foi nossa estupidez e nossa omissão. Todos nós somos os seus algozes.As coisas sempre estiveram aí, debaixo de nosso focinho, e sempre teimamos em não querer olhar para elas. Porém, quando a tragédia se instala de forma tão violenta e em um cenário tão próximo a nós, ficamos estarrecidos, quedamos desesperados, exercitamos uma tardia mistura de medo, desconsolo e indignação. Tudo porque se esgarçou o ilusório cordão de isolamento que parecia separar nosso paraíso refrigerado do abrasador inferno das ruas. Agora sabemos. Ninguém está imune. A peste está solta.


Até então, era como se o barril de pólvora no qual vivemos sentados não fosse de nossa conta. Mas quando a bala perversa atinge a cabeça de um de nós - ou alguém que bem poderia ter sido um de nós -, só assim despertamos de nosso sono letárgico de classe média deslumbrada e clamamos por providências contra a barbárie. É claro que as autoridades do setor de segurança precisam ser chamadas, com todo o rigor, à razão. Cabe a elas reprimir o faroeste caboclo, explicar como uma zona da cidade reconhecidamente dominada por assaltantes sempre permaneceu assim, entregue ao império da pedrada, do tijolaço e da bala. Mas também é mais do que oportuno, e se torna dolorosamente necessário, refletir sobre a parcela de responsabilidade que nos cabe, pacatos cidadãos, a respeito de um episódio tão hediondo.


Aprendemos a rir, de modo confortável e sem culpas, do programa policialesco de televisão que faz piada da violência que grassa em nossas periferias. Fechamos os olhos para as ocupações irregulares de terrenos que, por falta de um ordenamento urbano mais consistente, pululam na cidade e se tornam semeadouros de conflitos. Deixamos placidamente que nossas meninas se prostituam, de modo sórdido, por alguns míseros trocados ou pelo sonho de desposar um príncipe louro, nos inferninhos da Praia de Iracema. Permitimos, sem dar um único pio, que se instale o vale-tudo, que valha a lei do mais tosco, que a falta de urbanidade seja a regra geral em nossa anestesiada coexistência. Diante de tudo aquilo que fere e incomoda a coletividade, tapamos o nariz, silenciamos a voz, levantamos o vidro fumê do carro, fazemos ouvidos moucos.


Como os macaquinhos que se acham muito sábios mas que apenas permanecem sentados sobre os próprios rabos, não ouvimos, não vemos, não falamos. Na verdade, compactuamos com o descalabro. Somos os cúmplices da iniquidade.


Uma querida amiga jornalista, por e-mail, ao comentar o crime contra Marcela Montenegro, lamenta que, enquanto isso, ao passo em que a brutal violência coleciona mais uma vítima na cidade, o governador e a prefeita continuem a brigar pela supostamente bizantina questão de um estaleiro. Pois daqui respondo, cara amiga, caros leitores: é bom que prefeita e governador discutam mesmo. E é imprescindível que entremos e coloquemos cada vez mais o dedo e ainda mais lenha nessa briga. Não apenas para produzir aquele tipo de fogo que gera fagulha e calor, mas também para produzir a chama que traz a luz.


O debate em torno do tal estaleiro, querida amiga, caros leitores, nada tem de bizantino.É exatamente por nos esquivarmos de discutir coisas assim, como a proposição de um gigantesco estaleiro na orla urbana da cidade, que chegamos ao ponto onde estamos. Aqui, fique-se claro, não vai nenhuma puxada de sardinha para a brasa de qualquer um dos lados partidários ora em contenda. Não falo - e nunca falarei - de política no varejo. Desde a juventude, sou alérgico a partidos políticos. Falo, isso sim, de uma noção maior de política, falo a respeito de qual projeto de cidade afinal de contas desejamos e estamos erigindo para nós mesmos e para nossos filhos.Tão esdrúxula quanto a ideia de um empreendimento industrial gigantesco fincado no litoral urbano é a instalação de um jardim japonês encravado na Beira-Mar. O segundo pode até aparentar ser menos polêmico ou menos nocivo do ponto de vista social, econômico, ecológico, paisagístico, urbanístico ou, sei lá, estético do que o primeiro. Mas creio que, ambos, estaleiro e jardim japonês, em maior ou menor escala, são igualmente reveladores de nossos tantos equívocos. Não há, pelo menos ao que eu saiba, uma colônia japonesa constituída em Fortaleza. Qual então o significado daquele monstrengo pretensamente zen plantado em um dos últimos espaços de convivência da cidade? Aquilo não passa de mais uma das tais belas ideias fora do lugar, outra aberração urbana, outro alienígena que pousou na cidade e por ali foi ficando, debaixo da complacência bovina de todos nós.


O que, afinal de contas, isso tem a ver com o tiro que acertou Marcela? - indagará por certo o leitor que teima em buscar compreender os efeitos sem descer ao desvão das causas. Tem tudo a ver, insisto. Não estamos apenas entregando a cidade aos malfeitores, aos turistas sexuais, aos arautos da bagunça, aos políticos talvez bem intencionados que, por serem incompetentes, provavelmente lotarão a ante-sala do inferno.


Nós, também, somos perigosamente belicosos. Cada vez que estacionamos o carro sobre a calçada, tornamo-nos mais selvagens. Cada vez que mudamos de faixa no trânsito sem ligar a sinaleira, contribuímos com a desordem geral. Cada vez que paramos em fila dupla na frente da escola à hora de pegar o pimpolho na saída da aula, reproduzimos a lógica de uma terra sem delicadeza e sem lei.


Gentileza gera gentileza, pregava o profeta carioca das ruas. Ao contrário dele, somos habituais fomentadores da grosseria, da falta de educação, da omissão, do oportunismo calhorda. Se não puxamos pessoalmente o gatilho na direção da cabeça de uma inocente, por vezes nos pegamos fazendo coisa tão nefasta quanto. Estamos matando, pouco a pouco, por sufocamento, uma cidade inteira. Acordemos enquanto é tempo. Fortaleza pede socorro. Barbárie gera barbárie.


PS: Sei que corro o risco de algum parlamentar indecente brandir este texto no plenário da Câmara ou da Assembléia como panfleto político contra fulana ou beltrano. De antemão, repudio-lhe o gesto, Excelência. O senhor sabe bem o tamanho da carapuça que lhe cabe.

(Texto publicado em 12 de março de 2010, no jornal Diário do Nordeste, de Fortaleza)

sexta-feira, 12 de março de 2010

"O Livro e a Leitura dos Sentimentos do Mundo", crônica de Raymundo Netto para O POVO


http://www.noolhar.com/opovo/vidaearte/961510.html

O escritor, seja ele quem for, é sempre um triste. Ser triste não é tão ruim se tivermos como premissa que os felizes são aqueles que não escrevem, o que deveria deixá-los tristes, mas nós sabemos que isso não acontece, pois tristes, tristes mesmos, somente nós, os que escrevem, porque a tristeza, assim como a saudade, fazem com que a gente se encontre... enfim!
Estava em meio ao vuco-vuco agitado do aguardado lançamento da 9ª edição da Bienal Internacional do Livro do Ceará, o terceiro maior evento literário do país, quando, em meio à multidão, uma confusão inesperou-se. Corri.

Os jornalistas e outros curiosos — como eu, admito — estavam entupindo a entrada do teatro Dragão do Mar. Duas figuras estranhas — ou nem tanto — subiam lentamente pela escadaria. À frente, uma muito branca, de pele e de sorriso, sacudia as madeixas negras e batia as mãos em seu vestidinho de passeio branco estampado em flores coloridas que desabrochavam, cercadas por borboletas, no tecido, enquanto, logo atrás, suando pelas bicas, um senhor de cabelos branco-nuvem, encimados por uma cartolinha, e de óculos quadrados escorrendo pelo nariz, arrastava uma canastra vermelha e outra cor de café, ao som da vozinha impaciente:
— Vamos logo, VisconDídimo, deixe de moleza que eu não posso perder o lançamento dessa Bienal! Homessa, homem!
O pobre sabugo ao deitar a bagagem, finalmente, sentou-se esbaforido e pôs-se a contestar, enxugando-se todo com um lenço:
— Mas, EmiliAcioli, eu avisei... que vir assim..., carregando essas canastras nas costas... seria de uma história... cascuda... Ufa!
— E você acha que eu perderia a chance de escrever e divulgar o meu livro de memórias aqui, seu sabugo de uma figa? Aprendi: quando tenho uma intuição para escrever algo que "vem", é porque precisa ser escrito mesmo! Por que, para quem e como? Isso é o que eu nunca fico sabendo... Aliás, como meu "secretário", quem vai escrever mesmo é você, viu? Eu escrevo maaaais é na minha cabeça e você é quem vai botar esses seus dedos pequenos e gordinhos para trabalhar... E para meu livro, veja bem, eu exijo um papel cor de céu com todas as suas estrelinhas... — exultava a boneca a sacudir os braços de macela dramaticamente diante da espontânea plateia.
— E tinta cor do mar com todos os seus peixinhos... — completou, irônico, o pobre VisconDídimo ao prever nova confusão. — Essa não, dona EmiliAcioli, vamos fazer suas memórias de um jeito diferente desta vez, por favor!
— Ah, é para fazer diferente, é? Então, comece: coloque no papel seis pontos de exclamação!
— Mas, mas... o que isso significa?
— Significa que tenho muitas certezas, pelo menos umas seis... Você sabia, por acaso, que a Rachel de Queiroz, a minha Rachelzinha, vai ser a grande homenageada nesta Bienal? Pois eu tenho é a certeza que ela vai estar por lá. Eu lembro quando eu, a Flora e o Raul a encontramos na Casa do Pici, deitadinha de barriga no chão de tijolos, escrevendo seu primeiro livro: “O Doze”. Mas, depois que nós três chegamos virou “O Quinze”. — soltou uma risadinha disfarçada pela mão — E como foi difícil chegar na casa dela, viu? Pegamos um trem, descemos num asilo e andamos, andamos, andamos taaaanto que precisamos pegar o avião do “seu” Odacir para chegar lá. Tivemos até que pousar em cima dos benjamins que guardavam a casa, acredita?

— Difícil acreditar, Marquesa... — confessou o sábio retirando do bolso da sobrecasaca uns anõezinhos verdes. — “As doces meninas de outrora/ amanheceram/ vestiram os vestidos novos/ pintaram as unhas de vermelho/ por um instante resplandeceram/ depois baixaram as cabecinhas louras/ e envelheceram como as flores.”

— Ora, VisconDídimo, e a verdade não é apenas uma mentira bem pregada? Eu morro é de rir quando vejo o povo dizer que acha lindo ser escritor, que é uma vida fácil, que o escritor recebe uma “iluminação”, começa a escrever e termina tudo pronto e limpinho... Que nada! É trabalho, trabalho, trabalho... Vamos, VisconDídimo, anda... ou melhor: escreva!

— “Capítulo I: !!!!!!”, está bom assim, dona escritora? — escreveu, no capricho.
A bonequinha sacou uma lupa enorme — sem lente — do laço de fita na cintura e aproximou-se, posuda, da folha. Conferiu se eram mesmo seis — não poderia ser cinco nem sete — e lembrou: “Se podes olhar, vês!”. Sim, VisconDídimo, é uma começo exclamante!!! Exclamar lembra coisas alegres. Tristezas para o lado de lá...

— “Triste não é saber que não há/nem que não haverá/ triste é saber que nunca houve/ e que agora para todo o nunca/ choraremos.”

— Eita, minha Ângela do Céu, que você hoje está parecendo um passarinho carrancudo... Deixe de moleza e escreva: Espaço “Não me Deixes”...
— “Não me Deixes”? Que nome lindo... Que tipo de espaço é esse, boneca?
— É um local da Bienal feito para acolher os projetos e grupos que mantêm viva vivíssima a literatura, todos os dias, no Ceará. É uma homenagem dos cearenses à Rachel, no cantinho que lhe era o melhor do mundo, e um reconhecimento ao trabalho incansável, e muitas vezes anônimo, de artistas locais, tipo: Literatura de Lua, Templo da Poesia, Poemas Violados, Concerto ÚMnico de Poetas Independentes, Zona Poética Liberada, Grupo Chocalho, Abraço Literário, Bazar das Letras do SESC, projeto “Ouvi Dizer” do Banco do Nordeste, Clube do Bode, Associação Cearense de Escritores, Academias de Letras, Quintais Poéticos, Ideal Clube, Caixeiro Viajante e outros tantos. Vai estar todo um mundo de sentimentos por lá!

VisconDídimo chegou até a achar graça do jeito contente da boneca que rodopiava enquanto tagarelava sem parar:
— Tem também a certeza da comemoração na Bienal, no dia 13 de abril, do aniversário de Fortaleza, lourinha desmiolada de sol, e da presença de seus memorialistas, cronistas, contistas e historiadores revelando seus amores pela cidade.
— O amor é uma palavra que muda de cor... — filosofava o sabugo com todo jeitão sereno de vovô criador de histórias para nove netos.
— Já pensou, VisconDídimo, o meu livro de memórias em meio a todos aqueles livros? Mais de quarenta mil criancinhas, que já estão agendadas na visitação escolar, folheando-o e comprando-o com as Notinhas Legais... Todas vão me ler, já pensou?... E eu nem vou precisar usar o Pirlimpimpim!
— Que memórias? Mas que memórias, EmiliAcioli? Desse jeito não terminaremos esse livro nunca! Ademais, prefiro assistir ao Thiago de Melo, Cony, Nicolas Behr, Ana Miranda, Nelson Motta, Marlui Miranda, Afonso Romano de Sant'Anna, aos cordelistas, ao Fórum, aos lançamentos no Café Literário, ao seminário de Centenário da Rachel e o de Democracia, Cultura e Socialismo na América Latina e Caribe...
— Chega! Chega! — interrompeu, impaciente, a sabedicência do sabuguinho também entusiasmado. — Cada qual com seu cada qual, seu cara de coruja seca! — exclamou, remetendo ao VisconDídimo um palmo de língua de trapo.
O “secretário”, incomodado com a noite que se ia, recompôs-se e arrematou:
— E para terminar, EmiliAcioli, o que faremos?
A boneca, recebendo um saco de pipocas do João, deixou brilhar os botões dos olhos:
— Para terminar, no dia 18, último dia do evento, Dia Nacional do Livro Infantil, e aniversário do tio Juca, toda a Bienal se voltará para as crianças com contação de histórias, presença de autores infantis locais e nacionais, brincadeiras, peças, shows, animações e lançamentos de livrinhos... Vai ser um domingo de festa com direito a Maurício de Souza, Marina Colasanti e Pedro Bandeira! Não é demais?
— O que eu queria saber, sua maluquinha, é o que faremos para terminar as suas memórias? Tenho mais o que fazer, ora, ora, dona Quixotinha!

Desconcertada com o fora, EmiliAcioli, para disfarçar, abriu sua canastra de onde partiram borboletas de fevereiro, peixinhos de pedra, bailarinas fantasmas e pôs-se a pensar que, ao invés do sabuguinho, deveria ter pedido ajuda à Cristina, sua melhor amiga desde os dois anos de idade. Toda melada de apple crumble e chá verde com baunilha, encontrou uma pena de pato com todos os seus patinhos, e com ela deitou um gordo e absoluto ponto final no papel já surrado.
— Ponto e pronto. Satisfeito, sabichão?
— Claro, “daqui a cem anos/ todos os nossos problemas/ nos terão resolvido”.

Assim, os dois deram os braços e desceram a escadaria seguidos pelos flashes das câmaras e pelo Mestre Jabuti que, em entrevista em cadeia nacional, anunciou também a sua presença na Bienal, cujo tema é “O Livro e a Leitura dos Sentimentos do Mundo”.

E para aqueles que não gostaram desta crônica, digo apenas, num lampejo lobatiano: pílulas! Tenho dito: vamos todos à maior festa popular do livro, da leitura e da literatura do Ceará!

Socorro Acioli (1975) é escritora, jornalista e mestre em Literatura Brasileira. Autora de Bia Que Tanto Lia, É Pra Ler ou Pra Comer?, A Casa dos Benjamins, O Peixinho de Pedra, O Anjo do Lago, Tempo de Caju e outros. Algumas falas do texto são transcritas ou adaptadas de entrevistas ou do livro Memórias de Emília, de Monteiro Lobato.

Horácio Dídimo é poeta, ficcionista e ensaísta. Membro da Academia Cearense de Letras é formado em Direito e Letras, mestre em Literatura Brasileira (UFPB) e doutor em Literatura Comparada (UFMG). Autor de Tempo de Chuva, Tijolo de Barro, Passarinho Carrancudo, Historinhas do Mestre Jabuti, Historinhas Cascudas e outros, é um dos mais respeitados e admirados no Ceará. Algumas de suas falas são transcrições de seus versos.

Raymundo Netto autor de alguns livros infantis, nenhum para venda nem demonstração, tipo coisa de sonho, por assim dizer. Contato: raymundo.netto@uol.com.br/ blogue: http://raymundo-netto.blogspot.com (AlmanaCULTURA)

sábado, 6 de março de 2010

"Bibliófilos em Fortaleza", crônica de Ana Miranda para O POVO (5.3.2010)

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José Mindlin, o querido José, mudou-se. Da casa ampla no Brooklin Paulista, cujos jardins e salas deram lugar a fabulosas bibliotecas, ele foi para os locais sagrados onde vivem os livros. Sua alma bateu asas de nosso mundo, foi-se para o reino infinito das páginas e letrinhas. O coração de quem o conheceu se aperta mais e marejam os olhos em saudades. Mas ele deve estar ainda mais alegre, meigo, amigo, benfazejo, vivendo onde sempre viveu. Pessoa realmente adorável, em sua afabilidade, cumprimentava todos, e tinha uma especial atenção para com aqueles que parecem invisíveis nos seus singelos ofícios. Sabia fazer uns ovos mexidos maravilhosos, e pouco ligava para as formalidades. Era tão espirituoso... Certa vez recebeu carta de um amigo sugerindo que escrevesse um livro de memórias, dando até um alinhavo do livro. No dia seguinte, Mindlin apresentou-lhe volumosos originais que correspondiam ao livro idealizado, dizendo-lhe que passara a noite e a manhã escrevendo, para pasmo do seu conselheiro. Só depois revelou que havia anos se debruçava sobre os originais, seu comovente depoimento intitulado "Uma vida entre livros".


O sentimento que ele nutria pelos livros era cristalino, e ele nos transmitia aquela carícia, aquele enlevo, pondo em nossas mãos algo que parecia retirar de um nebuloso reino onde o tempo não impera. Ainda menino tornou-se um apaixonado "encontrador" de livros, dotado de um sentido quase sobrenatural para esquadrinhar ou reconhecer cada exemplar. Demorava às vezes anos e anos à procura de um livro e, quando o achava, seu coração "batia mais forte".


Cada um de seus livros tem uma história de sonho, garimpagem, encontro, desencontro, reencontro... "A gente procura o livro, e o livro procura a gente". Viajava pelo mundo no rastro de algum incunábulo, mantinha uma rede de comunicação em busca de certos exemplares, fazia sacrifícios de todo tipo, para conseguir um volume precioso. A sua seção de livros raros é de tirar a respiração até de um leigo. Todo esse trabalho ele realizava com a alegria de uma criança brincando de esconde-esconde, desde quando, aos sete anos, saía pelas livrarias em busca de obras infantis. Ainda menino de calças curtas, comprou seu primeiro livro raro, um "Bossuet marronzinho, pequeno assim".


Conseguiu reunir ao longo da vida um tesouro incalculável, contido em cerca de trinta mil obras, sendo dez mil raras, duas mil raríssimas, entre edições princeps, manuscritos, pergaminhos, livros de viagens, aquarelados, litografados, dedicados, cartas históricas, edições requintadas... uma verdadeira arca de Noé que deixa de herança a todos nós, pois a maior parte será transformada em biblioteca universitária. Mindlin adorava mostrar seus livros. Com extrema sensibilidade escolhia nos apresentar aqueles que sabia terem mais laços com nossa alma.


Na primeira visita que lhe fiz ele trouxe um manuscrito de padre Vieira que me fez estremecer, num misto de sentimentos. Mindlin era acima de tudo um leitor; os livros lhe serviam mais para a libertação do espírito. Como fala o poema de Emily Dickinson, que ele sabia declamar, como sabia declamar tantos outros, e que ele mesmo traduziu, e traduziu apenas dois poemas: Sorveu palavras preciosas, Sentiu seu ânimo mais forte; Esqueceu-se de que era pobre, E que era apenas pó. Dançou em dias sombrios, E essa conquista de asas lhe veio apenas de um livro. Que liberdade traz um espírito sem peias!


Bibliófilos são os que amam, pesquisam e conservam livros raros; eles formam uma confraria universal de muita coesão, cujos membros se apoiam mutuamente na busca de alguma raridade. Sua sociedade nacional tem sede aqui em Fortaleza, e foi através de José Mindlin que se deu a minha aproximação do bibliófilo que preside essa associação. Trata-se de outro José, o Augusto Bezerra, também pessoa admirável, a mesma meiguice e pertinácia, o mesmo amor extremado pelos documentos e livros.


Mindlin admirava muito nosso bibliófilo, sobre sua coleção fazia os mais sinceros elogios, lisonjeando o colega cearense. A coleção reunida por Bezerra é extraordinária. Ele possui, por exemplo, manuscritos de Vieira e cartas de Pero Vaz de Caminha. Constam ali preciosidades literárias, como todas as primeiras edições de Alencar. Tão zeloso e apaixonado, foi a ele que Rachel de Queiroz legou seu acervo, tanto livros, como fotos, cartas, objetos, manuscritos, o que tinha a preservar. Como dizia José Mindlin, para alguns seria impossível viver num mundo sem livros.


ANA MIRANDA é autora de Boca do Inferno, Desmundo, Dias & Dias, Yuxin, entre outros romances, editados pela Companhia das Letras. amliteratura@hotmail.com.